MARÇO 2009 Contamos consigo! O apelo que lançámos em 2008 aos amigos do ICE para que afectassem 0,5% da massa tributada, saldou-se por um considerável sucesso: recebemos mais de 14 mil euros, o que significa que algumas boas centenas de pessoas responderam: “Presente”. (No ano anterior, o primeiro em que tal funcionou, pouco mais entraram do que mil euros). Está longe de ser suficiente. Pouco mais deu do que para cobrir as despesas que temos com o aluguer das instalações que ocupamos. Mas já foi uma grande ajuda e se todos os que em 2008 asseguraram este contributo, o fizerem de novo este ano, conseguindo-se, em acréscimo, que pelo menos mais dois amigos o façam também, poderemos, talvez receber o suficiente para suportar os gastos correntes com o funcionamento. É este o desafio que lançamos aqui e agora, recordando-se mais uma vez, que é esta uma forma de apoiar o ICE sem que tal signifique um qualquer sacrifício pessoal: a verba por esta forma afectada ao ICE – ou a qualquer outra instituição por que se opte - não sai do bolso de quem faz a doação, sim do Estado. Recorde-se que para a sua concretização basta que na declaração de rendimentos entregue nas finanças, se preencha o anexo H - que se destina precisamente a contemplar situações de benefícios fiscais como por exemplo os gastos com saúde e formação – inscrevendo na segunda linha, do item 9, o número de contribuinte do ICE (502 827 564) assinalando, com uma cruz, o quadrado que antecede essa linha. Um Passo para a Viabilização Económica do ICE Dizíamos em Março de 2008, no número anterior desta publicação, que o momento era de refluxo social, com os profissionais fechados nas suas rotinas, afastados de práticas cidadãs que conduzam à sua emancipação. Dizíamos também, que apesar dessa realidade, era francamente positivo o balanço que o ICE fazia ao trabalho que vinha animando. Talvez por não termos desistido, talvez porque a adversidade ensina e consciencializa, a verdade é que hoje existem sinais de reacção. Que o diga o “boom” de professores e educadores que aderiram a vários dos nossos projectos; que o diga o movimento de pais que em Santiago se erigiu em torno da defesa do projecto de intervenção precoce “Antes Que Seja Tarde”; que o diga o número crescente de apelos que recebemos para apoiar iniciativas orientadas para a mudança; que o diga, enfim, a autosustentabilidade alcançada por muitas das nossas dinâmicas. O medo não desapareceu. O fechamento das instituições sobre si próprias, em alguns casos acentuou-se. As condições de exercício de cidadania revelam-se cada vez mais desfavoráveis… Mas há no ar um “basta!” que começa a ser dito e que promete, sem duvida um novo ascenso do movimento social. Talvez não no imediato, mas inegavelmente a médio prazo. Persistente no refluxo – como bem o mostra a riqueza das experiências que se descrevem nesta folha – está naturalmente o ICE preparado para contribuir para o ascenso que se perspectiva. Para tanto, temos apenas que ultrapassar as dificuldades que enfrenta ao nível da sua sustentabilidade material – essa sim critica, ditadas que são por politicas de financiamento que tendem cada vez mais a privilegiar o Estado, a seguir as suas orientações e a favorecer um núcleo restrito de eleitos e favorecidos… tendência de que é um bom exemplo um projecto nosso que não foi financiado pelo IPAD, Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, não só por discordância com o paradigma que enforma a orientação da acção do ICE, como, sublinhe-se, pelo facto de não nos incluirmos no número de entidades que beneficiam do apoio dessa instituição publica (confessando, assim, explicitamente uma prática clientelista).Mas como diria Montalbon, “as viagens precisam de obstáculos”. FOLHA INFORMATIVA 3 Nota de Abertura 2 Desde 1994 que a ANIMAR – Associação de Desenvolvimento Local, tem promovido e organizado um evento de grande dimensão, em termos de desenvolvimento local, a MANIFesta, - cuja congregação de palavras significa, precisamente, manifestação em festa. Este evento traduz-se numa grande manifestação das organizações ligadas ao Desenvolvimento Local e numa festa de raízes eminentemente populares. A preparação e organização da MANIFesta de 2009, actualmente em curso, assenta num figurino e numa estruturação e participação diferentes das anteriores passando, num primeiro momento, pela selecção de um conjunto de organizações ligadas ao desenvolvimento local, espalhadas por todo o país, as quais indicaram, cada uma delas, uma pessoa para frequentar uma Acção de Formação, com o objectivo de preparar dinamizadores regionais (num total de 15), capazes de fazer, a nível de cada local ou sub-região, o levantamento, discussão, informação e mobilização das pessoas, organizações, recursos, mostras