ÍNDICE
ÍNDICE ......................................................................................................................... 1
1. Introdução................................................................................................................... 2
1.1 A proposta................................................................................................................. 2
1.2 A negociação............................................................................................................. 3
2. A caminhada ............................................................................................................... 6
2.1. O que torna interessante a história de um grupo........................................................ 6
2.2 Os primeiros passos................................................................................................... 7
2.3. A emergência do EI como um espaço afectivo e informal de encontros. ................... 8
2.4 A estruturação de um sentido de identidade............................................................... 9
2.5 A transformação numa comunidade colaborativa de aprendentes............................. 10
2.6. Uma nova relação com o Movimento de Águeda.................................................... 10
2.7 E hoje? .................................................................................................................... 11
3. Metodologia.............................................................................................................. 12
3.1. Razões para o relevo que é dado a este capítulo...................................................... 12
3.2 Uma abordagem metodológica polémica?................................................................ 13
3.3 Razões de circunstância para uma opção metodológica............................................ 15
3.4 Alguns pressupostos e suas implicações .................................................................. 18
3.5 Metodologia Geral................................................................................................... 23
3.6 Passos metodológicos e metodologias específicas utilizadas. ................................... 25
As rodas........................................................................................................................ 27
As histórias de vida....................................................................................................... 28
As monografias ............................................................................................................. 29
A análise documental .................................................................................................... 29
As entrevistas................................................................................................................ 30
4. Consideração finais ................................................................................................... 32
5. Bibliografia ............................................................................................................... 34
1. Introdução
1.1 A proposta
Elaborado, na sua versão final, em Dezembro de 1998, o Projecto Transnacional E I foienviado pela Fundação Bernard van Leer em Janeiro de 1999 ao Movimento de Águeda,
através da Bela Vista-Centro de Educação Integrada, vulgo “Bela Vista”
Proposta de «estudo aprofundado e contextualizado (...) de programas reconhecidos por
serem efectivos», o projecto explicitava, de forma clara, os propósitos da pesquisa. Muito
em síntese:
• Genericamente, percepcionar como se alcança a efectividade tendo em vista,
nomeadamente, «a identificação de indicadores que ajudem, no futuro, os decisores a
compreenderem os requisitos de um programa que tenha um impacto positivo na vida das
crianças».
• Especificamente:
- identificar dimensões que levem à efectividade;
- partilhar resultados;
- desenvolver e testar uma metodologia que ajude a posteriores escolhas e opções.
Tomando-se por objecto uma dezena de programas, apoiados por distintos financiadores,
não pretendia o E I uma mera comparação de abordagens. Sim, a construção de um
pensamento estratégico sobre processos geradores de condições de efectividade nos
Programas de Desenvolvimento da Infância, procurando-se, nos vários projectos
seleccionados, dimensões de efectividade. Como explicitamente se dizia «não é nossa
intenção realizar um exercício que tão somente restabeleça a validade relativa de
diferentes abordagens, nem chegar a uma hierarquia na qual se identifiquem as
abordagens melhores ou as mais efectivas»
Dito de outra forma, não se queria a simples caracterização do diverso mas potenciar a
diversidade para uma melhor conceptualização do que é a efectividade e dos processos
que a ela podem conduzir. É nesta ordem de preocupações, de potenciação da
diversidade, que se insere a opção por projectos de doadores distintos e de regiões
geográficas tão diversas.
Devendo trazer, necessariamente, a qualificação, o aprofundamento das reflexões
estratégicas dos vários países envolvidos e contribuir, também necessariamente, para o
melhor conhecimento de cada um desses projectos, o que estava de facto em causa era a
produção e estruturação de conhecimento no domínio da efectividade (donde o facto de
alguns dos projectos seleccionados já terem terminado).
O propósito global da investigação seria atingido por recurso a equipas constituídas a
partir das equipas que conduziram ou conduziam os programas seleccionados, equipas
enquadradas metodológica e organicamente por uma coordenação da responsabilidade da
Fundação van Leer, - a entidade financiadora da investigação - a qual contaria com um
significativo leque de especialistas e consultores.
O pleno envolvimento das equipas em cada país pressupunha, naturalmente, que se
apropriassem das expectativas que subjazem à investigação, identificando-se com os seus
propósitos, condição indispensável ao desenvolvimento de uma pesquisa que teria de
decorrer em condições e tempos de grande autonomia.
Tal apropriação e, em particular, a possibilidade de identificação com os propósitos da
investigação, vai exigir um processo negocial que se admite prolongado.
1.2 A negociação
Tendo em vista, precisamente, esta negociação com o Movimento de Águeda, deslocou-sea Portugal, em Abril 1999, Judith Evans, da Fundação van Leer. Acompanhava-a Ana
Santos, da Fundação Aga kan, a entidade que financiara Águeda e que apadrinhara a sua
selecção para o E I. Agostinho Mamade do CFP de Moçambique e Rui d’ Espiney do
ICE integravam, como convidados, a delegação.
Entremeadas por visitas a iniciativas em curso animados pelo Movimento de Águeda, a
apresentação do EI fez-se, ao longo de três dias, a um grupo de 8 pessoas, ligadas a essas
iniciativas e convidadas a partir do papel que foram tendo no desenvolvimento do
processo que decorria desde 1975, grupo onde se incluía Rosinha Madeira, coordenadora
e, até então, esteio do Movimento. Não instituído, o Movimento de Águeda não dispunha
de uma equipa estruturada e permanente em funcionamento, existindo de facto através de
uma teia de relações informais que alimentava os focos de intervenção a que ia dando
vida...e foi a essa teia que o projecto se propôs.
Deste facto resultava, desde logo, uma primeira consequência previsível. A negociação
com o grupo era necessariamente, também ou fundamentalmente, uma negociação com
cada um dos que a compunha: a adesão à proposta tenderia a operacionalizar-se através
da leitura individual que dela seria feita.
A visita às iniciativas que decorriam, a implicação que se viu no modo como cada um
vivia a profissão permitia antever uma segunda consequência: o EI tinha de levar mais
valias ao Movimento e à sua acção. Em Águeda, o EI não podia ser apenas um projecto
de investigação. Tinha também de ser uma possibilidade de acção.
Fruto destas duas ordens de consequências a adesão vai fazer-se (ou não) tendo em conta
a pertinência para o Movimento e o que cada um, individualmente, considerasse, (ou
não) útil no EI.
