terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NO "SOBERANIA DO POVO": artigo sobre o associativismo em Águeda

Se os números dissessem tudo, o concelho de Águeda seria o paradigma do país. Um exemplo e um orgulho para todos. Existem em todo o concelho, declaradas, mais de centena e meia de associações desportivas, recreativas, culturais, musicais, de solidariedade social e outras.

Querem saber por onde anda o Vitor Andrade do ICE? Procurem aquii

PORTUGAL TRADICIONAL
O projecto Portugal Tradicional, que teve a sua inspiração em experiências francesas homólogas de aproximação dos autocaravanistas às explorações agrícolas, pecuárias e especialmente de produção de vinhos. A modalidade adoptada pelo Portugal Tradicional , pretendeu-se mais informal, isto é, os utilizadores não necessitarão de qualquer inscrição prévia ou quotização. Pretende-se deste modo proporcionar a junção entre o autocaravanismo e os espaços genuínos do nosso país. Estes espaços são: quintas agrícolas, produtores de vinhos, criadores de animais, complexos de produção de artesanato, associações e projectos de desenvolvimento local, etc... Apresenta-se deste modo uma variante turística caracterizada pela mobilidade, a gentes e locais que anseiam pela presença de visitantes, com quem possam conviver e mostrar os seus produtos.
Este tipo de fórmula de dinamização do autocaravanismo em conjunto com os espaços rurais tem uma clara aceitação em França, através das fórmulas France Passion e Bienvenue à la Ferme. Estas redes de locais de paragem já contam com mais de 1300 espaços aderentes, e com um percurso que já conta mais de 15 anos repletos de sucesso.
Este projecto é o resultado de um convénio entre o Portal CampingCar Portugal (www.campingcarportugal.com) e a ANIMAR - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local (www.animar-dl.pt).
É esta faceta que atrai os milhares de autocaravanistas, portugueses e estrangeiros, que percorrem o nosso país durante todo o ano, sem influências da sazonalidade. Esta actividade turística envolve estatísticas impressionantes, ao nível do elevado crescimento anual que se verifica no número de adeptos.
QUE
VISITAR?
A aldeia das 2500 cabras Covas do Monte é uma pequena aldeia escondida num dos vales da Serra de São Macário, em São Pedro do Sul. É aqui que se encontra um dos maiores, senão mesmo o maior rebanho do país. Todos os dias, 2500 cabras saem de manhã para a montanha, num ritual ancestral de pastoreio comunitário que envolve toda a pequena povoação de apenas 56 habitantes. Ao fim da tarde, no regresso à aldeia, os animais parecem saber de cor o curral e a porta certa. Covas do Monte é uma aldeia de rosto antigo, onde se encontra ainda um Portugal raro e já muito distante.

