terça-feira, 17 de abril de 2007

Segunda-feira, 16 de Abril de 2007 HISTÒRIAS DE GENTE COMUM 1- Ouvi esta história no dia 10-4-2007. Contou o Sr. José Sousa, conhecido por Zé Pintor, residente na Borralha. Tem 76 anos agora, por isso a história refere-se à década de 30. Reproduzo de memória. «Sei ler, escrever e contar e tenho uma profissão, sem nunca ir à escola. Foi assim: nasci para os lados de Penela, num lugar que já não existe. O meu pai tinha a 4ª classe, coisa rara na altura. Sempre teve muita vontade que eu e o meu irmão estudássemos. Quando eu era pequenito costumava dizer a brincar: “tiras a quarta classe e ainda podes ser escrivão do Juiz!”. Quando fiz 7 anos matriculou-me na escola em Penela. Para ir para a escola era preciso andar pelos campos e atravessar um pinhal. Ora no pinhal havia resineiros, que com as suas machadinhas abriam lenhos nas árvores e colocavam malgas de barro para recolher a resina. Um deles resolveu meter-se comigo: veio a correr para mim com a machadinha ameaçando: “olha que eu capo-te”. Corri até casa a chorar de medo. Tal susto apanhei que foi impossível convencer-me a ir à escola outra vez… O meu pai andava desgostoso. As pessoas por ali começaram a dizer que, se me levasse ao médico, talvez ele me tirasse o medo… e os meus pais resolveram experimentar. Marcaram uma consulta e no dia combinado lá fomos os três, meu pai, minha mãe e eu, ao doutor. O doutor ouviu, e no fim sabem qual foi a solução que me deu? “ se querem que o vosso filho perca o medo, têm de fazer o seguinte: alugam um quarto na vila, uma pessoa para tomar conta dele… e vão ver como deixa de ter medo de ir à escola”. O meu pai não se deu por achado. Disse que ia pensar no assunto, pagou a consulta e veio embora. Dinheiro para alugar um quarto? Não havia… Mesmo assim não desistiu de me ensinar a ler – encarregou-se ele próprio da tarefa. Ao fim do dia, depois do trabalho, lá vinha a hora da lição. A casa era escura e para nos alumiar só tínhamos uma candeia de azeite. Um dia , estava eu a ler e ele a alumiar as letras com a candeiazita. A frase era «o Azeite na madeira faz nódoa». Eu lia «o azeite na madeira faz nódia» . Uma e outra vez e eu a repetir a asneira… enervado, o meu pai ia bater-me, mas como tinha a candeia na mão deu-me mesmo com ela. Fiquei ferido na boca e na cara. A minha mãe acudiu logo aos gritos: «tu não és em condições de ensinar o menino!» . A minha mãe era minha amiga. Acudia por mim. Mal ou bem, fui aprendendo. Durante o dia trabalhava na terra, cuidava dos animais… Tínhamos uma terra nossa, que na primavera cheirava a carqueja, alfazema, hortelã e se enchia de flores: parecia um jardim. A uma dada altura o meu pai tinha plantado uma árvores de fruto. Um dia disse-me: é preciso construir um murozinho à volta das árvores para as proteger. Junta-me umas pedras para eu fazer os muros. Só que eu quis fazer eu próprio os muros: empilhei as pedras e uni-as com massa. Quando viu aquele trabalho o meu pai admirou-se. “olha que tu até davas um pedreiro!” disse. A partir daí, colocou-me como aprendiz com um pedreiro. Assim comecei na minha profissão, tinha eu então 12 anos» 2007-04-16 Publicada por MJTovar em 19:06

segunda-feira, 9 de abril de 2007

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