Considerando importante essa adesão dirá por exemplo uma das contactadas:
- «Pareceu-me importante porque as pessoas andavam muito dispersas e seria uma
forma de as juntar em torno da História.» (Isabel Cristina)
Em sentido inverso se pronuncia outra:
- «Nunca me motivou muito – eu estava em Aguada de Baixo, centrada nas crianças,
numa fase de desespero...Quando apareceu um projecto financiado pareceu-me que
seria uma coisa teórica, quando tanto precisávamos de financiamento para a
intervenção directa...» (Bela)
A maioria do grupo concorda em participar, mas não é se quer evidente que o faça em
conformidade com os propósitos do EI. Quem adere percebe e aceita que está subjacente
um estudo de pendor teórico, transnacional (não estritamente autocentrado) que pode
implicar um investimento exógeno à actividade quotidiana; mas, de facto, é a partir do
Movimento e do que para ele pode contribuir o EI, que a adesão se vai fazer1:
- a utilidade que poderia ter para a qualificação da intervenção, o reviver da prática
(Zé Tovar)
- a importância que poderia ter para a superação da dispersão em que o Movimento
estaria a cair (Isabel Cristina)
- o interesse que teria para o reforço de identidade, a recriação da história do
Movimento (Teresa Almeida)
A negociação tinha, para o EI, o objectivo de assegurar total respeito pelo «quadro
analítico e os instrumentos desenvolvidos» que se propunha. Tornou-se, no entanto, claro
para a delegação que havia que temperar esse objectivo com o imperativo, sentido, de
viabilizar a endogeneização e apropriação da proposta pelo Movimento.
Significou isto assumir a negociação como um processo democrático e participado de
valorização e satisfação de expectativas e interesses mútuos o que, por via de regra, recria
as propostas enriquecendo-as e alargando-as: ao se permitir uma reflexão contextualizada
e implicada – porque pertinente para o próprio processo de Águeda – viabilizou-se um
produto final que servindo o «quadro analítico» inicial possibilitou, em simultâneo, o seu
requestionamento epistemológico.
É, pelo menos, esta a noção que se tem da leitura que hoje se faz das dimensões de
efectividade presentes no Movimento de Águeda3.
2. A caminhada
2.1. O que torna interessante a história de um grupo
Olhada à distância, a história de um grupo de pessoas que procedeu a uma dadainvestigação, não será relevante. A nossa curiosidade vai naturalmente para o Movimento
de Águeda em si mesmo, não para o grupo que o descreveu.
Conhecer a caminhada deste grupo concreto vai, no entanto, bem para além de uma mera
história de pessoas que trabalharam juntas, na precisa medida em que ela corresponde a
um processo de transformação de um conjunto de pessoas que se aproximam sem
verdadeiramente interdepender num colectivo solidário, colaborativo e aprendente.
Perceber os passos que a tal conduzem é, sem dúvida, um contributo para a compreensão
dos processos através dos quais se estruturam não apenas equipas coesas mas verdadeiras
Comunidades de Práticas onde, como diz Wenger (2002) se torna patente “o
empenhamento mútuo” – um empenhamento mediado pela prática social – “um
empreendimento conjunto” – com todos implicados na concretização de um objectivo
comum – e um “repertório partilhado” – em que cada um dá o que sabe.
Naturalmente estes processos passam, por momentos distintos uns dos outros. Na
descrição que de seguida fazemos de cada um desses momentos não houve a preocupação
de os situar no tempo. Pareceu-nos ser essa uma forma de melhor universalizar a
experiência que podemos retirar do processo vivido.
2.2 Os primeiros passos
Feita a proposta pela Fundação Bernard van Leer dá-se inicio a uma série de contactos enegociações que conduzem à constituição formal da equipa chamada a desenvolver a
investigação. As pessoas que a integram aceitam fazê-lo também porque vêem nessa
proposta um reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo dos trinta anos de
existência do Movimento de Águeda. Sentem que o passado merece ser contado e
(re)validado.
Mas como se torna claro na primeira reunião realizada – 5 meses após a formulação da
proposta – a adesão de cada um é, no fundo, reticente. Todos se comprometem em
contribuir mas sente-se, no ar, que a maior parte dos elementos vê a investigação que se
propõe como uma sobreactividade que vai ou pode conflituar com o tempo, já de si
insuficiente, de que dispõem para atender aos problemas e necessidades dos projectos em
que estão implicados no quotidiano.
Compreendida como uma investigação clássica, a proposta de estudo aparece marcada
pela exterioridade, não pertinente para o aprofundamento das dinâmicas em curso ou para
a requalificação de cada um.
As questões que logo na primeira reunião se identificam como objectos possíveis e
passíveis de estudo – história do movimento, momentos críticos, conceitos operados,
efeitos, etc.. – suscitam sem dúvida a curiosidade e o interesse mas não ainda de molde a
induzir o empenhamento e a participação para além do próprio momento da reunião.Ao
longo destes primeiros passos – que se prolongam por alguns meses – não há grupo e
muito menos equipa. Há sim, e tão somente, pessoas que concordam em viabilizar uma
proposta de que se não apropriaram e em que vêem um interesse, apesar de tudo, relativo.
2.3. A emergência do EI como um espaço afectivo e informal de encontros.
Em torno das questões que se propunham para reflexão foi-se criando nas reuniões que sesucederam, um clima de partilha em que progressivamente se foram implicando os
participantes. As conversas generalizaram-se e com frequência começou a acontecer,
ocorrerem, em simultâneo, reflexões cruzadas envolvendo, em espontaneidade, todos os
presentes.
Uma das dimensões propostas para estudo, em particular, desempenhou um papel
determinante no desbloquear das relações entre as pessoas: concretamente o cadastro dos
afectos a que se procedeu e que consistiu na identificação e descrição dos momentos mais
significativos da relação de cada um com o Movimento, enquanto factor de integração ou
afastamento. Esta viagem pelos afectos teve, de facto, por efeito subjectivar as relações
no interior do grupo, contribuindo para as informalizar ainda mais4, para a prevalência da
importância do “estar”.
A investigação permanecia exterior e entre as reuniões as pessoas tendiam a dispersar-se
e a fechar-se sobre si mesmas...Mas o EI, as suas reuniões, começavam, de facto, a
emergir como um espaço de trocas catalizador de interacções e de socialização de
afectos. Como dirá alguém da equipa, o EI passara a ser “um novo espaço informal de
reencontro”.
2.4 A estruturação de um sentido de identidade
Três factos vão, entretanto, acontecer favorecendo uma nova relação do grupo consigopróprio.
Em primeiro lugar, a introdução, enquanto dimensão de análise, do estudo das, pelo
grupo denominadas, externalidades, isto é das influencias externas sofridas pelo
Movimento ao longo dos seus trinta anos de vida. Em intenção a esse estudo,
intervenientes à data deste afastados, mas que tiveram um impacto evidente no seu
desenvolvimento, são chamados à reflexão. O grupo é através deles questionado de fora
para dentro, o que o leva, ainda que sem disso se aperceber, por um lado a descentrar a
reflexão – a tentar ler o Movimento a partir de fora – e por outro, precisamente por isso
mesmo, a situar-se no Movimento, a identificar-se com ele.
Em segundo lugar, o manancial de informação entretanto recolhido – histórias de vida,
recortes de imprensa, entrevistas, notas de campo, etc.. – e em que literalmente o grupo se
sente afundado, perdido quanto ao que deve fazer dele. A necessidade de um ponto de
situação que segurizasse quanto ao caminho que vem seguindo leva a uma primeira
globalização e sistematização do conhecimento, reunido sob a forma de dois textos,
explorados numa oficina alargada, que serviram para dar ao grupo uma primeira
percepção do que havia sido o Movimento (do seu âmbito e pertinência).