domingo, 18 de outubro de 2009

JOÃO DA MALHA (Poema em verso, mais tarde posto em prosa)- por Mário Simões Dias

O sol já se aproxima do poente,
Quando, ronceiro,
Quase aderente ao solo em que caminha,
João da Malha sobe lentamente
Pelo carreiro
Da Pedruguinha.
.
Leva a enxada ao ombro e, de olhar fito
Num ponto vago
Do infinito,
Seus olhos são batel que se perdeu
No grande lago
Azul do céu.
.
Ao chegar à courela,
Para um segundo;
Depois,com modos bruscos,agitados,
Empurrando a cancela,
Entra na leira que há bem poucos dias
Ainda era para ele um mundo
De cuidados,
De alegrias!...
.
Entra de manso,devagar,
Como quem vaifazer uma surpresa,
Ou vai para roubar!...
Friamente,olha em roda:
É ela, a Pedruguinha,
A sua leira,sua riqueza...
É ela toda,Toda inteirinha!...
.
Num arremeço,
Para afastar a sugestão que vem,
Como um torpêço,
Da terra mãe,
João da Malha, brusco,Empurra para fora, com a enxada,
O penedo negrusco
Que lhe veda a entrada.
.
“Quem poria aqui isto “?!...
E, fechando a cancela com barulho,
Parece desejar,
Ante o caso banal, mas imprevisto,
Impedir o pedregulho
De voltar.
.
Lento, começa
A caminhar pela vereda estreita,
Aberta ao longo da propriedade,
E, pesadão,
Grave, sem pressa,
Aqui se curva sobre um talhão,
Além ajeita,
Aqui contempla, mais além espreita
As mil promessas da novidade.
.
O sol ainda brilha, ainda há calor,
E, sob a luz que a banha,
A terra, a dar-se toda ao sol ardente,
Ao escaldante amor
Desse amigo distante,
Sente a volúpia estranha
De quem se entrega voluntáriamente
A dois braços de fogo devorante.
.
Amor fecundo,
Volúpia luminosa, enternecida,
Orgulho de sofrer no mais profundo Do seio materno ...
Contentamento da missão cumprida,
Renovo eterno
Da mesma vida!...
.
João da Malha
Não sabe definir tudo o que sente
E a terra lhe sugere;
Mas qualquer coisa que no ar se espalha
E que da terra vem,
Fá-lo pensar inconscientemente
Numa mulher
Que vai ser mãe.
.
E começa a lidar.
Por entre as couves altas, devagar,
Não vá tocar nalguma,
A enxada vai abrindo
Estreito rêgo, longo e coleante,
Por onde a água há-de saltar, sorrindo,
Levando a cada uma,
Após um dia sofocante,
Um pouco de seu frescor
Reanimador
E fecundante.
.
E João da Malha
Cisma, enquanto trabalha.
Porque não há-de ser assim?... A terra
Leva tudo o que um homem pode dar,
O trabalho, os cuidados, o suor,
E para lhe arrancar
Aquilo que ela encerra,
O vinho,o pão,
Senhor!...
Quanto martírio e quanta ralação!...
.
E depois, melindrosa que ela é!
..
Hoje p.rometedor e
Como um sorriso de criança,
Amanhã, quem a viu e quem a vê!
Porque caíu geada,
Porque o vento soprou, ei-la mudada,
Perdido numa hora,
Um ano de esperança!...
.
É o mildium na uva,
É a moléstia a dar nos batatais...
O bicho que roi tudo e tudo estraga...
A seca... a chuva...
A neve... os vendavais.,
.
Que às vezes também são behttp://www.blogger.com/img/blank.gifm boa praga!...
.
.
Ainda o ano passado,
As oliveiras a vergar ao peso
Do fruto já vingado,
E nisto vem um vento de tal raça,
Um furacão tão tezo,
Que deitou tudo abaixo!... Uma desgraça!...
.
E é isto a vida de quem sacha e cava
E rega e lavra e monda
E revolve hora a hor a terra ingrata!...
Olhos sempre no chão, vontade escrava
Da terra,que não sabe dizer bonda
A quem a amanha e trata.
.
Sempre uma lida insana!
Sempre a espinha dobrada
Sôbre a enxada,
Ou sobre a foice, quando a ceifa aponta!
E sempre a mesma cabana,
Sempre a mesma telha vã,
O mesmo caldo, e sempre incerta a conta
Do que se tem para amanhã!...
.
Os gozos onde estão?...
É só à noite uns dedos de cavaco
À porta da loja
Do Zé do Paleio,
Ou então,
Quando um homem se arroja
A perder um pataco,
Uma bisca lambida ou um sete-e-meio...
.
E daqui não se sai!
É como a roda do rio
Sempre na mesma cantiga.
O filho faz o que fazia o pai,
Sem uma fuga,sem um desvio,
Sem uma queixa pela fadiga.
.
Raio, que vida esta!
Até um homem deixa de ser homem,
Para ser uma besta,
Impassível diante do que sente,
Das mágoas que o consomem
Ininterruptamente!...
.
Solene como um rei, o sol declina,
Mas tão manso, tão sem pressa,
Que a gente imagina,
Ao vê-lo baixar,
Que o sol já começa
A sentir pena de nos deixar.
.
Em baixo, as casas da aldeia
Espalham-se no vale extenso e aberto
Ao ar e ao sol
E, mais além, num zig
-zag incerto,
A estrada nova coleia,
Lembrando gigantesco caracol.
.
Há manchas na paisagem,
Manchas amarelinhas de trigais
Em terras baixas de regadio,
Manchas verdes de folhagem,
O verde claro dos olivais,
O verde escuro dos pinheirais,
Grave e sombrio.
.
E ainda o verde tenro, amarelado,
Das vinhas que, com graça luninosa,
Trepam encosta arriba,
Mostrandoos cachos de ouro ao sol dourado,
Como dozela vaidosa
Que seus enfeites exiba.
.
Pelas altas montanhas,
Onde, por entre pedras calcinadas,
Nem musgo rasteiro espreita
Ou deita
Sua breve penungem,
Por essas terras altas, desoladas,
Há largas manchas castanhas
E velhos tons de ferrugem.
.
Mas a paisagem ri suavemente
E canta sob o sol que tudo alegra
E tudo acaricia.
Só João da Malha,olhando a terra, sente
Que a vida é negra,
Negra e sombria!...
.
............................................................................................
.
Alegre, verdejante, sossegada,
A Pedruguinha,
A meio do outeiro,
Fica em poial risonho alcandorada,
Como avezinha
No seu poleiro.
.
Não é grande, isso sim!...
Mas faz milagres o amor de quem
Trabalha no que é seu,
E assim,
A Pedruguinha amanhada,
Bem sachada,
Bem lavrada
Por quem a vida lhe deu,
Tem os aspecto de alguém
Que quiz pagar com bençãos todo o bem
Que recebeu.
.
Nela, ou por milagre ou por encanto,
O suor fez-se planta, fruto e flor,
A humildade vitória,
A luta canto,
E o gesto rude, para sua glória,
Benção e graça do Senhor.
.
Nela, tudo sorri,
As folhas largas como mãos abertas,
Que do cuval se estendem,
As longas vagem que pendem
Das vara dos feijoeiros,
As bojudas abóboras, que ali
Lembram calvas cabeças descobertas,
E os próprios rubros tomates
São risadas escarlates
Que irrompem dos tomateiros.
.
Ao canto do poial,
Robusta, musculosa, quase atlética,
A despeito de um ar suave de avozinha,
A figueira negral
Empresta certa estética,
Imprime certo tom patriarcal
À Pedruguinha.
.
E gentil, altaneira,
Ao ventozinho leve que começa
A soprar sorrateiro,
Um campinho de milho ondula,ondeia
E agita sorridente uma promessa
Em cada espiga cheia.
.
João da Malha
Conhece há muito tempo esse recanto;
Por lá brincou petiz
E, homem feito, já por lá trabalha
Há muito ano
Num labor insano,
Amanhando,
Sachando,
Semeando,
Levando a cada canto
A vida a uma semente, a uma raiz.
.
De tanto ver no solo projectada
A sombra do seu vulto,
Como figura animada
A repetir-lhe os gestos vigorosos,
Há dentro dele o sentimento oculto,
A secreta noção
De que os traços sinuosos
Da sombra que o retrata, muda e calma,
São, no solo que ele ama, a projecção
Do seu ser, em corpo e alma.
.
Na terra que cultiva,
Algo da sua vida se insinua
E se renova nas espigas cheias,
Alguma coisa bem viva,
Cuja vida já foi sua,
Sangue que já correu nas suas veias.
.
Por isso, limitada a aspiração
Da sua vida ao chão que lhe sorri,
Correm-lhe os dias naturais, felizes,
E sente-se irmão
Das plantas que ali
Colheram raizes.
.
Agora, porém,
Alguma coisa dentro dele existe
Que o faz olhar a terra misteriosa
De diversa maneira,
Alguma coisa o detém,
O traz alheio e triste,
O livra da atracção, tão poderosa,
Com que a terra o prendeu a vida inteira.
.
Constante sobresslato
Faz-lhe da vida frágil batelinho
Em luta no mar alto,
E a estrela cintilante,
Que do norte o guiava no caminho,
Como astro bendito,
Vagueia agora, fugitiva, errante,
Perdida no infinito.
.
Outrora
Seguia confiante a sua estrada,
Única aberta sob um sol de festa;
Agora
Vê-se diante de uma encruzilhada,
Sem decisão para tomar por esta
Ou por aquela estrada.
.
E contudo,
É preciso fixar-se, dar um norte,
À vida que não para,
E não cruzar os braços... sobretudo
Ter coragem, ser forte
E olhar a vida em frente, cara a cara.
.
E João da Malha, João da Malha
Cisma, enquanto trabalha.
.
Após imagem desenterra imagem,
Sucedem-se lembranças
De mil castelos que no ar ergueu;
É toda uma paisagem
Que dentro dele se estende e desenrola,
Num agitar confuso de esperanças,
De saudades da vida que viveu,
Fumo que ao longe se evola.
.
Porém, a sobrepor-se a tudo quanto
Sua lembrança evoca,
A afagar-lhe os desejos, a ambição,
Surge lá lomge, tentadora, envolta
Em misterioso encanto,
A terra da tentação,
A terra ardente, cuja luz sofoca,
Mas cujo seio, a abrir-se em pomos loiros,
É uma torrente à solta,
Um perpétuo jorrar de mil tezoiros!...
.
O Brasil!... O Brasil!...
O mistério, o país maravilhoso
Que as espumas ocultam!...
Como nos longes seus tesoiros mil,
Fazendas, cafèzeiros, sol radioso,
Aos olhos dele avultam!...
.
Muitas vezes ouvira já falar
Nesse caudal gigante que parece
Que no há-de ter fim!...
Mas até lhe custava acreditar
Que no mundo houvesse
Uma terra assim!...
.
Mas era verdade!
Ele bem vira, com seus próprios olhos,
Como o Cristiano do Sobral voltara:
Ar de cidade,
Notas aos molhos,
Um cheiro a rico de virar a cara!
.
Sempre bem posto,
Bem preparado,
Dedos cheios de aneis, Um riso de quem anda bem disposto,
E então tratado
Que nem os reis!...
.
Boa gravata ao pescoço,
Boa bota de verniz,
De polimento ou lá que raio é!...
Enfim, um brasileiro, um ricalhoço,
Que, pelo que se diz,
Nem sabe ao certo quanto tem até!...
.
Já se sabia que ele estava bem.
Ainda antes de vir,
Comprara o terreno da Ínsua da Vasa,
Que o Rasca vendera por não ter vintém!
E agora o Cristiano já dissera
Que ía construir
Uma grande casa,
Como ninguém na aldeia inda tivera!
.
Que tal seria a casa, era de ver!
Alta, caiada,
Varandas corridas,
E lá por dentro salas e mais salas!...
E ele, João da Malha, sem poder
Largar a enxada
Sempre amarrado à mais ruim das vidas,
A sofrer, a roê-las, a amargá-las!...
.
E tudo porquê ?
Porque não fôra, como o Cristiano,
Capaz de arremeçar consigo até
À outra margem do largo oceano.
.
Tudo porque deixara
A rotina lançar-lhe aos pulsos duros
Apertada cadeia
E porque desde então assim ficara,
Preso por ela, dentro dos muros
Da sua aldeia.
.
Forte imbecil!...
Sempre amarrado ao mísero torrão,
Feito escravo de todos!... Que papalvo!...
E o Brasil, o Brasil
Ao alcance da mão,
Que era só resolver-se e estava salvo!...
.
E afinal porque não se resolvia?!...
A todo o tempo é tempo de emendar
Um disparate, um erro!
Deitaria consigo, deitaria!
Era novo, sabia trabalhar,
Tinha uns braços de ferro.
.
Para a passagem, isso é que e
ra pior!...
Mas que diabo,
Não fosse outro o torpeço!...
Não tinha a Pedruguinha o seu valor?...
Vende-la-ia, pois então, e ao cabo,
Compraria mais terras no regresso.
.
Vendê-la-ia, sim,
E o que de lá mandasse em cada carta
Que escrevesse à mulher,
Raios a partissem se, enfim,
Não chegasse à larga,à farta
Para a tropa cá viver!...
.
E João da Malha,
Vendo-se já na terra abençoada
Das riquezas sem conta,
Já consigo sorria:
“Adeus, vida infeliz de quem trabalha!...
Adeus, alvião!... Adeus enxada” !...
A sua decisão estava pronta:
Iria.
.
.......................................................................................
........................................................ .
Cansado de cismar,
Reparando que o sol ía fugindo,
Que se acabava o dia,
João da Malha deixara-se tombar
Sobre uma pedra, a saborear, sorrindo,
A vida que antevia...
.
Em roda,
Uma paz suavíssima,discreta,
Descia sobre a terra toda
E, docemente,
Suavemente,
A tarde,com seus últimos lampejos,
Serena, quieta,
Fôra subindo pela vertente
E agora, presa nos altos cumes
Por fios breves, quase a quebrar,
Procurando outros céus a que se acoite,
A tarde, doce como os perfumes
Que andam no ar,
Mandava à terra seus mil desejos
De boa noite.
.
E a noite pelo vale,
Com levezas carinhosas,
Toda desvelo, quase amternal,
Já começava pousando
Sobre o fundo das quebradas
Seus novelos de sombras silenciosas,
Que apouco e pouco se iam desdobrando,
Desapertando
E avolumando,
Como compridas meadas
Desenroladas.
.
E nesse aproximar de sombra e luz,
Ambas suaves, ambas esbatidas,
Passa uma branda ternura
Que envolve, que alicia, que seduz...
Como se luz e sombra, assim inidas,
Tão serenas e calmas,
Espalhassem mais paz e mais doçura,
Mais quietação sobre as almas.
.
Mansa e mansa,
Como gotinha de água presistente,
Que teima em fazer branda a pedra dura,
Essa paz envolvente,
Respiração da terra que descansa
Em suave torpor,
Entra, penetra, acaricia e espalha,
A pouco e pouco, um singular frescor
Na alma obscura
de João da Malha.
.
E a noite cai.
A luz,cada vez mais esmaecida,
Cada vez mais distante,
É como nota perdida
Que se esvai,
Toda em ecos diluída,
Toda em suspiros de agonizante.
E João da Malha, pleno de esperança,
Sonha, enquanto descansa.
.
Uma voz doce como voz materna,
Baixinha e segredante,
Desprende-se de tudo o que o circunda,
Sombra de voz, macia e terna,
Que vem, sabe-se lá!... da luz... do instante...
Do céu... da terra... do espaço...
Sabe-se lá!... mas que de paz o inunda
E o toma todo, co
mo um longo abraço!...
.
.
A princípio não sabe donde parte
Esse fio de voz;
Parece-lhe que vem de toda a parte
E de parte nenhuma,
Num sussurrar de estranhos fala-sós,
Embuscados, ocultos pela bruma.
.
Depois, pouco a pouco, a voz ressalta
Do silêncio, mais nítida, mais clara,
Mais alta,
Num segredar nenos incerto,
E João da Malha então repara
Que a voz lhe fala ali bem perto:
.
“Ouve, João da Malha, escuta um pouco:
A noite desce por sobre nós;
Que funda mágua a minha!...
Não sabes quem te fala? Pobre louco!...
Já não conheces a minha voz,
A voz da tua amada Pedruguinha!...
.
Há meia hora que chegaste aqui,
E, enquanto trabalhavas,ou fingias
Que trabalhavas, distraído e lento,
Fui procurando decifrar em ti
O enigma que escondias
No fundo do pensamento.
.
E decifrei-o,
Mas como decifrá-lo me custou,
Me encheu de mágua e de receio!
Como cada raiz em mim cravada
Se contraíu de espanto e se quedou
Entristecida, pasmada!...
.
Pois quê, vais-nos deixar?!...
Vais cortar esse laço que nos liga
Há tantos anos?... Senhor!...
Como se pode assim despedaçar
Uma união tão funda e tão antiga,
Sem tremer de pavor?!...
.
Há quantos anos, quantos, aqui vinhas
Todos os dias, sem faltar nenhum,
A rodear-me sempre de cuidados!
E que cuidados tinhas,
Não fosse faltar-me algum,
Nos dias próprios, de antemão marcados!...
.
Eu já sabia:
Se o sol em agosto me abrasava em fogo
E me tomava a sede angustiante,
A tua enxada surgia,
Solícita,abrindo logo
Caminho ao veio de água refrescante.
.
E quando, findo aquele esforço ingente
De produzir mil frutos, me quedava
Exausta, ao cabo da missão cumprida,
A tua mão deligente
Logo vinha e me estrumava,
A dar-me força nova e nova vida.
.
Por isso me entregava toda inteira
A cumprir meu destino, satisfeita
De o ter tão alto e tão nobre,
E sofria, e lutava de maneira
Que no dia festivo da colheita,
Nesse ao menos, tu fosses menos pobre.
.
Com que profundo orgulho,
Com que estremecimentos silenciosos
De um amor ignorado,
Te via, triunfante, ao sol de Julho,
Erguer as mãos e, nelas, gloriosas,
Os frutos que só eu te havia dado!...
.
Era um encantamento,
Uma hora de comoção, Para mim, a da ceifa!... Num momento,
As foices, vibrando,
Cortavam então
Espigas que de há muito, sem cessar,
Eu vinha criando
Só para tas dar!...
.
Nem tu calculas a ternura imensa
Com que eu alimentava, dia a dia,
Cada humilde semente,
Sem aspirar a outra recompensa,
Além da alegria
De te ver contente!...
.
Mas como o tempo foge!...
Como tudo se extingue, se desfaz
Por sob o azul dos céus!...
É breve e fugitivo o dia de hoje!
Como tudo é fugaz,
Neste mundo de Deus!...
.
Tudo afinal acaba! De hoje em diante,
Não mais procurarás tornar a ver-me,
Para que eu te não lembre a minha dor;
Eu ficarei esperando instante a instante,
Passiva e enerme,
O dia em que hei-de ser de outro senhor.
.
Como isto me apavora!...
Como a separação que se aproxima
Me faz estremecer!...
Dentro de mim, cada raiz te chora,
Cada semente obscura se lastima
Da vida que vai ter!...”
.
Cala-se a voz da terra angustiada.
Em volta, a noite, abrindo longamente
Suas asas de sombra,
Ficara absorta, parada,
Suspensa dessa voz que, pungente,
Até a própria escuridão assombra.
.
Atentas sentinelas
Espalhadas nos céus silenciosos
Como dourada poalha,
As primeiras estrelas
Parecem olhos a espreitar, ansiosos,
O pobre João da Malha.
.
E João da Malha sente aquele olhar,
Sente que tudo em roda
Espera seja o que for,
E parece esmagá-lo esse esperar
Da terra toda
Em redor!...
.
Sùbitamente,
O atavismo de trinta gerações,
Que da terra viverm dia a dia,
Acorda nele o grande amor latente
Que, como brasa a arder sob tições,
Dentro dele existia.
.
“Tens razão, Pedruginha!
Como pude eu alimentar a ideia
De um dia te deixar?!...
A tua vida está ligada à minha;
Somos dois elos de uma cadeia,
Não nos podemos separar”!...
.
E enquanto os astros sobem no horizonte,
João da Malha,
O heroi obscuro, o eterno lidador,
Põe-se a caminho, levantando a fronte,
Como no fim de uma batalha
Um rei que fica vencedor.
.
.
Coimbra, 31-12-1940

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

WORKSHOP Associativismo, Participação, Democracia e Sustentabilidade

Data: 23 de Novembro de 2009
Local: Parque Alta Vila (Águeda)
Dinamizador: Dr. Rui D’Espiney (ICE)
Entidade promotora: Centro Social Infantil de Aguada de Baixo e Instituto das Comunidades Educativas (ICE)
PARTICIPAÇÃO GRATUITA
O porquê desta iniciativa:
A maioria esmagadora das associações confrontam-se com uma precariedade permanente, com a dificuldade de conseguir assegurar a sua sustentabilidade. Com esta questão surge o conceito de democracia participativa.
A Constituição da República Portuguesa contempla quase de igual modo a Democracia Representativa e a Democracia Participativa, havendo, no entanto um tratamento bem distinto. Enquanto que na primeira são concedidas todas as condições de sustentabilidade suportadas pelo orçamento de Estado, na segunda nenhum meio material é suportado. No entanto, ambas são estruturantes do funcionamento da nossa sociedade.
Promover a Democracia passa por viabilizar as condições do exercício da Democracia Participativa, isto é, passa por proporcionar a sustentabilidade material das iniciativas e estruturas que promovem a participação, de entre as quais se destacam as Associações. Mas, longe de serem encaradas como focos de promoção e produção de participação, as Associações são tratadas enquanto meras empresas prestadoras de serviços: apenas pelo que fazem e não pelo que são.
É tendo por propósito contribuir para que as associações se conscientizem quanto ao seu papel na promoção e produção de cidadania e na construção de uma sociedade democrática e solidária que surge esta iniciativa.
OBJECTIVOS Promover a reflexão conjunta sobre princípios-chave para o exercício da cidadania;
Promover a reflexão sobre a requalificação da Democracia Representativa;
Criar movimento social no sentido da conscientização;
Promover a defesa da sustentabilidade económica do associativismo, enquanto condição necessária ao funcionamento da democracia como um todo;
Implicar as associações nos domínios de acção;
Promover o associativismo como espaço de cidadania e forma organizada da democracia participativa;
PROGRAMA Período da manhã (10h – 13h) O que se entende por democracia participativa?
O que faz dela um projecto e uma prática política reivindicativa?
Pausa para almoço (13h – 14h30) Período da tarde (14h30 – 17h30) O que é o Associativismo Cidadão?
Quando é que este é uma componente da democracia participativa?
Como podem as associações aprofundar o exercício da cidadania?
Plenário FICHA DE INSCRIÇÃO (Participação gratuita) Nome: _________________________________ ________________________________________ Profissão: ______________________________ ________________________________________ Instituição/ Serviço:____________________ ________________________________________ Telefone: ______________________________ Telemóvel: _____________________________ E-mail: ________________________________ ________________________________________ Enviar para: Centro Social Infantil de Aguada de Baixo Av. José Augusto Rodrigues Seabra 3750 – 031 Aguada de Baixo Tel: 234 666 590 Fax: 234 667 009 E-mail: censi@portugalmail.pt
NOTA: A inscrição poderá ser efectuada por correio, e-mail, telefone ou fax, desde que contenha os dados acima solicitados.

