Parabén ICE!
... pelo 22 aninhos de projectos, intervenção, alternativa, coragem, liberdade,
resiliência...
Conheço-te, ICE, há já uns 15 anos, e ainda não paraste de me surpreender e
maravilhar. Proporcionaste-me, nestes anos, oportunidade de conhecer pessoas
fantásticas, solidárias, criativas, lutadoras.
Um aniversário é sempre uma ocasião de puxar pelas memórias. E a mim ocorre-
me mergulhar num canto da memória e apresentar um pequeno, marginal,
evento, que poucos recordarão. Teve lugar em Cacém/Sintra em Outubro de
2004 , justamente quando se comemoravam os 30 anos do 25A. Chamámos-lhe V
Fórum de projectos, na senda de um Movimento de Fóruns iniciado em1991. Na
realidade, acabou por se concretizar num encontro de 25 pessoas. Mesmo assim
NotICEasfoi marcante para nós que o preparámos e vivemos.
O grupo de trabalho foi constituído pelo Vitor Andrade, pelo Zé João, pela Ligia
Calapez, pela Celeste Parada e por mim. Um grupo que mantém um sólido
vínculo envolvendo os presentes e quem já se foi.
Cruzaram-se várias causas: a marginalidade, a deficiência, as pequenas escolas,
o ambiente, a água pública. Numa perspectiva de lucidez X cegueira: cada um
de nós é lúcido acerca de uma causa que conhece e milita, mas cego sobre
as restantes causas... ao encontrarmo-nos, numa perspectiva transversal,
partilhamos a nossa lucidez e restringimos a cegueira.
Do folheto do encontro (que sobreviveu nos arquivos da Ligia) trago este
testemunho, recuperado de um encontro anterior, nas margens da Manifesta
2003: “O que nos une? O mais divertido é que contrariámos o princípio do
pensamento único. Une-nos uma diversidade de coisas, une-nos alguma divergência
e algumas comunhões. Une-nos essa coisa que se chama de “descobrir onde está
a energia transformadora”. Une-nos o sonho, o sonho em comum, o sonho de
que é possível mudar as coisas. Une-nos o sentido da descoberta e da aventura. A
recusa de sermos uns seres passivos. Une-nos o trabalho em conjunto. Une-nos a
importância que damos às pessoas que estão na margem, que estão fora do centro,
da centralidade.”
A verdade é que essa diversidade continua a unir-nos: os vínculos do grupo
mantêm-se firmes. A Celeste, essa, é que nos deixou pelo caminho: já na altura se
queixava de dores de cabeça, pensávamos que era do tabaco... preparou ainda a
candidatura do projecto TEIAS, e ainda teve a alegria de o ver aprovado. Depois,
no início de 2005, morreu.
Nestes teu 22o aniversário, ICE, ofereço-te a Memória da Celeste Parada. Porque,
como, pouco antes de morrer, Morrie Schwartz disse a um seu discípulo “a morte
acaba com a vida, não com uma relação”.
E tu, ICE, és feito de tudo isso, dessa TEIA de relações e diversidade, que se
potencia e cria novos espaços, novas esperanças, novos mundos...
Parabéns ICE !
8-7-2014
Zé Tovar em dia de greve dos médicos
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