Em terceiro lugar, e por força das “orientações” que lhe chegam da Fundação, vê-se o
grupo obrigado a debruçar-se sobre a Metodologia que vem adoptando tomando então
consciência de que havia sido protagonista de uma investigação-acção, de um processo
onde, o seu questionamento intervém para dar sentido ao que cada um é e faz.
Estes três factos, conjugadamente, ajudam o grupo a sentir-se como grupo, onde cada um
é sujeito de uma processo que já é colectivo e onde a subjectividade e a afectividade
continuam a intervir mas agora alimentadas por um sentimento de pertença e de
identidade.
2.5 A transformação numa comunidade colaborativa de aprendentes
A este sentimento de identidade começa, naturalmente, a corresponder uma nova relaçãode cada um com a produção de conhecimento. Como dirá alguém dentro da equipa, o EI
torna-se em Águeda “uma produção de conhecimento na primeira pessoa”. Com
naturalidade, os membros do grupo chamam a si, organizados em pequenas equipas, a
produção de textos orientados para a releitura dos dados reunidos, textos que o grupo
debate, colectivamente, num processo que se revela autoformativo.
Imperceptivelmente já não é só o passado do Movimento que é objecto da análise da
reflexão do grupo. Também o seu presente: com frequência a investigação é interrompida
para, em conjunto, se produzirem estratégias de superação de uma crise ou dificuldade
que se abate sobre o Movimento.
Pelo conhecimento que produz individual e colectivamente quer sobre a investigação que
realiza quer sobre a realidade que anima ou a que está ligado bem assim como pela forma
como coopera na construção desse conhecimento e/ou como procura desocultar o que
desconhece, o grupo não é já e apenas um grupo. Sim, uma comunidade de práticas, um
colectivo que aprende colaborando.
2.6. Uma nova relação com o Movimento de Águeda
Já nos últimos meses de existência formal do EI, torna-se evidente um novo saltoqualitativo vivido pelo grupo.
Numa reunião de dois dias realizada em regime de internato numa localidade de Oliveira
do Hospital faz-se um balanço final da investigação realizada. Significativamente uma
forte tónica é posta na explicitação do ideário do Movimento de Águeda, no
levantamento dos valores que lhe estão subjacentes e que, no fundo, constituem a sua
própria razão de ser.
Mais do que o conhecimento do passado, o que emerge é, agora, a necessidade de
perceber um estar no presente e o comprometimento num processo que se quer ler a partir
do futuro. Os desafios que fizeram o passado do Movimento – a exclusão, a cidadania ....
– continuam vivos mas já não bastam. Explicitamente se procuram e formulam novos
desafios mobilizadores. Não por acaso nessa mesma reunião se esboçam perspectivas de
novos projectos, de busca de recursos que permitam prosseguir o Movimento.
Mais do que uma comunidade de aprendentes, o grupo revela-se um colectivo de
empreendedores implicado no aprofundamento de um Movimento com que se identifica.
2.7 E hoje?
Formalmente o EI chegou ao seu termo em 2003. Por razões profissionais, algunsmembros da equipa que o desenvolviam vêem-se afastados do Movimento, chamados a
tarefas que os impediam de participar. Uma parte, no entanto, contribuiu com outros para
dar corpo e vida a novos espaços de reflexão e aprendizagem que chamaram a si a
orientação e acompanhamento de projectos e dinâmicas no concelhos – agora sem o
pretexto de uma investigação, pela mera necessidade de continuar a pensar e agir juntos.
3. Metodologia
3.1. Razões para o relevo que é dado a este capítulo
Para quem viveu o seu processo, o EI foi sem dúvida importante. Não por acaso muitosdos que nele participaram continuaram, durante alguns meses, a chamar EI aos espaços
de reflexão que lhe sucederam tendo em vista a animação e orientação do projecto que
vinham aprofundar ou simplesmente continuar a dinâmica e os pressupostos do
Movimento de Águeda.
Para este, para a vasta teia de pessoas que lhe deram vida ao longo dos seus 30 anos de
existência, o que há de verdadeiramente relevante não é o EI mas a “história” que ele
desocultou e que se conta na 2ª parte deste relatório. É essa história que fica e que pode
suscitar o interesse de quem a ela aceder.
Há, no entanto, dois aspectos do próprio EI de que se podem, sem dúvida, retirar
ensinamentos úteis e abrangentes de alguma forma dessimináveis, possíveis, pois, de
induzir um interesse generalizável.
Desde logo, e como se sublinha mais atrás, ter correspondido a um processo de
transformação de um conjunto de pessoas numa comunidade de práticas, cada vez mais
vistas, hoje em dia, como uma nova forma de gerir, democraticamente, o poder do saber.
Em segundo lugar, o facto de lhe estar subjacente uma metodologia que em grande
medida explica não apenas o processo vivido pelo grupo que conduziu a investigação,
como a forma assumida pelo conhecimento produzido. Não tendo consistido numa
abordagem clássica, assumindo-se na verdade como uma metodologia construída para e
com a situação, compreender-se-à que sobre ela nos alonguemos.
3.2 Uma abordagem metodológica polémica?
A rejeição dos quadros teóricos positivistas que informou e enformou certa a investigaçãono última metade do século passado e que corresponde, em muitos casos, a um esforço de
ruptura epistemológica ao nível do conhecimento social legitimado, esteve marcada –
como é normal nos processos de afirmação do que é, ou pretende ser, novo - por uma
forte preocupação de validação científica, validação que se procurava (e continua a
procurar) pelo recurso a metodologias instituídas e reconhecidas e métodos e técnicas “de
rigor”... Curiosamente, ou talvez contraditoriamente, metodologias de raiz positivista que
serviram de base ao estatuto de cientificidade reivindicado pelas Ciências Sociais e
Humanas e de que beneficiavam, até então, as Ciências Físicas e Matemáticas.
Barbalet (2001), por exemplo, ao contrapor à racionalidade e ao positivismo o papel das
emoções, não só na acção como na sua explicação, não deixa de começar por tornar claro
a obrigatoriedade de o fazer demonstrando-o com cientificidade.
A mesma perspectiva metodológica, a mesma reificação do pensamento científico (do
Método) que esteve na base do conhecimento social produzido pelos positivistas aparece,
assim, a determinar a validação de um conhecimento que se quer em ruptura com o
conhecimento positivista.
É esta (digamos) contradição que, no entender de Damásio (1995), acaba por surgir como
um constrangimento à produção de novas categorizações sociais e que leva, por exemplo,
Edgar Morin (1998) a defender que se “impõe uma reforma do pensamento
sociológico”(p.10): Sublinhando a importância de contemplar, nas análises, factores
como os acasos, as instabilidades ou as bifurcações, de reequacionar a relação parte/todo
ou a relação actor/autor, sustenta Morin a pertinência e a validade do conhecimento não
científico afirmando que, face ao carácter “parcial e inacabado” da cientificidade
sociológica, pode e deve o investigador social recorrer a outras formas de produção (de
que considera um exemplo, os ensaios).
Vem esta reflexão a propósito da perspectiva metodológica seguida pelo E. I. em Águeda.
A importância do método e da metodologia para a legitimação do conhecimento leva a
que, por via de regra, toda a investigação tenha como ponto de partida e condição, a
explicitação prévia da metodologia que se adopta, dos instrumentos que se propõe usar e
das estratégias que a viabilizam.