Rui D’Espiney no Barreiro - Falou sobre a possibilidade de exercer cidadania nas escolas

O exercício da cidadania é a capacidade de questionar, resolver problemas e impor alternativas, segundo Rui D’Espiney. “Resistência pró-activa é a verdadeira cidadania”, referiu o orador, salientando a importância dos “actores” das escolas terem a capacidade para produzir as soluções que melhor se adequam.

HEROI OBSCURO - por Mário Simões Dias

Humilde lidador do chão daninho
Que vais, sol a sol, enchada erguida,
Rasgar a terra, como a abrir caminho,
Como a levar a terra de vencida!...
.
Em teu lidar constante eu advinho
A força antiga,que julguei perdida,
O esforço criador do pão,do vinho,
Da alegria afinal da própria vida
.
Humilde lidador, neto distante
Desse outro herói, que, a golpes de montante,
Fêz a nossa terra deste canto em flor!...
.
Também tu, sob os sol, a tez queimada,
Ganhas, a golpes da robusta enxada,
O nome heroico de conquistador
.
M.Simões Dias

domingo, 11 de outubro de 2009

Mário Simões Dias - No Diário de Notícias 5-2-1930

Do Diário de Notícias 5-2-1930:
É amanhã que se realiza no salão do conservatório o anunciado recital de Mário Simões Dias, que, como os precedentes, tem interessado vivamente o nosso meio artístico musical, sempre ávido de aplaudir aquele insigne artista e delhe testemunhar a admiração que lhe consagra.
Simões Dias é um temperamento de eleição, um «virtuose» que arrebata e apaixona e cuja legião de admiradores é imensa e vai-se avolumando dia a dia num crescendo constante, à medida que à sua gloriosa carreira se vão cimentando novas páginas de triunfos. Achamos interessante, a propósito deste recital, fornecer aos nossos leitores alguns dados biográficos de Mário Simões Dias.
Nasceu em Coimbra a 2 de Junho de 1903, vindo aos 6 anos para Lisboa, onde seus pais fixaram residência, tendo-se manifestado algum tempo depois os primeiros sintomas do mal que aos 10 anos lhe roubou a vista.
Desde muito criança se notava em Mário Simões Dias grandes aptidões musicais, que com o tempo se foram evidenciando e afirmando duma forma indiscutível, a ponto das provas espontâneas do seu temperamento artístico levarem os pais, por conselho de Cecil Mackee, então empresário do sr Carlos, a confiar a educação do novel talento ao grande mestre F. Benetó.
Benetó viu sempre em Simões Dias um dos seus melhores discípulos, e do convívio destes dois espíritos privilegiados nasceu uma amizade que ainda hoje subsiste.
A 8 de Junho de 1925 realizou o seu primeiro recital em Lisboa, no salão da Liga Naval, com um programa do qual fazia parte o celebre concerto op 61 de Beethoven.
Em Fevereiro de 1926 executou, no Teatro do Gimnasio, com a orquestra de Fernandes Fão, o concerto de Max Bruck.
No dia 2 de Maio do mesmo ano apresentou-se ao público do Porto, no salão nobre do Centro Comercial, sendo entusiásticamente aplaudido.
Todos estes concertos valeram a Simões Dias referências elogiosas em toda a imprensa de Lisboa e do Porto.
Animado por estes triunfos consecutivos e aspirando à perfeição da sua arte, quis ouvir e receber conselhos dos grandes mestres estrangeiros.
Em 1926 fixou residência em Paris, donde há poucos meses regressou.
Durante estes três anos ouviu os ensinamentos do grande mestre Lucien Capet, com que privou largamente e cuja morte inesperada profundamente o impressionou.
Embora fosse Capet o seu mestre preferido, doutros ouviu ainda os preciosos ensinamentos. Mário Simões Dias várias vezes se apresentou ao público francês, que muito o apreciava, dando recitais não só em Paris como também fazendo-se ouvir com grande sucesso e inúmeros aplausos em Biarritz e St Jean de Luz.
Em Paris, além de ter tomado parte nas «matinées» de Henri Pruniéres, director de «la Revue Musical», de ser ouvido no Grande Hotel Continental em colaboração com o eminente pianista Marcel Ciampi, etc, Mário Simões Dias realizou o seu último recital em Abril de 1929 na sala «Chopin» da Casa Pleyel, que mereceu de exigentes críticos parisienses, como Marcel Beruhein, Genis Mussy , Pierre Wolf e outros, justas e lisongeiras apreciações. No verão de 1929 regressou a Portugal, fixando residência em Coimbra, onde fundou com seu pai e o Dr Câmara Leite a Academia de Música de Coimbra, Instituto Particular a que o Governo concedeu a vantagem de nele serem feitos os exames do Conservatório.
Sem deixar a sua vida de concertista, Mário Simões Dias trabalha afincadamente no engrandecimento da sua Academia, que tem para Coimbra um extraordinário valor.
Sacrificou à música toda a sua vida, mesmo a sua vocação para as letras, revelada auspiciosamente num livro de versos denominado «Outonos» , publicado em 1921, a que se seguiu um poemeto, «Puríssima», obras estas em que largamente foi demonstrada a sua sensibilidade de artista e que mereceram elogios de toda a crítica.
É, pois, um verdadeiro artista em toda a acepção da palavra,Mário Simões Dias, a quem o nosso público irá dispensar, mais uma vez, a sua carinhosa admiração.
Já poucos bilhetes restam para este recital, atendendo ao valor de Mário Simões Dias, podendo-se obter os poucos que restam no salão Neuparth, da rua nova do Almada; Casa Sassetti, ,, da rua do Carmo, e joalharia do Xavier de Carvalho, da rua Áurea.

Dar corpo a um Movimento Social em torno do Associativismo e da Democracia Participativa - Rui D'Espiney

1.A Constituição da Republica Portuguesa contempla, quase diríamos com igual dignidade, a Democracia Representativa e a Democracia Participativa. Dela ressalta com clareza que uma e outra são estruturantes do funcionamento da nossa sociedade.
O Tratamento que lhe é dado, na prática, a cada uma destas formas de democracia é, no entanto, bem distinto:
- À Democracia Representativa são concedidas todas as condições de sustentabilidade suportadas que são, pelo orçamento de Estado, as várias despesas com o seu funcionamento (inclusive as efectuadas em ordem à competição entre concorrentes).
- À Democracia Participativa nenhum meio material é facultado. O Estado não contribui com um cêntimo para a sua viabilização.
Dito de outra forma garante-se a Representação mas não se investe na Participação e porque a Democracia Plena só existe quando uma e outra funcionam pode, de facto, dizer-se que a nossa Democracia está coxa.
2. Promover a Democracia passa, na verdade, por viabilizar as condições de exercício da Democracia Participativa, isto é, passa por proporcionar a sustentabilidade material das iniciativas e estruturas que promovem a participação de entre as quais se destacam as formas organizadas de DP que são as Associações. Não é, no entanto, isso que acontece: longe de serem encaradas como focos de promoção e produção de participação as Associações são tratadas enquanto meras empresas prestadoras de Serviços: apenas pelo que fazem e não pelo que são.
Em boa verdade acabam por ser tratadas pior que as empresas pois, ao contrário do que sucede com estas, o valor dos bens produzidas pelas associações não incorpora as despesas de funcionamento nem tão pouco, com frequência, de trabalho (o calculo do valor da hora do mecânico que nos arranja o automóvel inclui as amortizações e as despesas de logística da oficina; o funcionamento dos projectos desenvolvidos pelas associações não só não as inclui, na maioria das vezes, como exige, quase sempre, uma comparticipação nos gastos).
3. É tendo por propósito possibilitar que a Democracia Participativa se afirme como dimensão estruturante da vivência politica económica da nossa sociedade …
É tendo por propósito impor que o associativismo seja tratado e encarado como forma organizada (promotora e produtora) de Democracia Participativa…
É, enfim, tendo por propósito contribuir para que as associações se conscientizem quanto ao seu papel na promoção e produção de cidadania e na construção de uma sociedade democrática e solidária,
……. que nos parece fazer todo o sentido dar vida a um movimento social que chame a si:
- A clarificação e promoção dos princípios que o devem enformar e informar e que se podem traduzir em algumas palavras chave como: autonomia, participação sociabilidades, solidariedade, rebeldia e politicidade;
- A requalificação da Democracia Representativa que, nascida de movimentos sociais tende hoje a dissociar o politico do social, a incompatibilizar o nacional com o local e a contrapor representação e participação;
- A assumpção do carácter de alternativa social, cultural e económica que caracteriza grande parte das associações e iniciativas congéneres,
- A defesa da sustentabilidade económica do associativismo, enquanto condição necessária ao funcionamento da democracia como um todo.
A realização de um congresso programático do Associativismo e da Democracia Participativa coroará o desenvolvimento deste movimento, se funcionar como espaço de interpelação, de questionamento do poder politico, de auto-questionamento dos comportamentos e de revindicação.
4. Naturalmente, quer-se que este movimento não pense apenas para fora mas também para dentro. Um conjunto de questões endógenas a ele terão de ser, com efeito e necessariamente, objecto de reflexão no congresso e no próprio processo da preparação. Por exemplo:
- O que se entende ao certo por democracia participativa? O que faz dela um projecto e uma prática política e reivindicativa?
- O que é o Associativismo Cidadão? Quando é que este é ou não é componente da democracia participativa (isto, tendo-se presente que grande número de associações tende a mover-se por uma lógica empresarial e que há associações actuando em diferentes domínios que podem, ou não, ser pertinentes para a Democracia Participativa)?
- Como podem as associações aprofundar o exercício da cidadania? Como ultrapassar fenómenos de caciquismo e burocratização?
5. Mas se estas são questões, digamos comportamentais, que importa definir, espera-se que naturalmente do movimento nasçam ideias sobre os aspectos do relacionamento do associativismo com o Estado e a DR, tais como:
- A forma justa de ressarcimento pelos bens de interesse publico que produzem;
- As diferenças que apresentam face ao mundo das empresas e as implicações que daí resultam em termos de financiamento e fiscalidade;
- O lugar que devem ocupar (e não apenas as associações mas também as populações) nas audições politicas, nas concertações sociais e nas políticas orçamentais.
6. O lançamento deste movimento, que agora se inicia, fez-se numa reunião para a qual foi convidada cerca de uma dezena de associações escolhidas por meras razões de proximidade e conhecimento mútuo e tendo por leitmotiv imediato a situação de precariedade em que grande parte delas vive.
O objectivo desta reunião vai, no entanto, muito para além do seu âmbito e das intenções que a motivaram.
Em primeiro lugar, quer-se que ela seja o despoletar de um Movimento amplo e abrangente, procurando-se, nomeadamente, implicar, na promoção, mais regiões e domínios de acção. Nesse sentido as Associações, presentes na reunião havida, são chamadas a animar encontros a nível local/regional em que se impliquem todos os possíveis potenciais interessados.
Em Segundo lugar, quer-se que o movimento funcione como um processo de consciencialização, de definição de linhas de acção e de princípios orientadores: o Congresso deverá surgir como a consagração de uma caminhada.
Em terceiro lugar, quer-se assegurar que o Movimento e as suas propostas ganhem visibilidade, o que passa por um forte investimento na divulgação das suas propostas e dos seus sucessos através, nomeadamente, de um Blog.
7. A utilidade de fixar metas aponta para a necessidade de desde já se agendar a data da realização do Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa, sugerindo-se, para tal, a primeira quinzena de Novembro 2010. Deverá ter lugar em Tondela.
A próxima reunião promotora será no ISCTE no dia 21 de Novembro de 2009, a partir das 14h30, reunião onde se deverá contar com mais participantes: In Loco Associação de Chãos, UMAR, …
Até lá, espera-se, serão realizadas as varias reuniões das locais/regionais previstas: em Viseu, promovida pela ACERT, a ADRL e o Olho Vivo; em Gouveia, organizada pelo GAF; no Minho sob a responsabilidade da ADRL e da AJD; em Lisboa/Setúbal, dinamizada pelo ICE; no Porto da Iniciativa da Gesto e em Évora a partir da Pé de Chumbo.
Aguardam-se propostas de associações que assumam a dinamização de reuniões em Trás-os-Montes, no Algarve e no Nordeste Alentejano.
Pode ser um impulso a este processo a oficina que se realizará em Águeda no dia 23 de Novembro e que, prevê-se, se abrirá à participação de associações da Região Centro.
Rui D'Espiney

