Há um sorriso a entornar-se-lhe pelo rostosempre que saboreia um pedaço de vidaque lhe traga um gosto novopara descobrir e relacionar com a imensa teiaque percorre os múltiplos caminhosdo seu ser-com-tudo-o-que-se-move-nas-pessoas-e-no-mundo
Aliás a luz que há nesse sorrisotem a sua origem nas artes de escutar atentoe interpretar meticulosamente cada circunstância
É uma forma de respirar que até parece simplesapesar de toda a sua complexidade
O corpo é esguioa esticar-se pelos braços e pelas pernasaté às extremidadescomo quem procura chegar ainda um pouco mais longeem cada milímetro de vida
As mãos exprimem-se por palavrasque se soltam dos dedose voam em muitas direcçõesentrelaçando-se com pensamentos váriosaté que tocam o íntimo das coisas e de nós
O olhar vai fluindo como um rioàs vezes largo e transparenteoutras irrequieto aventureiroem rápidos e cascatas que se arriscamp’ra desbravar futuros
Mas voltemos um pouco mais atráscruzando o seu olhar na paz de alguns momentoscom o sorriso a emergir timidamentee descobrimos-lhe a porta dos afectosdos sabores dos humoresdo espanto perante o diae da sua abertura ao inesperado:-é então que o silêncio tão caladoganha a pura consistência da poesia
Só depois poderemos pintar-lhe o deambular dos passostacteando no espaço a pequena frestaque se possa enfim atravessaraté onde o ar corra livrementee surjam outros horizontes
Ao sol poente a sua sombra longilíneaadquire a densidade das memórias:-aí revivem tempos solitáriospalavras partilhadase encontros de muitas e muitas mãosgerando movimentos de mudançacom trocas de energiaentre a vida e os sonhos que a sustentam
(REMATE FINAL DO QUADRO PINTANDO O CENÁRIO COM REFERÊNCIAS A
ADÁGIOS POPULARES E Á ETIMOLOGIA DE ALGUNS NUMERAIS CARDINAIS
ATÉ QUE TUDO DESAGUA NUMA CANÇÃO DE JOSÉ MÁRIO BRANCO )
Quem aos “sessenta” não se sentouirá interpretar como condicionala primeira sílaba dos “setenta”e conjugará o ver
bo tentar sempre no presentepela estrada do tempo que aos “oitenta” levaem busca da resposta escondidaás perguntas que todos os dias se refazemcom muitos ses porquês e com quemperguntas animadas pela secreta esperançade que talvez algures pelos “noventa”venha a descobrir algo de novoque sacie a sua inquietação…
“Cá dentro inquietação inquietaçãoé só inquietação inquietaçãoporquê não sei porquê não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que está para acontecerqualquer coisa que eu devia perceberporquê não sei porquê não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que eu tenho de fazerqualquer coisa que eu devia resolverporquê não sei mas seique essa coisa é que é linda!
6 de Agosto de 2012
António Cardoso Ferreira
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