O caminho seguido pelo E.I. de Águeda rompe, pelo menos parcialmente, com esta
prática: foi em Dezembro de 1999 que se deu o início à presente investigação e só em
Julho de 2002 – na Oficina realizada na Aldeia das Dez – se veio a explicitar e
sistematizar a opção metodológica seguida.
Defendeu-se, desde o primeiro momento, a necessidade de realizar pesquisas “objectivas”
por recurso a métodos (técnicas) passíveis de emprestar rigor às conclusões. Mas toda a
perspectivação do trabalho, que também desde o primeiro momento se fez, tornou claro
que se assumia igualmente como metodologia de pesquisa a construção colectiva de uma
história crítica – ou talvez melhor de um ensaio.
Como é evidente, a defesa da complementaridade e pertinência desta dupla caminhada
corresponde a uma opção metodológica que faz da metodologia, não a condição da
validade e pertinência do conhecimento, mas uma explicitação, não necessariamente
prévia, do processo de produção de conhecimento.
A pesquisa aparece, nestas condições, mais centrada no investigador (singular ou
colectivo) e não no método, do que resulta, é certo, um risco de erro acrescido – na
medida em que tanto lhe cabe “utilizar dados fiáveis como desenvolver um pensamento
pessoal” (Morin, 1998, p. 14) - mas também a riqueza criativa que esse mesmo risco
comporta.
Introduzir, como fizemos, a emoção como objecto, dimensão e “sujeito” da análise e
fazê-lo enquanto contributo pertinente e necessário para a descoberta e explicitação do
processo social que foi, e é, o Movimento de Águeda, equivale a trazer para a
investigação a subjectividade o que, necessariamente, contraria a preocupação de
objectividade e exterioridade que se deseja numa investigação clássica, enquanto garante
de rigor.
Fizemo-lo, e ao fazê-lo, assumimos, de facto, uma opção metodológica, à semelhança,
por exemplo, do que fez Barbalet quando escreve “que as emoções são a base da razão e
que uma rejeição da emoção, em vez de beneficiar a racionalidade, deixa-a sem sentido
ou direcção” (p.173)
Em última análise corresponde esta opção a perfilhar, com Edgar Morin, que o
conhecimento sociológico – como é, sem dúvida, o que se queria produzir sobre o
Movimento de Águeda – “não é apenas conhecimento científico stritu sensu; ele integra
outros modos cognitivos” (p.14). .
3.3 Razões de circunstância para uma opção metodológica
A opção de não assumir a metodologia como ponto de partida da investigação teve,também, a ver com razões de circunstância e de natureza estratégica.
Desde logo, e em primeiro lugar, a preocupação de garantir que a gestão da
investigação e não apenas a sua viabilização, coubesse na íntegra à equipa que se
constituiu.
As exigências de rigor científico que a investigação pressupunha – e que os conteúdos
das Oficinas organizadas pela Fundação van Leer vinham sublinhar – foram, logo no
primeiro momento, percebidos como uma fonte de dificuldade e insegurança. Afirmandose
não preparados para as atender, “chegaram a pedir-se aulas de metodologia”, como
lembra Maria José Tovar, na Aldeia das Dez.
Nestas condições, organizar a pesquisa a partir de uma qualquer proposta de metodologia
que se explicitasse era organizar e programar a investigação a partir de fora da equipa
chamada para a realizar. Surgindo como uma competência que a equipa não possuía, ou
dizia não possuir, a metodologia que se adoptasse e os instrumentos que a servissem
resultariam não de uma construção colectiva, mas de um quadro analítico pré-definido
que enquadraria, desde a primeira hora, o sentido da reflexão da equipa, levando esta a
tornar-se um mero instrumento de uma abordagem exógena.
Não por acaso – fruto desta representação sobre a sua relação com a investigação – uma
das primeiras proposta da equipa previa a contratação de um conjunto de especialistas
externos chamados a acompanhar a investigação, proposta que significava, de facto, uma
divisão social entre investigadores e operadores. Em nenhuma circunstância facilitaria a
viabilização do que veio a acontecer – a transformação da equipa em produtora, não
apenas do conhecimento, como do processo que a ele conduziu.
Em segundo lugar, a pertinência que se pressentiu de associar ao processo de
estruturação da investigação e da sua metodologia, a construção da equipa.
O que se formara para desenvolver o E. I. era um grupo; não uma equipa, já para não
falarmos de uma Comunidade de Prática. Um grupo que, como dizemos noutros lugares,
fazia da paridade um estar, da informalidade um modo de funcionamento e da
afectividade uma forma de compreender.
Uma equipa existe quando há uma consciência colectiva que em comum se explicita, e
um pensamento estratégico que interactivamente se operacionaliza. O domínio de um
quadro metodológico – e da capacidade que lhe está subjacente de organizar, seleccionar
e sistematizar a reflexão - não precede a constituição da equipa na precisa medida em que
uma metodologia apropriada é uma forma de consciência explicitada.
Face às características do grupo que éramos, a própria ideia de investigação – encarada
como um exercício de racionalidade e de objectividade – surgia como um ruído e um
obstáculo. Já levara alguns dos dinamizadores do Movimento de Águeda a não aderir ao
E I. Levaria, decerto, muitos dos que ficaram a continuar a relacionar-se com o EI a partir
de fora de si mesmos e a não potenciar, nele, as sinergias geradas pela sua forma de estar.
Como diz Barbier (1997), “o sentimento é uma forma subtil de consciência desperta”.
Para que o método e, de uma forma geral, as questões metodológicas surgissem como
facilitadoras e não como obstáculos à socialização e intencionalização dos sentimentos,
tornava-se de facto necessário que a metodologia – o modo de fazer, em investigação – se
alimentasse também (resultasse também) do feixe de sentimentos que se tinha naquele
grupo. Uma imposição precoce do método, de critérios de racionalidade na projecção da
investigação, inviabilizaria a potenciação desta mais valia considerando-se, com Barbier
que “entrar no sentimento é aceitar estar receptivo ao mundo que nos fala sempre
diferentemente”
Finalmente, e em terceiro lugar, a necessidade de perceber como situar o E. I. de
Águeda, e a especificidade que nele se prefigurava, nos requisitos metodológicos que nos
vinham do E. I. global.
A proposta de investigação do E.I. transnacional não era fechada, apontando para opções
metodológicas que abriam caminho a percursos próprios e específicos. Sobrelevava-se,
nomeadamente, a ideia de um estudo qualitativo e o recurso à Observação Participante o
que, como se reconhecerá, se não contrapõe, por exemplo, à adopção da
investigação/acção como metodologia geral nem tão pouco, sequer, à relação com a
cientificidade que aqui se vem defendendo.
Propunha-se explicitamente a necessidade de um quadro analítico mas remetia-se o
processo da sua construção para as equipas.