sábado, 5 de setembro de 2009

GRIPE A: Blogs pela racionalidade

Bravo Espanha! perante a loucura das respostas à epidemia da gripe A levantam-se os BLOGS "-por primera vez en el mundo, 40 blogs de los más populares e influyentes, de profesionales sanitarios, todos al tiempo, promueven una postura común -en este caso, de racionalidad frente a la gripe A, de sentido común y tranquilidad -más en www.equipocesca.org -juan gérvas "

terça-feira, 28 de julho de 2009

Manifestário

(texto produzido na MANIFESTA pelo grupo da Saúde
Compilado por LIGIA CALAPEZ
)
- As intervenções no Seminário sobre “Intervenção Comunitária a partir da Saúde” e na Tertúlia “Para onde vai a organização da Saúde em Portugal” assim como os resultados dos 75 questionários “Olá! Como vai essa Saúde?” recolhidos entre os participantes na ManiFesta (Peniche/2009) demonstram a predominância duma sintonia em torno da visão da Saúde em interacção com a conscientização e com uma praxis solidária, componentes essenciais do processo de Desenvolvimento.
Esta é uma perspectiva animadora que contém potencialidades para superar as pressões do verticalismo das políticas e da gestão da Saúde, bem como do economicismo. Os processos de enquadramento a partir de programas verticais e critérios economicistas podem prejudicar – e têm prejudicado - gravemente as transversalidades, a criatividade e os dinamismos locais. A base territorial comunitária é a nossa arma para contrariar essas forças.
Apercebemo-nos que existe um potencial dentro das nossas comunidades que não foi destruído (de modo paulatino e sistemático), até agora, pelo sistema capitalista neo-liberal.
A saúde como porta de entrada
Os ventos já foram mais desfavoráveis ao desenvolvimento da relação positiva entre Saúde e Desenvolvimento Local, medeada pelo Estado Solidário e pelas comunidades – a intervenção do Estado e a importância da solidariedade a nível comunitário foram reforçados ultimamente em virtude da crise económica.
Num momento de crise – nomeadamente na área da saúde – importa perguntar: o que está em crise? O Estado Providência ou as lógicas produtivistas, os neo-gestores de empresas dominando políticas estatais? Importa reafirmar conceitos de saúde que se entrelaçam com educação, cultura, ambiente, solidariedade, cidadania e valorizam as pessoas e comunidades como sujeitos principais dos processos de desenvolvimento comunitário. Perspectivar a crise como uma oportunidade.
A saúde reveste-se assim de uma dimensão política, que deve ser assumida e explicitada, numa óptica abrangente, abarcando níveis comunitários, de cidadania, sócio-ambiental. Destaca-se como uma das dimensões da cidadania, uma porta de entrada e componente essencial da construção colectiva de uma dignidade partilhada, que é o desenvolvimento. Desde que dela se consiga fazer uma porta de entrada para todas as outras dimensões – social, económica, educativa -, partir para a compreensão do todo.
Assume-se como a capacidade de cada comunidade para criar e lutar pelo seu projecto de desenvolvimento, com raízes na sua cultura, crescendo a partir dos recursos existentes e orientado para o bem-estar/mais ser das pessoas que constituem essa comunidade.
Esta dimensão política da saúde implica ainda a participação no processo de pensar e não apenas no processo de fazer; um olhar sistémico; congregar os pequenos projectos; divulgar processos de intervenção comunitária.
Entretanto, as situações de emergência social que vão surgindo em virtude desta crise exigem grande esforço e empenhamento dos serviços e iniciativas para dar o “peixe que faz falta” porque nesta fase é fundamental evitar o agravamento das assimetrias.
Também é fundamental garantir a essencialidade dos Cuidados de Saúde Primários, continuando estes a dar prioridade aos princípios da Equidade, da Acessibilidade e da Proximidade, à atenção especial aos grupos vulneráveis, à dinâmica das transversalidades e à visão sistémica da Saúde como componente do Desenvolvimento.
Os modelos de avaliação adequados à Intervenção Comunitária são de grande importância neste momento, sendo fundamental que sejam desenvolvidos e aplicados a todos os projectos de Desenvolvimento Local e não só naqueles que tenham a Saúde como ponto de partida.
A Saúde é um assunto demasiado sério para ser deixado exclusivamente a cargo dos profissionais de saúde e ainda menos a cargo dos gestores tecnocratas.
Que fazer?
Assumindo que a «boa» Saúde é a finalidade
(desejada) de todo o trabalho de Desenvolvimento Local e que o cumprimento deste desígnio passa por:
* incrementar a intervenção comunitária, combinando ADLs e instituições de saúde (privadas, associativas e do Estado);
* incorporar projectos de promoção da saúde no âmbito das Redes Sociais;
* qualificar a gestão e humanizar os serviços de saúde de acordo com critérios baseados na avaliação dos ganhos em Saúde;
* preservar e desenvolver o SNS como suporte fundamental do desenvolvimento da sociedade e, como tal, um investimento estruturante para o Bem-estar e Equilíbrio das nossas comunidades, bem como para a promoção da Saúde numa perspectiva sustentável e de longo prazo. *Assim, devemos:
* desenvolver sistemas e práticas de avaliação partilhada e formativa que para além de gerarem a cooperação qualificada promovam o sentido de responsabilidade individual e colectiva dos cidadãos e dos técnicos na promoção das melhores condições de Saúde do indivíduo e da comunidade;
* desenvolver o comprometimento mútuo dos indivíduos, das comunidades e das organizações (designadamente dos técnicos e gestores que nelas operam) na promoção da Saúde. Daí a importância de se investir numa relação cada vez mais horizontal e recíproca entre Centros de Saúde e comunidade envolvente, tendo em vista a promoção da Saúde integrada no Desenvolvimento Local;
* desenvolver a cultura de trabalho em equipa a partir do potencial ainda existente dentro das nossas comunidades.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

terça-feira, 31 de março de 2009

ENTRAVES À CRIAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES

Quem quiser saber mais sobre este tema visite o blog do Manuel Tovar

sábado, 28 de março de 2009

ice/Instituto das comunidades educativas folha informativa


Publiquei aqui a folha informativa do ICE, para que fique acessível a todos. Ficou um bocadinho desformatada... mas mesmo assim poderá ser útil
26 de março de 2009 13:55

MARÇO 2009

Contamos consigo!

O apelo que lançámos em 2008 aos amigos do ICE para que afectassem 0,5% da massa

tributada, saldou-se por um considerável sucesso: recebemos mais de 14 mil euros, o

que significa que algumas boas centenas de pessoas responderam: “Presente”. (No ano

anterior, o primeiro em que tal funcionou, pouco mais entraram do que mil euros).

Está longe de ser suficiente. Pouco mais deu do que para cobrir as despesas que

temos com o aluguer das instalações que ocupamos.

Mas já foi uma grande ajuda e se todos os que em 2008 asseguraram este contributo, o

fizerem de novo este ano, conseguindo-se, em acréscimo, que pelo menos mais dois

amigos o façam também, poderemos, talvez receber o suficiente para suportar os gastos

correntes com o funcionamento.

É este o desafio que lançamos aqui e agora, recordando-se mais uma vez, que é esta

uma forma de apoiar o ICE sem que tal signifique um qualquer sacrifício pessoal: a

verba por esta forma afectada ao ICE – ou a qualquer outra instituição por que se opte -

não sai do bolso de quem faz a doação, sim do Estado.

Recorde-se que para a sua concretização basta que na declaração de rendimentos

entregue nas finanças, se preencha o anexo H - que se destina precisamente a

contemplar situações de benefícios fiscais como por exemplo os gastos com saúde e

formação – inscrevendo na segunda linha, do item 9, o número de contribuinte do ICE

(502 827 564) assinalando, com uma cruz, o quadrado que antecede essa linha.

Um Passo para a Viabilização

Económica do ICE

Dizíamos em Março de 2008, no número anterior desta publicação, que o momento era de refluxo social, com os profissionais fechados nas suas rotinas, afastados

de práticas cidadãs que conduzam à sua emancipação. Dizíamos também, que apesar dessa realidade, era francamente positivo o balanço que o ICE fazia ao trabalho que vinha animando.

Talvez por não termos desistido, talvez porque a adversidade ensina e consciencializa, a verdade é que hoje existem sinais de reacção. Que o diga o “boom” de professores e educadores que aderiram a vários dos nossos projectos; que o diga o movimento de pais

que em Santiago se erigiu em torno da defesa do projecto de intervenção precoce “Antes Que Seja Tarde”; que o diga o número crescente de apelos que recebemos para apoiar iniciativas orientadas para a mudança; que o diga, enfim, a autosustentabilidade

alcançada por muitas das nossas dinâmicas.

O medo não desapareceu. O fechamento das instituições sobre si próprias, em alguns casos acentuou-se. As condições de exercício de cidadania revelam-se cada vez mais desfavoráveis… Mas há no ar um “basta!” que começa a ser dito e que promete,

sem duvida um novo ascenso do movimento social.

Talvez não no imediato, mas inegavelmente a médio prazo.

Persistente no refluxo – como bem o mostra a riqueza das experiências que se descrevem nesta folha – está naturalmente o ICE preparado para contribuir para o

ascenso que se perspectiva.

Para tanto, temos apenas que ultrapassar as dificuldades que enfrenta ao nível da sua

sustentabilidade material – essa sim critica, ditadas que são por politicas de financiamento que tendem cada vez mais a privilegiar o Estado, a seguir as suas orientações e a favorecer um núcleo restrito de eleitos e favorecidos… tendência de que é um bom exemplo um projecto nosso que não foi financiado pelo IPAD, Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, não só por discordância com o paradigma que enforma a orientação da acção do ICE, como, sublinhe-se, pelo facto de não nos incluirmos no número de entidades que beneficiam do apoio dessa instituição publica (confessando, assim, explicitamente uma prática clientelista).Mas como diria Montalbon, “as viagens

precisam de obstáculos”.

FOLHA INFORMATIVA 3

Nota de Abertura

2

Desde 1994 que a ANIMAR – Associação de

Desenvolvimento Local, tem promovido e organizado um

evento de grande dimensão, em termos de

desenvolvimento local, a MANIFesta, - cuja congregação

de palavras significa, precisamente, manifestação em

festa. Este evento traduz-se numa grande manifestação

das organizações ligadas ao Desenvolvimento Local e

numa festa de raízes eminentemente populares.

A preparação e organização da MANIFesta de 2009,

actualmente em curso, assenta num figurino e numa

estruturação e participação diferentes das anteriores

passando, num primeiro momento, pela selecção de um

conjunto de organizações ligadas ao desenvolvimento

local, espalhadas por todo o país, as quais indicaram,

cada uma delas, uma pessoa para frequentar uma

Acção de Formação, com o objectivo de preparar

dinamizadores regionais (num total de 15), capazes de

fazer, a nível de cada local ou sub-região, o

levantamento, discussão, informação e mobilização das

pessoas, organizações, recursos, mostras culturais e

artesanais, produtos diversos, convergentes no sentido

da MANIFesta.

Durante os períodos da Prática em Contexto de

Trabalho foram organizadas pelos

formandos/animadores e pelas organizações que

representam, Assembleias Regionais em várias regiões

do país, nas quais participaram várias dezenas de

pessoas, traduzindo-se estas Assembleias numa

primeira manifestação da vontade das organizações do

poder local, em participar activamente no

desenvolvimento do seu local ou região. Estas

Assembleias foram, de facto, momentos de participação,

debate, reflexão, intervenção e articulação de

esforços, troca de saberes e de experiências; foram,

em suma, um contributo imprescindível para a procura

de uma planificação estratégica de intervenção no

desenvolvimento local, o qual culminará com a

realização da MANIFesta.

O ICE, enquanto Associação ligada ao

desenvolvimento local, participou, não apenas na

organização daquela Acção de Formação, mas também

na idealização do novo modelo conceptual por que

passa toda a envolvência organizativa e de mobilização

da MANIFesta 2009.

Estamos certos de que esta vai ser uma demonstração

de cidadania e da vontade das populações em participar

activamente na vida económica, social, cultural e política

do seu país, região ou localidade. Será, invariavelmente,

um importante contributo para que o conceito de

cidadania deixe de ser passivo e se torne numa

participação dinâmica, activa, actuante, interventiva,

legitimadora de direitos e deveres cívicos, galvanizadora

de vontades, criadora de condições para que cada

elemento da sociedade seja um cidadão de plenos

direitos, efectivamente igual perante a lei, dono do seu

próprio destino.

A MANIFesta 2009, que terá lugar de 22 a 24 de Maio,

será, enfim, um passo importante na conceptualização

de uma cidadania assente na igualdade, na fraternidade

e na dignificação da pessoa humana; uma cidadania

onde não haja uns mais iguais do que outros e o direito

ao trabalho, à educação e ensino, à saúde e à justiça,

seja uma garantia real e efectiva para todos e não

apenas para alguns.

O que contem de mensagem de resistência proactiva

está bem simbolizada no facto de o espaço escolhido

para a sua realização ser o Forte de Peniche que

“abrigou” os presos antifascista durante a ditadura.

Horácio Reigado

A defesa e promoção de um futuro alternativo para o mundo rural – a aposta numa nova ruralidade feita do

direito a uma vida de qualidade em meio rural – joga-se no presente, intervindo por mediação de pequenas

iniciativas que apoiadas no quotidiano tendem a recriá-lo…. iniciativas, diversas com diferentes pontos de

partida que vêm mostrar como diria José Fanha que “o infinito, afinal é já aqui da gente”

UMA NOVA ESCOLA COMUNITÁRIA

NASCE EM DEÃO

Na acção 3 do projecto “Iguais Num Rural Diferente” ,

financiado pelo programa EQUAL, envolveu-se a

Associação Juvenil de Deão na implementação de uma

Escola Comunitária no seu território. Ao ICE cabia e

coube o acompanhamento metodológico.

Após algumas reuniões de “passagem de informação”

em que os nossos parceiros demonstraram grandes

expectativas, surgiu um período de incertezas quanto à

sua viabilização. Isto não nos surpreendeu porque tanto

ou mais importante que um bom modelo conceptual é

depois o processo de como as pessoas se apropriam

dele e lhe atribuem sentido que determina o sucesso.

Também em Deão foi necessário começar por perceber o

que motivava e envolvia as pessoas. A verdade é que não

é suficiente disponibilizar recursos; é necessário, acima de

tudo, dar oportunidade a que as pessoas redescubram o

MANIfesta 2009 será em Maio na

Fortaleza de Peniche

Meio Rural em Movimento

3

que têm, a realidade em que estão inseridas, as

potencialidades que procuram ou que se lhes oferecem.

Foi o que aconteceu. Olhando para o próprio espaço que

já era a sua associação e para as iniciativas que a partir

dele podiam criar, deram origem a um processo de

animação organizado em torno de um pólo educativo

orientado para a estruturação de uma Escola

Comunitária.

Por caminho diferente, com práticas também diferentes,

recriava-se em Deão a dinâmica que conheceu e

conhece Carvalhal-Vermilhas, em Vouzela, dinâmica de

que deu se conta na Folha Informativa nº2.

Vítor Andrade

ROTA DA PEDRA,

UMA REALIDADE EM MARCHA

É possível trabalhar as potencialidades locais em grupo,

no colectivo, numa perspectiva de conhecimento em

rede, em que se valoriza o conhecimento de todos, em

que se partilham conhecimentos e consequentemente

se partilha poder, com várias pessoas, várias

instituições, vários grupos, crianças e idosos, faixas

etárias que geralmente estão fora dos processos de

desenvolvimento.

Tem sido a partir desta perspectiva de intervenção

comunitária que o Projecto Rota da Pedra tem vindo a

crescer. Através da recolha de património material e

registo do património imaterial que se vai desocultando

no território da pedra, em Sintra, num trabalho de ecoconstrução,

em que todos são importantes para a

viabilização da Rota da Pedra, delineada para divulgar

aspectos notáveis relacionados com a pedra existente

no Concelho de Sintra, possibilitando a visita a

formações geológicas, pedreiras e empresas de

transformação, monumentos, parques de escultura,

museus e oficinas, a Rota da Pedra irá promover um

conjunto de iniciativas que incidirão sobre a Geologia. a

Arte e a História.

Na sequência do percurso construído até à data por

todos os parceiros, com o Agrupamento de Escolas

Lapiás, com o Centro Internacional de Escultura, com as

Juntas de Freguesia de Montelavar, de São João das

Lampas, Santa Maria e São Miguel, Pêro Pinheiro,

Terrugem, de São Martinho e de Almargem do Bispo,

Museu Arqueológico de Odrinhas, com a Câmara

Municipal de Sintra, Escola Profissional de Recuperação

do Património de Sintra, foi possível identificar alguns

dos pontos visitáveis que farão parte da Rota, averiguar

a jurisdição dos pontos identificados, definir as

responsabilidades sobre cada um dos pontos da Rota da

Pedra.

Para dar corpo a este projecto e reconhecimento e com

o objectivo de um primeiro reconhecimento de todo o

trabalho que tem vindo a ser desenvolvido decidiu-se

arrancar com um circuito experimental da Rota da

Pedra.

A 7 de Janeiro do corrente ano um grupo de crianças,

pais, avós e uma professora, do Nordeste Alentejano,

também eles actores de processos de desenvolvimento

local na região, deslocaram-se a Sintra tendo tido a

oportunidade de explorar o património geológico e

ambiental do campo de Lapiás, de observar um local de

extracção de pedra, de visitar uma mostra de material

recolhido por crianças do Jardim de Infância de Pêro

Pinheiro e organizada pelos alunos do Curso de

Educação Formação Artesão Canteiro, de observar

estes jovens a trabalhar na oficina de Cantaria, de

conhecer o Museu Arqueológico de Odrinhas, e de

observar o trabalho de restauro que decorria na Escola

Profissional, de recuperação do Património de Sintra e

de visitar a exposição de esculturas e a oficina de

trabalho artístico com a pedra do Centro Internacional de

Escultura.

A sustentabilidade desta Rota procura ser assegurada

pelo recurso a uma associação envolvendo os vários

parceiros implicados.

Ana Cristina Oliveira

UM PASSO NA SUSTENTABILIDADE DO

MUSEU DA VINHA, DO VINHO E DA CULTURA

DA REGIÃO DEMARCADA DE COLARES

Percebendo que a requalificação do local depende,

antes de mais da acção dos seus actores e que estes só

ganham corpo e poder para produzir alternativas se

funcionarem em rede, o ICE, a Adega regional de

Colares, a Junta de Freguesia de Colares, os

proprietários da Adega Viúva Gomes, da Adega Beira

Mar, a Adega da Fundação Oriente e outras entidades

colectivas e individuais, entenderam como fundamental

para o desenvolvimento local a constituição/criação de

uma associação - a Associação Rota da Região

Demarcada de Colares que, na sequência de reuniões

efectuadas entre parceiros, já tem os estatutos

elaborados e prevê:

Promover o Enoturismo, realizando todo o tipo de

acções de cariz cultural e recreativo, adequadas a esse

fim;

Promover o acesso à cultura e enriquecimento do

património cultural;

Realizar animação sociocultural, dando corpo a

Workshops/Formação

E criar um espaço museológico, que preserve alguns

cenários tradicionais que possam constituir-se como

espaços de interpretação, para as novas gerações,

daquilo que é a cultura mais genuína do seu povo;

assumindo uma perspectiva de crescimento que permita

a médio e longo prazo ter sustentabilidade e

rentabilidade, acreditando que o local emerge e se

afirma através de redes de pessoas e estruturas que se

implicam na sua (re)promoção.

4

Um dos grandes desafios colocados ao mundo moderno

é a necessidade e urgência da protecção do património

cultural imaterial dos povos, que tende a ser aniquilado

pelo fenómeno da globalização. Este fenómeno, que

atravessa irremediavelmente todas as sociedades, tem

vindo a causar a extinção de modos de vida locais e o

desenraizamento das novas gerações em relação às

suas referências culturais.

De referir que todo este processo teve origem nas

escolas rurais de Sintra Litoral, sob o impulso de

crianças e professores que foram à descoberta de

tradições vitivinícolas locais, recolhendo memorias e

alfaias cujo acervo, enriquecido por doações e

empréstimos da comunidade, estiveram na base do

Museu que, itinerante mente, abriu portas na região.

Ana Cristina Oliveira

COVAS DO MONTE

UM FUTURO EM QUE TAMBÉM PARTICIPAMOS

Covas do Monte é uma aldeia do concelho de S. Pedro

do Sul, situada num vale da serra de S. Macário, região

que tem vindo a assistir a um acelerado processo de

desertificação humana, contando já com aldeias

abandonadas.

Em Covas do Monte vivem um pouco mais de 50

pessoas, entregues aos seus afazeres diários,

cuidando dos animais e mantendo os campos

cultivados. Em especial os mais velhos; os mais novos,

esses, sentem-se cada vez mais atraídos por outros

modos de vida e abandonam a aldeia.

Aquilo que permitiu a esta comunidade chegar aos dias

de hoje, por paradoxo, é o que mais a limita na sua

evolução. Regulada por regras ancestrais, o poder está

assente nos mais idosos e na família, no patriarca, o

que retira capacidade de intervenção aos jovens e a

todos os que de alguma forma, ali, pretendem intervir.

Perante estes factos ou nos resignamos e desistimos

ou nos aproximamos e procuramos as brechas onde

poderá haver uma possibilidade de construir algo.

Optámos pela segunda.

Ao fim de algum tempo e de muita escuta

descortinámos nas memórias daquela gente gostos

que poderiam ter futuro, interessando outras gentes de

outros contextos. Havia que criar situações que

aproximassem as pessoas e possibilitassem a empatia

necessária ao convívio.

Assim fizemos. Propusemos uma série de actividades

que possibilitassem a reconstrução da memória dos

locais e onde os visitantes são parte activa. Revisita-se o

passado, reconstrói-se património e reencontra-se-lhe um

sentido. São exemplos disso a reconstrução do lagar e

dos muros das ribeiras, o pastoreio das cabras, ou as

actividades agrícolas tradicionais…

Esta metodologia tem permitido o surgimento de uma

rede social, cada vez mais alargada, de apoio à

transformação da aldeia. Os envolvidos são os motores

do envolvimento de outros. E foi esta mesma rede que

ao chegar aos meios de comunicação social teve o

mérito de dar visibilidade à pequena aldeia de Covas

do Monte – as televisões dedicaram-lhe reportagens e

saíram notícias em jornais…

Com a visibilidade veio a curiosidade e o interesse:

estudantes universitários que escolheram a aldeia para

o local de estágio, caravanistas que se entregam ao

trabalho comunitário, apaixonados da natureza que

organizam a sua passagem de ano em Covas do

Monte.

O futuro de Covas do Monte continua, sem duvida, em

aberto e não o podemos antecipar… Mas de alguma

forma já estamos a participar nele!

Vítor Andrade

INTERACÇÕES E TRABALHO EM REDE

DE/NO NORDESTE ALENTEJANO

A região do Nordeste Alentejano, no trabalho que

desenvolve a partir de projectos sócio educativos, de

animação e desenvolvimento comunitário, definiu

quatro eixos que pretendem sustentar a sua

intervenção nos próximos meses, de modo a

consolidar a intervenção em diferentes territórios,

aprofundar as dinâmicas locais e contribuir para a

criação de redes de trabalho colectivo na região e com

outras regiões onde o ICE também intervém.

Assim, definiu como eixos estruturantes do trabalho as

seguintes actividades:

1. Realizações de encontros entre “regiões”, como

são exemplos:

- A experimentação de uma “Rota da pedra” em Sintra

com um grupo de visitantes da região de Campo Maior,

realizada em Janeiro. Encontram-se em fase de

estruturação outras duas que envolvem vários técnicos

e entidades de Sintra, como são exemplo: a Câmara

Municipal, a Junta de Freguesia de Montelavar, o

Agrupamentos de Escolas de Montelavar, empresas,

Escola Profissional, artesãos da pedra e Centro

Internacional de Escultura.

- Um outro campo de intervenção existe entre

professores e entre crianças, de Vouzela e Alpalhão,

mobilizados conjuntamente numa proposta em génese

para a musealização de um espaço a partir da

experiência realizada em Alpalhão. Pretende-se,

também, a implicação de outras agentes locais,

nomeadamente autárquicos e de equipamentos sócioculturais,

a partir de uma sessão em Vouzela

monitorizado pela museóloga da Câmara Municipal de

Nisa.

- A participação em mais “forúns do movimento

associativo da Baixa da Banheira” para a consolidação

de um projecto integrado que se encontra numa fase

de discussão muito participada, organizada em grupos

de trabalho multidisciplinares e multi-institucionais.

5

- A participação do Centro Internacional de

Escultura de Sintra e outros parceiros desta

região na Bienal da Pedra de Alpalhão/Nisa.

- A intenção de dar continuidade a um trabalho de

cooperação com a Região do Nordeste

Transmontano, recorrendo a visitas entre

técnicos e na troca de experiências em oficinas

de reflexão e estruturação da intervenção.

2. Realização de encontros entre técnicos em oficinas

de trabalho nos diferentes territórios.

3. Aprofundamentos das parcerias e do trabalho de

disseminação a partir de outras actividades como o

Roteiro dos Fontanários, o Roteiro das Igrejas, a

Dinamização de Serviços de Proximidades e o

Roteiro Ambiental, projectos que se desenvolvem

na região.