A tónica na manipulação de métodos e técnicas que informou as oficinas organizadas
pelo E. I. Transnacional, as preocupações que pareciam ressaltar do tipo de bibliografia
fornecida levavam, no entanto, a sugerir um pendor para uma investigação de tipo
fundamental que não podia deixar de ser tido em conta
Não sendo aceitável uma justaposição eclética de abordagens, impunha-se construir uma
opção abrangente que respondesse à preocupação com o rigor e a cientificidade que se
nos pedia, continuando, simultaneamente, a contemplar a especificidade do processo que
se esboçava e perspectivava em Águeda.
Numa síntese, a explicitação da metodologia exigia um tempo de negociação com o
projecto como um todo. Qualquer explicitação metodológica que se fizesse à partida
seria, nestas condições, precoce e contraproducente.
3.4 Alguns pressupostos e suas implicações
A perspectiva metodológica que marcou e orientou as opções feitas explica-se,naturalmente, por vários pressupostos/preocupações que induziram o desenvolvimento do
projecto E.I.
Em primeiro lugar, e antes de mais, a preocupação havida em fazer do E. I. um processo
endógeno ao Movimento de Águeda.
O E.I surgiu – já o dissemos – do exterior, como uma proposta de trabalho que não
resultava do quotidiano do Movimento de Águeda, “impondo” líderes externos e a
possibilidade de especialistas vindos de fora.
A adesão ao E.I fez-se, no entanto, como tudo em Águeda: a partir de dentro, do “maisprazer”
e do “mais-ser” que o Projecto podia representar para cada um e para o
Movimento5
Como recorda Fátima Cerveira6, na Aldeia das Dez, até mesmo a aceitação do líder
resultou “por termos empatizado com o Rui” isto é, por que este não vinha pôr em causa,
não vinha perturbar este estar a partir de dentro e dos afectos de cada um.
Mais do que opção metodológica, a endogeneização do E.I, surge, de facto, neste
contexto, como um imperativo estratégico cuja concretização, essa sim, pressupôs um
conjunto de opções metodológicas que permitiram fazer do E. I., para usar a síntese de
Maria José Tovar, “o criar de um ‘fora’, para nós nos reencontrarmos no dentro”.
São quatro as opções que me parecem pertinente destacar.
A primeira teve a ver com o assumir de cada um como fonte de conhecimento do próprio
Movimento. Dito de outra forma, a investigação orientou-se para a descoberta do
Movimento que havia em cada um. Como sublinha Luísa Coelho7, “descobrimos fazendo
uma introspecção dos nossos saberes e do que representámos”.
A segunda, teve a ver com o acertar do ritmo do E. I. pelo ritmo de crescimento do grupo.
Como também refere Luísa Coelho “Foi-nos dado tempo para fazermos uma caminhada.”
A terceira, teve a ver com a preocupação de organizar o processo de pesquisa e de
explicitação do conhecimento a partir das características do próprio grupo. Como lembra
Maria José Tovar, na Aldeia das Dez, «quase que parecia que a metodologia tinha sido
feita exactamente para nós», ilusão que se deve ao facto de ter sido dado «espaço e tempo
para emergir a metodologia que nos era mais própria».
A quarta, e última, teve a ver com a prática de vaivém que se seguiu entre a descoberta
que se fazia do Movimento e a releitura que o grupo fazia dessa descoberta: “o retorno
das pequenas coisas” de que fala Luísa Coelho.
Em segundo lugar, o carácter vincadamente participado que assumiu o desenvolvimento
do E. I.
A ideia de participação está marcada por muitas ambiguidades, a mais frequente das
quais tem directamente a ver com a ideia de que há participação quando uma proposta
que se quer concretizar conta com quem ajude, com quem “dê uma mão”. Não por acaso
muitas das técnicas de investigação participada acabam, na verdade, por transformar cada
participante na peça de um puzzle cujo desenho e o todo permanece nas mãos de quem o
concebeu.
Águeda aparecia com uma história diferente. Não era esta nem a leitura nem a prática da
participação do Movimento de Águeda.
A ideia chave que definia as relações entre as pessoas – a de “aprender a andar com os
sapatos do outro” – traduzia, com efeito, um conceito de participação que implicava não
apenas aceitar ou procurar o contributo do outro mas promover o respeito pela
pertinência do contributo eventualmente diferente do outro.
No espaço EI, a participação aparece, assim, quase diríamos espontaneamente, a partir do
estar quotidiano de cada um.
Em clima de liberdade e simetria, criando-se amiúde situações de pequeno grupo (quando
o estar em grande grupo favorecia os silêncios), implicando todos e cada um em trabalho
de autoria, possibilitou-se uma constante participação na reflexão:
● Os registos gravados das conversas mostram à evidência que ninguém, nem
uma só vez, esteve calado;
● Nos vários textos de percurso que se reuniram podem ver-se os nomes de quase
todos os membros da equipa E. I.
Mas não foi só ao nível do grupo (da equipa do E. I.) que se procurou a participação.
Fazendo eco deste estar que faz da opinião do outro, do sentir do outro, a condição do
estar e do sentir de cada um, toda a investigação foi programada tendo em vista e
chamando a ela o conjunto do Movimento...8
Com efeito, identificadas as dimensões de análise no espaço E. I., foram elas levadas à
análise crítica de quantos aceitaram participar numa oficina organizada para o efeito.
Também em oficinas alargadas tiveram lugar as descobertas, o “remexer” das
impressões, os acordos e desacordos que vieram a permitir o recontar da história de
Águeda.
Mais do que uma técnica de pesquisa, a participação foi, de facto, potenciada como
condição de funcionamento e processo de construção de uma memória e de uma
consciência colectivas.
Em terceiro lugar, a continuada aposta na informalidade.
A informalidade – já o dissemos – sempre foi umas das características centrais do
Movimento de Águeda.
Dando origem a diferentes espaços instituídos e/ou formais (Bela Vista, Contador de
Sonhos, etc.) o Movimento não tem identidade jurídica. Intervindo em serviços, fê-lo
criando neles bolsas de informalidade. Revendo-se num ideário, não se reuniu em torno
de uma qualquer “Declaração de Princípios” ou de um Manifesto. Organizando-se para
intervir fê-lo de forma fluída, em teia, agrupando-se em função das iniciativas,
implicando quem podia e queria. O próprio nome em que hoje se reconhece – Movimento
de Águeda – era, para muitos dos que nele participaram e participam, desconhecido.
Esta informalidade dava espaço a uma espontaneidade persistente que, por efeito de
boomerang, a alimentava.
Surgindo como um espaço formal – com identidade, funções e projecto definidos – o E. I.
assumiu, no entanto, desde a primeira hora, enquanto metodologia e princípio
organizativo, a aposta na informalidade.
Desde logo, ao nível da sua própria composição.
Propôs-se que o integrassem oito elementos que, à partida, se reconhecia terem tido (e
continuam a ter) um papel relevante na história do Movimento. Mas aceitou-se, como
pressuposto, e desde cedo se adoptou como prática, um funcionamento aberto,
trabalhando-se com quem aparecia, chamando-se às reuniões quem mostrasse interesse.
Também ao nível da sua organização interna
O princípio da geometria variável orientou explicitamente a prática organizativa do E.I.:
os vários grupos de trabalho que se constituíram integravam quem se disponibilizasse,
quem mais facilmente se podia encontrar – às vezes tão somente por razões de vizinhança
- incluindo, com frequência, quem não fazia regularmente parte do E. I.