4. No acompanhamento e mediação das dinâmicas

em desenvolvimento nos territórios das diferentes

parcerias que sustentam várias redes de trabalho

local e entre locais.

Amândio Valente

QUINTA DA EDUCAÇÃO E AMBIENTE: A CAMINHO

DA AUTOSUSTENTABILIDADE

Uma das maiores fragilidades do ICE, é sem dúvida, a

pouca aposta que faz na viabilidade dos projectos que

anima. A capacidade de resistência de que dão

mostras, a maturidade e qualidade das reflexões que

produzem, o entusiasmo que pauta as suas iniciativas

reflectem, como facilmente se aceitará, o

reconhecimento da parte de quem neles participa,

reflectem o interesse que suscitam em quem os vive,

isto é reflectem a sua “visibilidade” para dentro… Mas

a visibilidade “para fora”, repita-se, não é cultivada.Ora

o facto é que a visibilidade externa de um projecto é

meio caminho andado para a sua legitimação e, com

esta, a conquista das condições de sustentabilidade.

A Quinta da Educação e Ambiente da Lagoa de Santo

André não foge a esta regra: apesar da sua

experiência ter sido levada a fóruns, apesar de

algumas das suas iniciativas – caso dos Sábados no

Monte – serem publicitadas, apesar de surgir como um

espaço de visita obrigatório da ampla rede de projectos

do ICE, continua “parcimoniosamente” reconhecido.

É por isso que ganham, de facto, particular significado,

os apoios que recebeu nos últimos meses

(financiamento de um programa da Gulbenkian e

afectação de subsídios pela Companhia das Águas de

Santo André e Repsol) e que facultaram à Quinta de

Educação a sustentabilidade no presente ano lectivo –

ao permitirem o pagamento do vencimento de uma

técnica e das despesas de funcionamento.

A chave deste sucesso (que o é), não estando na

visibilidade alcançada pela Quinta está, inegavelmente,

no atractivo que representa para quem a visita, no

papel assumido pelas crianças que a animam, nos

exemplos que dá, de envolvimento comunitário, na

natureza da educação ambiental que proporciona, no

impacto que possui nas práticas de sala de aulas e na

sua mudança, na circunstância de se impor como um

pólo de desenvolvimento alternativo, qualificador do

lugar.

A verdade é que a visibilidade que ganhou “para

dentro” e “para o lado” (junto das empresas e

instituições locais) já se mostrou suficiente para

garantir a sua continuidade, mesmo sem professores

destacados (ou requisitados) e em tempos de parcos

de recursos financeiros da parte do ICE.

Isabel Pereira

O fervilhar social que marca os bairros periféricos, os poderes que neles se abrigam, os “pedacinhos de futuro”

que aí se encontram, numa palavra, as potencialidades que no fundo lhe dão centralidade nas relações que

estabelecem com a estrutura societária geral que (formalmente) os enquadra, são o ponto de partida da

intervenção que neles vem sendo conduzida pelo ICE e que os projectos que a seguir se narram, ilustram.

Em todos esses exemplos, os actores locais implicados surgem como sujeitos num processo que, emancipandoos,

requalificam toda a realidade contextual em que se inscrevem.

AS CRIANÇAS E A QUALIFICAÇÃO DA

COMUNIDADE DE SANTA FILOMENA

Habitado por uma população maioritariamente de

origem africana (em particular cabo-verdiana) e

também de origem portuguesa, Santa Filomena

ombreia com a Cova da Moura, o Bairro Seis de Maio e

o Bairro da Damaia na estigmatização de que é objecto,

nomeadamente por parte dos meios de comunicação e

dos técnicos que nela intervêm. Como os demais,

ressente-se da agressividade em que, por regra, as

suas gentes são tratadas pelas forças policiais e da

incapacidade/ dificuldade das várias instituições

presentes, nomeadamente as escolas, em lidar com as

diferenças culturais e os problemas sociais com que se

deparam. Tráfico de drogas, violentas intervenções

Por uma Centralidade

do Mundo Periférico Urbano

6

policiais, prostituição, precariedade de emprego, e um

constante clima de tensão e de violência, fazem parte

do quotidiano desta comunidade.

É neste duro quotidiano que encontramos as crianças,

às quais nos atrevemos a chamar os “guardiões da

comunidade”.

Desde pequenos que somos alertados pelos nossos

pais que " nunca devemos abrir a porta a estranhos,

conversar e muito menos sair com eles". Na

comunidade de Santa Filomena, o mesmo aviso

também é valido, mas tem a sua particularidade. Aqui

são as próprias crianças que nos abrem a porta, dãonos

as boas-vindas e mostram-nos os cantos da casa.

Desde o momento em que entramos, até quando

saímos, somos inundados por um rol de questões,

Como te chamas? Donde vens? Estás à procura de

quem? O que vens aqui fazer? Para onde vais?

Para muitas destas crianças é como se o

desconhecido fosse um jornal ambulante, que traz

notícias do mundo de lá, ou as noticias para um futuro

ali dentro.

É nesta constante procura por algo novo, que o nosso

trabalho começa – do Projecto LAÇO desenvolvido

pelo ICE com o apoio da Gulbenkian - mas quando

muitas destas crianças já viram ou já viveram mais do

que aquilo que um adulto possa imaginar, a nossa

tarefa torna-se um pouco mais difícil.

Na comunidade de Santa Filomena, o nosso trabalho

começa na rua, o espaço comum de toda a população.

Aqui conhecemos os amigos e os familiares, o caminho

para casa e os lugares preferidos para brincar.

Em todo este processo estão presentes as crianças e

são elas individualmente que nos apresentam as

pessoas mais velhas e as mais importantes, são elas

que nos contam as histórias de cada família, fazemnos

entrar no quotidiano de cada família, no quotidiano

da comunidade. Durante estas apresentações,

desabafam os seus medos e sonhos e contam-nos os

seus planos para o futuro.

Depois da rua, dos espaços preferidos, dos amigos e

dalguns familiares, chegamos a casa e à família (pais).

Depois de algumas conversas, rapidamente nos

apercebemos das suas principais preocupações, dos

seus sonhos e planos para o futuro dos filhos.

É precisamente nestes sonhos e projectos para o

futuro, que a qualificação da comunidade de Santa

Filomena tem início.

Se para os pais e avós a resposta para uma

qualificação está na Escola, para as crianças esta

resposta encontra-se na oferta de um conjunto de

actividades realizadas dentro da comunidade e que

valorizam a sua identidade e forma de estar.

É precisamente nestes sonhos e projectos para o

futuro, e propostas de actividades, que a qualificação

da comunidade de Santa Filomena tem inicio.

Sónia Borges

ESCOLA ABERTA EM CARNIDE

No âmbito do Projecto “Iguais num Rural Diferente” (da

Iniciativa Comunitária EQUAL), têm-se realizado várias

experiências na freguesia de Carnide, visando

implementar uma metodologia de Escola Aberta em

duas das escolas nela existentes.

Situam-se essas experiências no decurso da Acção 3 do

referido projecto, que tem como objectivo disseminar os

resultados e produtos da Acção 2 (centrada na

experimentação de novos métodos e modelos de

trabalho), que decorreu no concelho de Vouzela, visando

a igualdade de oportunidades para as mães operárias e

para os seus filhos desse território.

Com o objectivo referido de disseminar o modelo

daEscola Aberta, experimentado e validado em

Vouzela, a PROACT – Unidade de Investigação e

Apoio Técnico ao Desenvolvimento Local, à

Valorização do Ambiente e à Luta contra a Exclusão

Social, com sede em Lisboa e com experiência de

trabalho comunitário na freguesia de Carnide (bairros

da Horta Nova e do Padre Cruz), desde 1997, assumiu

a responsabilidade de enquadrar e coordenar a sua

aplicação a duas escolas do 1º ciclo: a EB1 nº 134

(Prista Monteiro) da Horta Nova e a EB1 nº 187 do

Bairro Padre Cruz.

Até agora, desenvolveram-se essencialmente duas

linhas de actividades: a participação de pessoas e

grupos da comunidade nas actividades escolares e a

participação das crianças em actividades comunitárias,

em ambos os casos centradas nalgumas turmaspiloto.

No primeiro caso, refira-se em particular a ida, em várias

ocasiões, à Escola de pessoas da Associação de

Reformados, Pensionistas e Idosos de Carnide (ARPIC)

contar estórias do seu tempo, como forma de

participação nas aulas sobre a vida na comunidade

envolvente e de reforço da solidariedade entre gerações.

No segundo caso, tem-se preparado (e vai-se

concretizar em breve) a participação de uma turma em

actividades de leitura em casa das pessoas mais

velhas que vivem sós, com vista a exercitar as

competências de leitura, a contribuir para a

amenização da solidão e do isolamento social dessas

pessoas e a reforçar também o sentimento de pertença

escolar à comunidade.

Para além disso, aproveitando a dinâmica de trabalho

comunitário que existe nos dois bairros (ambos com

Grupos Comunitários a funcionar desde 1993), na

mesma lógica de “Escola Aberta”, tem-se partilhado,

nas correspondentes reuniões comunitárias, a

evolução e a gestão das actividades escolares,

tornando as escolas mais articuladas e integradas nas

comunidades a que pertencem. Como consequência

desta gestão partilhada e aberta, as Associações de

Pais de ambas as escolas reforçaram o seu

protagonismo e presença na comunidade e, nos

Conselhos Gerais Transitórios de ambos os

Agrupamentos Escolares, estão representantes dos

dois Grupos Comunitários, para além das já referidas

7

Associações de Pais e das autarquias locais (câmara

municipal e junta de freguesia).

Neste processo, o ICE tem desempenhado o papel de

consultor e inspirador da PROACT e do trabalho junto

das escolas, estando presente na primeira reunião

conjunta de sensibilização e lançamento das

actividades, bem como disponível para partilhar todas

as fases, interrogações e dificuldades do trabalho,

apoiando na procura dos melhores caminhos e

soluções.

Rogério Roque Amaro

MOVIMENTO ASSOCIATIVO

UMA FONTE DE PODER NA BAIXA DA BANHEIRA

No âmbito do Projecto Integrado da Baixa da Banheira

e como forma de induzir o empowerment à sua

Comunidade, através das associações aí existentes,

realizou-se no dia 22 de Novembro de 2008 o Fórum

do Movimento Associativo.

Este fórum surgiu na sequência das várias reuniões

que os parceiros - grupo dinamizador do projecto de

que faz parte o ICE - têm vindo a realizar e onde se

concluiu que entre outras acções, como forma de criar

dinâmica e interacção entre associações, comunidade

educativa e comunidade em geral, era necessário a

existência dum espaço de problematização de

questões onde associações diversas (Lazer,

Recreativas, Desportivas, IPSS, ONGs…), e

instituições locais (Câmara Municipal, Junta de

Freguesia, Centro de Saúde, Agrupamentos de

Escola…) reflectissem, em conjunto, as realidades do

local.

Com a participação de cerca de vinte Associações, das

vinte e oito existentes na Freguesia da Baixa da

Banheira, este espaço propôs-se reflectir: “O Papel das

Associações na sua Relação com: a Escola, a

Famílias, os Associados e os Jovens.

Através de um diálogo enriquecedor, questionou-se:

�� O fechamento da escola à comunidade… motivos

e motivações.

�� A “militarização” das crianças, na escola, sujeitas

a um horário escolar idêntico ou mesmo superior

ao de um trabalhador.

�� A duplicação de actividades entre as Actividades

Extra-Curriculares e as Associações.

�� A família actual e a família dos anos 30/40… (a

dificuldade de conciliação entre a vida familiar e

profissional actual). O “divórcio”, apesar dos

esforços, ainda existente entre associações e

associados.

�� A importância do movimento associativo, mas a

pouca visibilidade deste junto da comunidade…

�� A importância dos jovens, mas o

desconhecimento que ainda existe sobre os seus

interesses e motivações.

Entre as muitas associações que foram questionando e

problematizando encontravam-se as associações de

Escuteiros e o Clube de Futebol “Os Barulhentos” que

se fizeram representar pelos seus jovens, vincando

estes a importância de “ dar voz aos jovens”,

sublinhando-se que dar voz, não é um monólogo, antes

um diálogo, (é preciso ouvir, mas também, responder,

partilhar e construir; é necessário que os jovens sintam

que são parte activa dum processo construído

conjuntamente).

Das reflexões produzidas foram-se formulando

estratégias e conclusões de que se relevam:

�� A importância da concertação de esforços

articulados para continuar com uma rede de

trabalho: (o interesse em que o grupo

dinamizador continue a funcionar, alargando-se).

�� A utilidade duma Plataforma que se reúna

regularmente, para pensar a Baixa da Banheira:

(O interesse na continuidade da existência de

Fóruns que reflictam o Movimento Associativo).

�� A necessidade de despoletar um processo

formativo envolvendo técnicos e dirigentes

associativos tendo em vista a qualificação das

associações nomeadamente no domínio das TIC

�� O interesse em investir na aproximação das

associações à comunidade apostando-se

inclusivamente na construção de parcerias entre

as Associações e as Escolas.

Os primeiros efeitos já se fizeram sentir – para além

das acções desenvolvidas, começaram os contactos

das associações junto das escolas na intenção de

conjuntamente dinamizar e melhorar a qualidade de

vida da comunidade educativa, principalmente as

crianças mais carenciadas.

Entre outras estão já previstas duas actividades, a

primeira para a interrupção lectiva da Páscoa e outra

durante as férias de verão, oferecendo às crianças com

menos recursos, a possibilidade de fazerem umas

férias diferentes enriquecidas com actividades

desportivas das associações, deixando aos pais algum

tempo livre e a certeza que os seus filhos estão a ser

acompanhados.

O Projecto Integrado da Baixa da Banheira contempla

várias vertentes que vão da animação comunitária, de

que são exemplo os tempos de encontro entre

crianças, jovens e idosos, à concepção de qualificação

de famílias desestruturadas… Mas não deixa, de facto

de construir um traço de especificidade e originalidade

o papel que nele desempenha o movimento

associativo, chamado a trabalhar em rede –

recuperando uma prática vivenciada no pós 25 de

Abril.

Maria Joaquina Costa/Ana Teresa Fernandes

8

UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NOS

BAIRROS PERIFÉRICOS DE SETÚBAL

Fazendo fronteira com a Bela Vista, já para além dos

limites da cidade de Setúbal, encontra-se o Bairro da

Manteigada onde vivem cerca de 115 famílias, mais de

metade de etnia africana ou cigana.Atravessado por

diferentes questões de natureza social – elevada taxa

de desemprego, tensões nas relações de vizinhança,

idosos em situação de grande isolamento, forte

incidência de analfabetismo – 34% dos adultos),

Manteigada para além da acção - limitada no tempo -

de duas estagiárias profissionais, afectas à Junta de

Freguesia de São Sebastião, tem sido deixada mais ou

menos ao abandono.

Desafiado por este facto e induzido pelo contacto que

teve com o bairro - num trabalho que realizou com

crianças - projectou o ICE a organização de uma

intervenção orientada para o acompanhamento de

famílias, o apoio a idosos e a promoção dos jovens

(e crianças) a braços com problemáticas criticas como

a toxicodependência e o abandono escolar.

Enformará esta intervenção, a constituição de um

CAFAP, Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento

Parental – que se submeterá à Segurança Social –cuja

acção se estenderá, progressivamente, aos restantes

bairros periféricos da Freguesia de S. Sebastião em

Setúbal assumindo, no entanto, em cada um destes,

contornos específicos que respondam à singularidade

que os caracteriza.

A aposta na emancipação das pessoas abrangidas,

através da sua participação na construção de soluções

e na produção de iniciativas, será o traço distintivo que

definirá a intervenção tanto na Manteigada como nos

restantes bairros da cidade.

Esta proposta está a ser construída com técnicos do

DISOC da Câmara Municipal de Setúbal.

Rui d’Espiney

A acção do ICE não se restringe aos Meios Rural e Periférico Urbano. Outras causas – como a saúde

comunitária ou a deficiência, – outros desafios e outras iniciativas em que surgimos como parceiros estão na raiz

de projectos / processos que vêm fazendo também o seu caminho

As dinâmicas que a seguir se relatam, são disso um exemplo.

PROFESSORES ADEREM AO PROJECTO “ O

PRAZER DE LER “ E PAIS TAMBÉM…

O Projecto do ICE “ O Prazer de Ler ” surge com a

finalidade de induzir competências e hábitos de leitura

em crianças, jovens, adultos e idosos, procurando que

o interesse pela leitura e escrita surjam de forma

natural, tendo em conta as diferenças inerentes à

idade, aos contextos sociais e à noção de que o gosto

pela leitura não se impõe – cultiva-se. O

Educador/Professor surge como animador, tendo como

suporte um projecto educativo de leitura e escrita

especifico, sendo sempre apoiado, pela equipa de

acompanhamento do projecto “ O Prazer de Ler”, na

planificação das actividades, na formulação de

estratégias de promoção da leitura e escrita e na

reflexão em equipa com os vários elementos ligados à

promoção das actividades preconizadas.

A partir da noção de que o prazer de ler se constrói em

interacção e, em particular, num quadro de relações

intergeracionais propõe-se um leque de iniciativas que

tenham por espaço estruturador a sala de aula – onde

a criança se confronta com a necessidade de

COMUNICAR, de aprender e aperfeiçoar a leitura e

escrita – mas que prossigam para além dela,

nomeadamente, em contexto familiar, que levem à

descoberta do livro, estimulando o prazer de se

exprimir e de criar.

O entusiasmo e a participação dos professores têm

sido muito significativos.

Nas reuniões que se realizaram com os pais foi possível

estabelecer trabalho colaborativo entre as famílias e as

escolas, chegando mesmo a calendarizar-se um plano de

trabalho reflectido em conjunto com os pais.

O Projecto envolve professores de Sintra, Portalegre,

Setúbal, Moita e Nordeste Alentejano e contempla uma

vertente formativa organizada pelo Centro de

Formação “Comunidades Educativas” do CPDF.

Ana Cristina Oliveira

PAIS. UMA FONTE DE PODER DO

PROJECTO DE INTERVENÇÃO PRECOCE DE

SANTIAGO DO CACEM

O conhecimento actual e as práticas confirmam a

urgência e a importância da intervenção precoce.

Encontram-se razões de ordem biológica, fisiológica,

afectiva, de solidariedade, de oportunidade, de direitos,

de deveres e até económicos.

Para os profissionais é o envolvimento, a relação com

os meninos e as famílias, o desafio de fazer a

diferença no desenvolvimento e na vida de pessoas

que se encontram em dificuldades e que precisam de

apoio.

Outras Dinâmicas

9

Para os pais, na maioria das situações, é o amor

incondicional, é o desconhecido, o imprevisto, os

diagnósticos, as terapias. Há as expectativas, os desejos,

as disponibilidades e as acessibilidades.

Foi em resposta a esta percepção que o ICE organizou o

Projecto “Antes que Seja Tarde” que, no seguimento de

um acordo celebrado com a Segurança Social, a Saúde e

a Educação, iniciou a sua actividade junto de várias

crianças (+ de 80) com necessidades de intervenção

precoce do concelho de Santiago do Cacém.

Propôs-se faze-lo, acompanhando-as no seu espaço

doméstico, constituindo a nível de cada freguesia, redes de

suporte, despistando situações criticas, procurando colmatar

as deficiências, em função das necessidades especificas.

Um obstáculo se levantou, no entanto, a partir de certa

altura. Quase intransponível Concretamente, dos pelo

menos 4 educadores que a intervenção carecia e que a

Educação se comprometera, protocolarmente, a afectar,

só um (e por acaso não educador) foi colocado a tempo

inteiro, a partir de Setembro e mais um segundo, em

Janeiro mas com condicionantes… E não foi concedido o

Psicólogo também previsto pelo mesmo acordo. (De

notar que a média no Alentejo, de Programas de

Intervenção Precoce é de 9 crianças por educadora e

que a equipa já contou com 1 psicólogo mas com verbas

que o ICE desencantou mas que já não possui).

Os apelos sucessivos feitos para se corrigir esta situação

mostraram-se vãos e a reduzida equipa do projecto -

viabilizada pelo ICE, a Segurança Social e a Saúde –

sentiu-se impotente para continuar a prestar o serviço de

qualidade que dela se esperava.

Reunidos a 3 de Fevereiro para avaliar a situação, os

pais disseram de sua justiça. Como afirmou uma mãe

“o meu filho não volta a ter 6 anos… É agora que ele

precisa de acompanhamento… Tem de ser encontrada

uma solução e já”. E como bem o afirmaram todos:

“não pararemos até a situação estar resolvida”.

Esta indignação dos pais e a sua determinação em

conseguir soluções – a que se associaram em força o

Município e as Juntas de Freguesias abrangidas pelo

projecto – marcou a diferença: Uma terceira educadora

foi já colocada e atenuaram-se as condições da

segunda anteriormente colocada.

Com a vontade dos pais, não duvidamos que outros

passos serão dados

Teresa Galrão

“ENTRELAÇAR”, UM PROJECTO

DE PROMOÇÃO DA SAUDE

Num número já significativo de bairros periféricos, em especial na região da Grande Lisboa, vem o ICE levando a cabo uma intervenção diversificada tendo em vista a sua

requalificação.

A progressiva percepção que se foi ganhando da importância que terá para essa qualificação uma acção orientada para a promoção da saúde - domínio que, de uma forma generalizada, se vem revelando particularmente critico, marcado que são esses bairros por um deficit de

despistagens de doenças de várias natureza, pela ausência de hábitos de higiene e de alimentação saudável, por situações de maternidade precoce, pela inexistência ou débil

existência de prevenção, enfim, pela não presença de uma cultura de saúde – levou o ICE a conceber um projecto através do qual se propôs trabalhar esta dimensão nos vários

bairros onde intervém. Pressupõe este projecto, nomeadamente:

A noção de que a promoção da saúde em territórios periferizados constitui uma dimensão estratégica do desenvolvimento, passível de induzir uma nova relação da comunidade com o futuro;

A noção de que está em causa, antes de mais, a promoção da saúde e não propriamente o combate à doença, pese embora a importância que será dada à despistagem e

encaminhamento de doentes. Apoiada na saúde, na busca das condições da saúde plena e não na centração da doença, as comunidades tendem a entrar numa nova relação

com a vida.

De entre as várias actividades previstas sobressaem pela vertente de animação comunitária que contêm:

As conversas em roda ou "De Roda Com", sessões sobre várias temáticas (de saúde e prevenção de riscos), com a participação de especialistas, para jovens, pais, idosos.

O Nós Contigo, grupos de auto-ajuda de destinatários do acompanhamento, abertos à população, com sessões dirigidas às mães (em particular as adolescentes), idosos e

outros familiares.

A partilha de Sabores com Saúde, convívios onde se explorará uma estratégia de nutricionismo adequado, com recurso a eventual almoço de fim de ano organizado com

normas saudáveis.

O Roteiro de Mezinhas, que consiste no levantamento de formas de medicina alternativa e/ou de práticas caseiras de tratamento. Um leque diversificado de parceiros - que vão de autarquias às escolas de enfermagem, passando por associações locais - estruturados em rede a nível de cada território, deverá assegurar as sinergias que um projecto desta natureza

pressupõe.

Tendo em vista a sua viabilização material vem procurando o ICE alcançar o apoio de algumas fundações com programas na área da saúde.

Rui d’Espiney

UMA DINÂMICA QUE SE RECRIA

NAS CALDAS DA RAINHA

Há quinze anos, ou talvez mais, que os professores e

educadores das Caldas da Rainha se acham implicados em

dinâmicas induzidas pelo ICE…

Primeiro foi o ECO, que pôs a comunidade na escola e que

veio a dar origem a um Centro de Recursos cuja acção se

estendeu à maioria das escolas do Concelho, animando

trocas, produzindo materiais, organizando encontros de

crianças e professores.

10

Quase que em simultâneo com a emergência deste

Centro, toda a zona rural, impulsionada pelas escolas

da freguesia de Alvorninha, se organizou num amplo

movimento que se manteve até à verticalização dos

agrupamentos e ao inicio do processo de

encerramento de escolas.

Estas várias dinâmicas vieram a confluir num núcleo do

Projecto Do Longe Fazer Perto, alargado a escolas de

outros concelhos, e que se propõe, este ano, orientar a

sua intervenção em duas direcções.

Por um lado, impulsionar aquilo que designou por

“Ciranda Educativa” e que consistirá numa reflexão

sobre as práticas de cada sala de aula, colocadas

rotativamente na “berlinda”, tendo em vista responder

criativamente aos desafios que hoje se erguem às

escolas e ao ensino – processo complementado por

uma vertente formativa acreditada pelo Centro de

Formação “Comunidades Educativas” do CPDF.

Por outro organizar encontros temáticos – por nós

denominados “Conversas ao Pôr-do-Sol”, abertos à

participação das famílias e da comunidade e realizados

ao cair do dia nas várias escolas envolvidas

Significativo o facto de toda esta dinâmica vir sendo

assegurada em regime de voluntariado, mas com uma

militância e uma entrega que só se explica pela

identificação que muitos dos professores têm com a

abordagem e os pressupostos do ICE.

Rui d’Espiney

DO LONGE FAZER PERTO 16 ANOS DEPOIS

Organizado em 1993 pela saudosa Lurdes Bichão, Do Longe

Fazer Perto é o exemplo de vitalidade que nem as condições

adversas vividas pelas escolas tem conseguido quebrar.