Finalmente, ao nível do próprio funcionamento.
Na verdade, mais do que a informalidade (ou tanto como a informalidade), o que
caracterizou o modo de reflectir no E. I. foi a espontaneidade. Sistematicamente
induzidas pela vivência e pelo sentir de cada um, as reflexões estruturaram-se a partir de
emoções, de impressões, de experiências que traziam para o grupo não apenas o
pensamento como o estar, o à vontade de cada um. Como bem se tornou claro na Oficina
da Aldeia das Dez, a simetria porque se pautou o funcionamento do E. I. (como do
Movimento), não “normatizou”. Pelo contrário, alimentou-se da identidade e da forma de
ser de quem “entrava na roda”, precisamente porque procurou ser, e foi, uma simetria
entre pessoas que interagiam informalmente...ainda que por mediação de uma
investigação.
3.5 Metodologia Geral
Determinantes para este modo como se desenvolveu o E. I. e o impacto que tiveram narequalificação do Movimento9 estas várias opções metodológicas e epistemológicas
inserem-se, de facto, numa opção mais geral, também de natureza metodológica, feita,
ainda que implicitamente, por Águeda. A saber, a de assumir o E. I. quer como um
projecto de investigação/acção quer como processo de desenvolvimento ecoformativo.
Algumas ideias chave explicitadas na Oficina da Aldeia das Dez traduzem bem o que foi
a caminhada no domínio da investigação:
- «Mais do que recriar o conhecimento, nós fomos recriando a nossa relação com
o conhecimento» isto é, «no processo de produção de conhecimento
produziram-se produtores de conhecimento.»;
- «Foi uma descoberta dos saberes implícitos que tínhamos e
operacionalizávamos»;
- «As coisas foram surgindo conforme nós fomos crescendo – individualmente e
em grupo»;
- «Foi aquela sensação: “Eu faço isso?”»;
- «O conhecimento passou a pertencer-nos»;
- «Há coisas que fizemos numa altura que não tínhamos sabido fazer antes»
Que reflectem estas ideias? Tão simplesmente a operacionalização de uma metodologia
de investigação/acção. O que elas nos dizem, - o actor transformado em autor; a
transferência do Saber para o Conhecimento; a criação de um investigador colectivo; a
afirmação do poder de agir pela criação do poder de explicar e comunicar; a valorização
do que se faz pela consciência do que se questiona; a não divisão social de papéis num
processo de investigação - são, de acordo com Bataille (1981) e Bouchard (1991), as
bases estruturantes e explicativas de uma metodologia de investigação/acção.
Como escreve, a propósito, Natércia Pacheco, «o processo de conhecimento é (numa
metodologia de investigação) orientado para a emancipação dos investigadores e dos
outros intervenientes em torno de um objecto comum, construído em função de uma inter
relação que se quer simétrica», simetria que se constrói e vive «tanto na problematização,
pesquisa e gestão de resultados como nas práticas emergentes.» (p. 9)
Foi isto que se procurou fazer no E. I.
Associada a esta metodologia ou, em grande medida por ela viabilizada, emerge ou
evidencia-se um processo ecoformativo.
Vivido, embora, na perspectiva da compreensão da realidade e do processo social a que
corresponde o Movimento de Águeda, a reflexão orientou-se para a mudança das práticas
e para a produção de um pensamento estratégico que redefiniu a acção assegurando, em
simultâneo, o crescimento, a mudança de quem reflectia. Na prática, deu-se corpo a um
processo em que o “eu”, o “outro”, a “coisa” (os projectos, os contextos) interagiram,
progressivamente definidos por uma possibilidade de futuro cuja antevisão foi formando,
mudando, recriando, não só cada um e cada coisa, como a reflexão e o modo de
reflectir.10
Com efeito:
• Cresceram as pessoas: «Houve pessoas que não cresceram connosco e foram
ficando para trás. O próprio Rui se não se tivesse deixado transformar,
provavelmente também teria ficado na primeira fase do E. I.» (Maria José Tovar)
• Releu-se a realidade: “Uma pessoa não tinha a noção de que as coisas (…) não
acontecem em Águeda só porque acontecem em Águeda” (Fátima Cerveira)
• Recriou-se a relação: “Acho que depois de termos passado por este processo,
quando estivermos individualmente em qualquer sítio, é impossível não ter uma
atitude diferente” (Teresa Almeida)
É este ciclo, feito de interdependências, de interacções que trazem qualidades e
qualificações, bem à imagem dos ecossistemas, que nos permite falar em ecoformação.
(Pineau, 1991; Espiney, 1997, Diez, 2001; Nóvoa, 2002)
3.6 Passos metodológicos e metodologias específicas utilizadas.
O breve apanhado feito sobre a caminhada realizada pelo grupo que assumiu o EIinforma-nos sobre os momentos (as fases) claramente distintos (distintas) por que passou
o processo da sua transformação em Comunidade de Prática. Num certo sentido podemos
fazer corresponder a passagem a cada um desses momentos – dessas fases – uma
sucessão de passos metodológicos que foram dados, passos que tiveram como
contrapartida metodologias específicas.
Num primeiro momento tratou-se tão somente de induzir a adesão de um conjunto de
pessoas a um projecto de investigação que se oferecia.
Mostrar a pertinência do estudo que se desejava, à luz dos interesses dos indivíduos
chamados a participar, implicava que a nível metodológico prevalecesse a tónica na
negociação: os próprios requisitos do projecto tiveram de ser aferidos às condições da sua
aceitabilidade considerando-se, nomeadamente, a realidade do contexto, o estar das
pessoas, a natureza das suas relações. A adesão das pessoas dependeu da capacidade que
a proposta teve de se tornar sedutora, o que necessariamente passou não tanto pela
explicitação dos objectivos da investigação mas pela cativação das pessoas ao propósito
de produzirem descobertas que de algum modo entrosassem com as suas curiosidades, ou
melhor “com os impulsos internos” de que fala Chombart de Lawve (1993).
Num segundo momento esteve fundamentalmente em causa criar condições à livre
expressão de cada um. Toda a atenção foi dada às metodologias participativas por recurso
nomeadamente à criação de condições para os diálogos espontâneos e cruzados, às
conversas em roda e um estar informal. Não se fazendo uso de técnicas participativas –
que como se disse tendem, no fundo, a fazer dos implicados meros consumidores –
promoveu-se a participação por mediação dos afectos, das subjectividades e da simetria
das relações.
Num terceiro momento, procurou-se favorecer a identidade do grupo o que procurou
fazer-se pela descentração da reflexão e a interacção com outros sujeitos. Como lembra
Rucheinsky (1995), apoiando-se nomeadamente em Hegel, a identidade estrutura-se
também na interacção com os outros, ou como escreveu “conforma-se na contraposição a
factores externos” (p.43). A chamada à reflexão de elementos que haviam estado
implicados no Movimento de Águeda – alguns com um papel então determinante –
confrontou o grupo com as suas próprias crenças ainda que por vezes explicitada por
outros.
Num quarto momento assistiu-se à transformação do grupo numa comunidade
aprendente, implicada e colaborativa por força de 2 metodologias de que o grupo se
apropriou concretamente:
1º A abordagem etnográfica: investiga-se a realidade tomando “parte integrante da rede
de relações que (se) pretende investigar” (Silva, p.35); ou seja cada um é “parte e parcela
do todo que pretende investigar” As entrevistas, as auscultações cruzam-se com
autoquestionamentos que subjectivam a relação com o conhecimento.
2º A produção colectiva de conhecimento: a passagem de actores a autores, traduzida na
produção de textos de reflexão sobre a realidade que se investiga, faz-se por recurso a
equipas que cooperam pensando juntos.
Entrecruzadamente estas 2 metodologias explicam o salto qualitativo vivido pelo grupo
na última fase do EI. A interacção com a realidade e o trabalho de autoria desenvolvido
induzem uma nova relação do grupo como o próprio Movimento de Águeda – passando a
intervir em nome do ideário de que se apropriaram e na perspectiva da produção de
soluções, de novos futuros possíveis para esse Movimento.
3.7 Método e técnicas
A opção metodológica que fizemos para a investigação desenvolvida, nomeadamente, aque passou pela assumpção da subjectividade e das emoções e a ruptura com perspectivas
positivitas não significa uma subvalorização do método. Ao longo de todo o processo EI
e atravessando cada um dos seus momentos recorreu-se a métodos e técnicas que
funcionaram ou como operadores desses processos ou como instrumentos
complementares de diagnósticos e análise da realidade.
Foram fundamentalmente 5 as técnicas e métodos utilizados: as Rodas, as Histórias de
Vida, as Monografias e Textos de Percurso, a Análise Documental e as Entrevistas.
As rodas
Constituem estas, formas de organização da reflexão – sendo por isso, talvez mais uma
metodologia do que uma técnica ou um método – em que as pessoas são postas em
círculo, confrontadas com uma relação simétrica e policentrada, sempre abertas à
inclusão de novos participantes.
Prática corrente do Movimento, desde a sua origem, as rodas enformaram o
funcionamento quer das reuniões de equipa do EI quer das seis oficinas alargadas que se
realizaram ao longo da investigação.
Instrumento de democratização das relações e de socialização interactiva do
conhecimento, as rodas contribuíram, sem dúvida, para o clima de participação
colaborativa que veio a enformar a equipa do EI.
As histórias de vida
Parafraseando A Nóvoa “a nova atenção concedida às abordagens (auto)biográficas no
campo científico é a expressão de um movimento social mais amplo, bem patente na
produção literária e artística. Encontramo-nos perante uma mutação cultural que, pouco a
pouco, fez reaparecer os sujeitos face às estruturas e aos sistemas, a qualidade face à
quantidade, a vivência face ao instituído.” (1991, p.18).
Partilhando esta perspectiva, o grupo do EI, na sua preocupação de melhor compreender
alguns fenómenos - nomeadamente a repercussão de vivências associadas ao Movimento
de Águeda na construção do currículo oculto de indivíduos por ele “tocados”, fazendo
deles “aquilo” que hoje são - optou por recorrer à recolha e análise de informação
pertinente, relativamente a algumas/várias histórias de vida.
As histórias de vida, alvo de estudo, constituíram um elemento crucial na compreensão
desta caminhada por facultarem o “acesso” ao olhar do destinatário sobre o próprio
Movimento, ou seja a compeensão de como tinham vivido/sentido ou continuam ainda
hoje a viver os seus efeitos. Este aspecto revelou-se crucial para o estudo entretanto
efectuado sobre os Efeitos do Movimento, por facultar o olhar sobre todo um processo,
através do sentir das pessoas em causa.
Na prática, esta técnica constituiu um nítido factor de qualificação tanto dos entrevistados
como dos entrevistadores. Aos primeiros facultou o reviver de um passado mais ou
menos longínquo, levando à conscienciatização de aspectos sobre os quais eventualmente
nunca haviam reflectido. Os autores das recolhas efectuadas descobriram, por seu lado,
coisas que desconheciam, passando a assumir assim uma nova relação com a realidade,
traduzindo este processo uma nítida reconstrução da própria pessoa.
As monografias
Apoiando-se em Gunther Franck, afirma João Ferreira de Almeida (1977) que “numa
realidade social particular existe simultaneamente o seu passado, o seu presente e o seu
futuro” (p.795). Foi tendo em conta esta tripla dimensão da realidade que o grupo EI
investigou diversas dinâmicas e processos vividos em Águeda – Contador de Sonhos,
Intervenção Precoce, Grupos Comunitários, etc.. – dando origem a monografias que
constituíram, simultaneamente, descritivos e leituras dessa realidade. Tais monografias
obedeceram à tripla características de que fala Ferreira de Almeida: o recurso a uma
“ampla gama de técnicas disponíveis (técnicas documentais, observação participante,
etc..), a recolha de abundante e heterogéneo material informativo” e “a multiplicidade de
facetas” exploradas (p.790).
Correspondendo, na prática, a Estudos de Casos, estas monografias foram preciosas para
a identificação de dimensões estruturantes do Movimento de Águeda, constituindo, em
simultâneo, processos de autoria por parte dos participantes do EI que contribuíram para
a seu e amadurecimento.
A análise documental
A recolha e análise de documentos começou a fazer-se logo em intenção à primeira
oficina, (dava a investigação os seus primeiros passos). Relatórios, artigos e
comunicações, fotografias – centenas delas –, que se achavam dispersas foram reunidos,
juntando-se também os dossiers existentes nas instituições mais envolvidas: Bela Vista,
Ensino especial e Centro de Saúde de Águeda.
Organizados em função das dimensões que se propunha para análise e em apoio à
reflexão nas oficinas, os vários documentos foram fundamentais:
- no reviver dos afectos, para o que em particular contribuíram as fotografias;
- na desocultação de alguns conceitos, como aconteceu a partir da leitura de vários dos
artigos e comunicações que se consultaram;
- no estabelecimento e fixação, no tempo, dos eventos que, organizados, nos facultaram
um fio condutor da História do Movimento.
A informação assim recolhida, diga-se, não era de molde a permitir um pleno
conhecimento da realidade do Movimento. Revelava vários hiatos que só o trabalho de
campo, etnográfico permitiu preencher. Daí que na análise documental se tenha optado
não por uma leitura sistematizada, organizada, mas sim “flutuante” isto é, para usar as
palavras de Bardin (1991), uma “leitura intuitiva, muito aberta a todas as ideias,
reflexões, hipóteses, numa espécie de “brainstorming” (p.75).
Não deixou de se revelar decisiva no levantamento de hipóteses que guiaram a
investigação desenvolvida.
As entrevistas
Foram muitas as entrevistas realizadas - próximo de uma trintena. Em grupo e
individuais. A crianças, mais jovens e profissionais. A quem participava ainda
activamente no Movimento e a quem se achava há muito afastado...
A riqueza da informação recolhida deve-se, em particular, à forma não directiva como
decorreram: sem um guião, sem pressupostos de partida, dando inteira iniciativa aos
“clientes” - para usar a expressão de Carl Rogers, tal como o recorda Muchchielli (1979)
– para exprimirem o que achassem pertinente.