Começou por ser uma dinâmica de intercomunicação por

contacto virtual e presencial entre escolas de vários pontos

do país, mas sob o impulso do Projecto Bolina,

desenvolvido no âmbito do Programa EQUAL, transformouse

numa rede de comunidades colaborativas tendo por

domínio as práticas pedagógicas e por fonte alimentadora a

relação com a comunidade.

Verdadeiras CoPs entraram assim em funcionamento em

Oliveira do Hospital, Coimbra, Caldas da Rainha e Setúbal

num processo, que este ano, veio a alargar-se à Moita, a

Portalegre e a Sintra.

Apostando numa prática diversificada, cruzou-se com outras

do ICE (ver texto sobre o trabalho nas Caldas da Rainha)

surgindo hoje entrelaçado com o Projecto “O Prazer de Ler”

desenvolvido com o Plano Nacional de Leitura.

A dinâmica desenvolvida no decurso do projecto conduziu a

acções diversas, entre elas, a necessidade de formação

junto dos professores que integram o projecto.

No ano de 2007/08 frequentaram o módulo de formação

organizado em seu apoio cerca de 100 professores. No

corrente ano o seu número deverá ultrapassar os 150.

Maria Joaquina Costa

RECORDANDO LURDES BICHÃO

Sócia fundadora do ICE, coordenadora durante longos anos

do Projecto Do Longe Fazer Perto, que continuava a apoiar

apesar de reformada, Lurdes Bichão será sempre

recordada… como amiga, pelo seu espírito solidário e a

combatividade de que deu mostras até ao final da sua vida.

A velha máxima de que não há pessoas insubstituíveis não

cobre o seu caso. Ficamos, sem dúvida, todos mais pobres.

A toda a família, a Comissão Directiva do ICE dirige os seus

votos de pesar profundo.

ASSEMBLEIA GERAL DO ICE

ELEGE ÓRGÃOS SOCIAIS

Realizou-se, no dia 3 de Dezembro, uma Assembleia-geral

do ICE onde, nomeadamente, se procedeu à eleição dos

órgãos sociais para o quadriénio 2009-2012. Com uma

única excepção, na mesa da Assembleia-geral, foram

reconfirmados todos os membros em exercício.

Ficaram assim compostos os diversos órgãos:

Mesa da Assembleia-geral: Rui Canário (Presidente),

Cristina Figueira (V. Presidente) e Clara Mata (Secretária).

Comissão Directiva: José Alberto Correia (presidente), Rui

d’Espiney (Director Executivo), Horácio Reigado

(Tesoureiro), Gracieta Baião e Ângela Luzia (vogais).

Conselho Fiscal: Carmo Serrote (Presidente), Rosa

Moinhos (Secretária), Mirna Montenegro (vogal).

ICE PRESENTE EM SEMINARIO

REALIZADOS NO ESTRANGEIRO

● Em Dezembro de 2008, foram desafiadas Olga Mariano e

Mirna Montenegro a participar num colóquio europeu sobre a

problemática das comunidades ciganas na Europa,

organizado por IUFM e CASNAV de Besançon, Desta vez, -

outros foram os encontros em que as duas participaram no

passado - além do colóquio de 3 dias, prolongou-se a estadia

por mais três dias, ocupados em visitas às “Classes

d’Accueils des Enfants du Voyage” (classes trampolins nas

escolas do 1º ciclo e dos 2º/3º ciclos) e às “Écoles du Voyage”

(camiões escola) que seguem as crianças nos seus “Aires de

Stationnement” (parques nómadas).

Notícias Soltas

11

● Realizaram-se em Saint-Médard-en-Jalles, nos

arredores de Bordéus, França, nos dias 14 e 15 de

Novembro passado, as primeiras “Journées des Parents

en Gironde”, sob o lema “Prenons le temps entre

parents”. Estas jornadas foram uma iniciativa da Réseau

d’Écoute, d’Appui et d’Accompagnement des Parents

local (Réapp33), entidade que integra a rede nacional

criada pelo Estado Francês, em 1999.

De acordo com a organização, este encontro, que contou

com a participação de cerca de 300 pessoas, constituiuse

como um espaço de troca entre pais e entre estes e

profissionais que intervêm no domínio da família,

debatendo, entre outras, questões relacionadas com a

evolução da família, com o desenvolvimento das

crianças, com a adolescência e o abandono escolar.

Joaquim Marques participou nestas jornadas em

representação do ICE, tendo apresentado a comunicação

“Comunidades Educativas – processos de construção

co-participada a nível local”

● O ICE far-se-á representar no Encontro Internacional

sobre Desenvolvimento Local que terá lugar em São

Tomé, no próximo mês de Abril, assumindo a

responsabilidade por uma das conferências previstas.

ICE PARCEIRO DE UM

MESTRADO EM EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Conceptualizado por Rui Canário, a partir da

Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade de

Lisboa, vai realizar-se um mestrado no Distrito de Setúbal

tendo por grande tema a Educação não Formal.

O mestrado em questão, que conta com a parceria do

ICE, envolverá os municípios de Almada, Palmela e

Setúbal, destina-se, nomeadamente, a professores e

técnicos de autarquias e associações e terá entre os seus

formadores, associados do ICE. Simbolicamente,

procurou-se para o seu funcionamento contextos

marcados pela informalidade. Concretamente, Museus

Locais e Bibliotecas.

MAIS CIDADANIA – A SUL

O ICE propôs-se ir ao sul do sul, mais propriamente ao

Distrito de Caué, região de Angolares, zona rural e

isolada de São Tomé e Príncipe com o Projecto Notícias

do Sul – Educação para o Desenvolvimento, com o

objectivo de criar pontes entre esta e a região do litoral

alentejano, onde tem inúmeros projectos implementados.

Propondo acções simples, que se pretendem

continuadas pelas dinâmicas locais que necessariamente

se criam, é com a colaboração da população e técnicos

locais de ambas as regiões que o ICE irá trabalhar, com

os meios e as necessidades que vão surgindo no terreno,

ampliando-se visões, olhares, e os horizontes de todos

os envolvidos.

O intercâmbio entre escolas – crianças, professores,

pais, alargado a par e passo a toda a comunidade

envolvente, desperta a consciência de meninos e

adultos, de cá e de lá, para a riqueza que provém das

relações interculturais. Actividades como a

correspondência escolar entre crianças dos dois

países; a escrita de uma história conjunta com “o

estafeta da escrita”; a animação do projecto através do

documentário e da fotografia, acções que são também

produtos de divulgação bem como meios de

sensibilização para realidades díspares, enformam a

aposta que o ICE pôs na mesa.

UM PROJECTO DE SUCESSO

EM AGUADA DE BAIXO

Sintomático do sucesso atingido pelo Projecto “Famílias um

presente um futuro” é sem duvida a desenvoltura da

comunicação proferida num encontro proferida pelo GICAS,

Grupo de Intervenção Social a Partir da Saúde, por duas

senhoras do grupo de mulheres com que se vem

trabalhando em três freguesias do concelho de Águeda.

Por seu lado, uma oficina pedagógica orientada pelo ICE

e dedicado ao papel da informalidade na promoção da

mudança e destinada a técnicas de instituições

implicadas no acompanhamento destas famílias espelhou

a profundidade da reflexão atingida por este projecto.

À margem do desenvolvimento do projecto vêm

funcionando um grupo de geometria variável que, numa

postura de verdadeira comunidade de práticas, tem

investido na construção de um pensamento estratégico

no domínio da intervenção social.

ICE CELEBRA ACORDO COM O PNL

Tendo em vista a viabilização do Projecto “O Prazer de

Ler”, organizado e promovido pelo ICE, foi celebrado

um acordo com o Plano Nacional de Leitura que

deverá ser renovado e ampliado no ano em curso.

O apoio do PNL veio facilitar, nomeadamente, os

contactos com escritores de literatura infantil que o

Projecto “O Prazer de Ler” pretende levar junto das

escolas envolvidas.

FRUTOS DO PROGRAMA EQUAL

Os financiamentos de que vêm beneficiando várias

iniciativas em curso no país – designadamente do

Programa EQUAL – vão chegar ao seu termo.

Dois/três anos – tempo de duração desse

financiamento - é, sem dúvida, pouco tempo para se

produzirem mudanças estruturais em comunidades

atingidas pela periferização e, acima de tudo para se

assegurar a auto sustentabilidade dos processos em

curso. A experiência mostra que tais mudanças exigem

uma intervenção a longo termo.

12

O facto de se ter pensado a intervenção, no âmbito do

EQUAL, em contextos onde o ICE já acompanhava

dinâmicas permitiu, no entanto, que estes se

consolidassem, dando lugar a processos enraizados

que prometem sobreviver no tempo: efectiva é hoje a

rede de projectos que funciona no Nordeste Alentejano

construída no âmbito do Projecto - “Potencializar

recursos, valorizar e qualificar pessoas e

organizações”; perenes são hoje as Comunidades de

Prática constituídas em Coimbra, Oliveira do Hospital,

Setúbal e Caldas da Rainha sob o impulso do Projecto

Bolina; a um passo da institucionalização se encontram

o Museu da Vinha e do Vinho de Colares e a Rota

da Pedra, impulsionados pelo Projecto TEIAS;

materializados se acham a Escola Comunitária de

Carvalhal Vermilhas e o CADI, criados sob o impulso

do Projectos “Iguais num Rural Diferente”.

Como é evidente, acompanhar estes projectos,

continua a ser necessário. Se está, na maioria dos

casos, assegurada a sobrevivência, não está de todo

garantido o processo de recriação permanente que o

seu desenvolvimento requer. E por isso, esforços estão

a ser feitos para se obterem novos apoios.

… Mas os alicerces estão lançados. O fim dos

financiamentos já não significará o fim das respectivas

dinâmicas.

ADLR: UM EXEMPLO VIVO DE PARCERIA

ESTRATEGICA

Uma iniciativa do Projecto Escolas Rurais de São

Pedro do Sul, há talvez 5 anos, levou-nos a entrar em

contacto com a ADRL – Associação de

Desenvolvimento da Região de Lafões.

Foi suficiente para nos apercebermos da proximidade

de perspectivas que tínhamos – uma proximidade que

nos levou, naturalmente, a aceitar o convite para

participarmos num projecto que a ADRL se propunha

organizar e candidatar ao EQUAL, o Projecto “Iguais

num Rural Diferente”.

Com este, a nossa parceria tornou-se estratégica,

entrando num nível de cumplicidade, de entendimento

que pensamos, exemplar: troca de recursos,

determinação de organização conjunta de novos

projectos e novas candidaturas, participação em

momentos de reflexão interna das duas associações,

empenhamento na viabilização mutua…

A possibilidade de conceptualizar cursos de animadores

comunitários a funcionarem em vários territórios onde

intervimos, com a ADRL como entidade formadora, (que,

é) a aprovar a sua acreditação e o ICE a “emprestar” as

competências no domínio das metodologias, deverá

coroar esta caminhada de colaboração.

PROJECTO “UM MILÉNIO DE TODOS”

O ICE aceitou fazer parte do projecto “Um Milénio de

Todos”, projecto que surgiu por iniciativa da CM de

Setúbal, convidando várias associações locais a

integrá-lo e cujo grande objectivo é criar acções junto

da população (do concelho), que

informem/sensibilizem para a existência e necessidade

do nosso Governo cumprir o compromisso assumido

por Portugal, em conjunto com outros 187 países, de

pugnar pela concretização dos chamados 8 ODM –

Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

Entre outras acções, está prevista a realização de um

conjunto de Oficinas Temáticas, cuja reflexão incidirá

sobre cada um destes 8 ODMs: Com uma

calendarização marcada entre Março e Novembro

próximo, dar-se-á início às primeiras duas Oficinas já

em Março.

Para além de participar nestas oficinas – assumindo

mesmo a organização da que se dedicará à temática

da educação - o ICE está empenhado na

potencialização de outros projectos que dinamiza na

cidade, como é o caso do “Do Longe Fazer Perto”,

para a exploração das problemáticas que enformam os

vários ODMs.

GULBENKIAM FINANCIA PROJECTO DE

AMBIENTE DESENVOLVIDO NA QUINTA DA

EDUCAÇÃO DA LAGOA DE SANTO ANDRÉ

O ICE viu aprovada a candidatura a um pequeno

financiamento, na área do ambiente, destinado a

apoiar a intervenção em curso na QEA – Quinta da

Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André, em

Santiago do Cacém.

Entre as possibilidades abertas por este financiamento,

destaca-se a que aponta para a edição de uma

publicação reunindo as vivências e experiências

acumuladas pelas escolas e crianças que

protagonizam o projecto QEA.

Instituto das Comunidades Educativas

Rua Nossa Senhora da Arrábida, nº3-5, r/c

2900 -142 Setúbal

Tel.: 265542430/8 // Fax: 265542439

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