Através delas se apropriou o EI dos efeitos da acção do Movimento em diferentes
sujeitos, do peso que as deficiências representavam para as famílias, das influências que
mais e melhor o qualificaram, do impacto afectivo de certas vivências feitas por alguns
dos seus actores.
Particularmente importantes, foram as duas primeiras entrevistas realizadas, a pessoas
que estiveram associados à apropriação de algumas das orientações mais emblemáticas
do Movimento, designadamente, as que se traduziram na aposta decisiva na integração
das crianças portadoras de deficiência – dava o Movimento ao seus primeiros passos - ou
na apropriação da abordagem de Carl Rogers e da antropoanálise.
4. Consideração finais
O EI foi um processo que trouxe, sem dúvida, qualificações tanto a nível individual comocolectivo. Quem o viveu apropriou-se não apenas de um pensamento estratégico como da
“arte” de o produzir e transformou-se não só de actor em autor como de destinatário em
mediador de acção.
Ao explicitar a ideologia do Movimento, o grupo inculcou-a em si mesmo e recriou-a
passando, de facto, a funcionar como um seu suporte e polarizador.
Ao mesmo tempo, ou talvez por isso mesmo, atingiu(-se) o propósito explicito da
investigação: recontar a História do Movimento de Águeda, identificando o que a ditou e
que a torna num exemplo de efectividade.
Foi esta, sem dúvida, a grande mais valia do EI.
Uma ideia errada seria, no entanto, pensar que se partiu do zero que o grupo que lhe deu
vida era uma folha em branco onde, como diz um poeta chinês, “se escreveram os mais
belos caracteres”.
É certo que o EI possibilitou a explicitação de conhecimento e acima de tudo a
construção de referentes teóricos que ajudaram à leitura e interpretação da realidade.
Mas, em última análise, o que acima de tudo aconteceu foi uma releitura e uma
refundamentação de Saberes e Saberes-Fazer que as pessoas do Movimento jà
dominavam e operavam. O EI pôs a nu e mostrou o impacto de afectos, de conceitos e de
competências que já lá estavam...Reforçou-os, aprofundou-os mas não os inventou...
Escreveu belos caracteres mas numa tela já pintada.
Num aspecto, entretanto, o EI terá ficado aquém do que se desejaria: o do envolvimento
do Movimento de Águeda como um todo. Ao nível do grupo nele implicado
directamente, conseguiu-se que fosse vivido como um processo endógeno de
desenvolvimento...Mas foram apesar de tudo limitadas as interacções com a ampla rede
de sujeitos do Movimento.
É certo que a abordagem etnográfica que enformou o trabalho de investigação ajudou a
conscientizar quem nele se viu envolvido. É certo também que as oficinas realizadas
funcionaram como espaços de devolução dos adquiridos pelo grupo EI, levando à
aproximação dos seus participantes. É certo, ainda, que as entrevistas, as histórias de vida
criaram condições a uma tomada de consciência dos visados. Mas era necessário mais
tempo e um, talvez, maior investimento na difusão dos resultados ao nível do Movimento
de Águeda como um todo.
Foi este, terá sido este, o único senão de um processo que não deixará, decerto, de
constituir-se como um marco na história do Movimento!
Mais difícil é o balanço que podemos fazer da nossa participação na, ou do nosso
contributo para, o EI transnacional. Participámos em todas as reuniões realizadas.
Partilhámos as reflexões produzidas em conjunto. E não podemos deixar de considerar
como positivos os feed-backs que recebemos sobre a “investigação” que realizámos. Mas
o facto é que a nossa opção metodológica foi singular e não é para nós evidente que dessa
singularidade tenha resultado uma mais valia explicita para o conjunto de investigação.
5. Bibliografia
Almeida, J. F. De (1977), Sobre a monografia rural, Análise Social nº52 vol.XIII,pp.789-803, Lisboa: ICS
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de Ecoformação, p.15. Lisboa: Educa
Bardin, L. (1991), Análise de conteúdo, Lisboa: Edições 70
Bataille, M. (1981), Le concept de Chercheur collectif dans la recherche-action, in Les
Sciences de l’Education, 2-3-, pp.26-38
Bouchard, J. M. (1991), La formation Experientielle et théorie tripolaire de la formation,
in Pineau, G. e Courtois, B. (org.), La formation Experientielle des Adultes, Paris : La
Documentation Françaises.pp29-40
Chombart de Lauwe, P-H, (1983), La culture et le pouvoir: transformations sociales et
expressions novatrice, Paris: L’Harmattan
Damásio, A (1995), O erro de Descartes. Emoção, razão e cérebro humano. Mem
Martins: Europa América
Diez, E. S. (2001), La vision écologique de la formation : une opportunité pour
l’apprenant, Education Permamente nº147. pp.99-109
Espiney, R. (1997), Especificidades de um projecto de educação de infância itinerante, in
Montenegro, M. (org.), Educação de Infância e Intervenção comunitária. Setúbal: ICE.
Morin, E. (1998), Sociologia, Mem Martins, Europa América
Mucchielli, R. (1975), A entrevista não directiva, São Paulo: Martins Fontes.
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Nóvoa, A. (2002), Prefácio, in Josso, M. C., Experiências de vida e formação, Lisboa:
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Pacheco, N. (1993), Novos Olhares, novas relações em Stº Ildefonso, Setúbal: ICE
Ruscheninsky, A. (1995), Metamorfoses da cidadania. Sujeitos sociais, cultura politica e
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Silva, P. (2003), Etnografia e Educação. Reflexões a propósito de uma pesquisa
sociológica. Porto: Profedições.
Wenger, E altri (2002)(, Cultivating communities of practices, Boston: Harvard Business
School Press.
1 Zé Tovar, Isabel Cristina e Teresa Almeida integraram a equipa que assumiu o EI.
2 Significativo desta preocupação do Movimento é, por exemplo, o facto de, sendo desejo
da Fundação a existência de uma equipa de quatro pessoas, duas das quais exteriores a
Águeda, se ter imposto, como condição de participação, a existência (para além dos
outsiders) de uma equipa de 8/9 pessoas, não necessariamente fixas, concebida à
semelhança da teia que sempre funcionara em Águeda.
3 ver Parte II do relatório EI
4 As relações no Movimento sempre foram marcadas pela informalidade.
5 Naturalmente, também do estímulo que representava o reconhecimento que o Projecto significava.
6 Um dos 8 membros da equipa EI.
7 Um dos 8 membros da equipa EI
8 Como vermos nas conclusões, não de forma tão ampla e profícua como se desejaria
9 e, nomeadamente, para a possibilidade que houve, também referida noutro lugar, de transformação do E. I. num espaço dinamizador da acção e da reflexão do Movimento como um todo
10 Não por acaso o verdadeiro salto do EI para dentro do movimento deu-se quando, em Junho de 2001, se suspendeu a reflexão que se planeara fazer (em intenção à investigação em curso) para debater longa e aprofundadamente a criseque atingia o movimento na sequência de constrangimentos nascidos de algumas políticas governamentais.