culturais e artesanais, produtos diversos, convergentes no sentido da MANIFesta. Durante os períodos da Prática em Contexto de Trabalho foram organizadas pelos formandos/animadores e pelas organizações que representam, Assembleias Regionais em várias regiões do país, nas quais participaram várias dezenas de pessoas, traduzindo-se estas Assembleias numa primeira manifestação da vontade das organizações do poder local, em participar activamente no desenvolvimento do seu local ou região. Estas Assembleias foram, de facto, momentos de participação, debate, reflexão, intervenção e articulação de esforços, troca de saberes e de experiências; foram, em suma, um contributo imprescindível para a procura de uma planificação estratégica de intervenção no desenvolvimento local, o qual culminará com a realização da MANIFesta. O ICE, enquanto Associação ligada ao desenvolvimento local, participou, não apenas na organização daquela Acção de Formação, mas também na idealização do novo modelo conceptual por que passa toda a envolvência organizativa e de mobilização da MANIFesta 2009. Estamos certos de que esta vai ser uma demonstração de cidadania e da vontade das populações em participar activamente na vida económica, social, cultural e política do seu país, região ou localidade. Será, invariavelmente, um importante contributo para que o conceito de cidadania deixe de ser passivo e se torne numa participação dinâmica, activa, actuante, interventiva, legitimadora de direitos e deveres cívicos, galvanizadora de vontades, criadora de condições para que cada elemento da sociedade seja um cidadão de plenos direitos, efectivamente igual perante a lei, dono do seu próprio destino. A MANIFesta 2009, que terá lugar de 22 a 24 de Maio, será, enfim, um passo importante na conceptualização de uma cidadania assente na igualdade, na fraternidade e na dignificação da pessoa humana; uma cidadania onde não haja uns mais iguais do que outros e o direito ao trabalho, à educação e ensino, à saúde e à justiça, seja uma garantia real e efectiva para todos e não apenas para alguns. O que contem de mensagem de resistência proactiva está bem simbolizada no facto de o espaço escolhido para a sua realização ser o Forte de Peniche que “abrigou” os presos antifascista durante a ditadura. Horácio Reigado A defesa e promoção de um futuro alternativo para o mundo rural – a aposta numa nova ruralidade feita do direito a uma vida de qualidade em meio rural – joga-se no presente, intervindo por mediação de pequenas iniciativas que apoiadas no quotidiano tendem a recriá-lo…. iniciativas, diversas com diferentes pontos de partida que vêm mostrar como diria José Fanha que “o infinito, afinal é já aqui da gente” UMA NOVA ESCOLA COMUNITÁRIA NASCE EM DEÃO Na acção 3 do projecto “Iguais Num Rural Diferente” , financiado pelo programa EQUAL, envolveu-se a Associação Juvenil de Deão na implementação de uma Escola Comunitária no seu território. Ao ICE cabia e coube o acompanhamento metodológico. Após algumas reuniões de “passagem de informação” em que os nossos parceiros demonstraram grandes expectativas, surgiu um período de incertezas quanto à sua viabilização. Isto não nos surpreendeu porque tanto ou mais importante que um bom modelo conceptual é depois o processo de como as pessoas se apropriam dele e lhe atribuem sentido que determina o sucesso. Também em Deão foi necessário começar por perceber o que motivava e envolvia as pessoas. A verdade é que não é suficiente disponibilizar recursos; é necessário, acima de tudo, dar oportunidade a que as pessoas redescubram o MANIfesta 2009 será em Maio na Fortaleza de Peniche Meio Rural em Movimento 3 que têm, a realidade em que estão inseridas, as potencialidades que procuram ou que se lhes oferecem. Foi o que aconteceu. Olhando para o próprio espaço que já era a sua associação e para as iniciativas que a partir dele podiam criar, deram origem a um processo de animação organizado em torno de um pólo educativo orientado para a estruturação de uma Escola Comunitária. Por caminho diferente, com práticas também diferentes, recriava-se em Deão a dinâmica que conheceu e conhece Carvalhal-Vermilhas, em Vouzela, dinâmica de que deu se conta na Folha Informativa nº2. Vítor Andrade ROTA DA PEDRA, UMA REALIDADE EM MARCHA É possível trabalhar as potencialidades locais em grupo, no colectivo, numa perspectiva de conhecimento em rede, em que se valoriza o conhecimento de todos, em que se partilham conhecimentos e consequentemente se partilha poder, com várias pessoas, várias instituições, vários grupos, crianças e idosos, faixas etárias que geralmente estão fora dos processos de desenvolvimento. Tem sido a partir desta perspectiva de intervenção comunitária que o Projecto Rota da Pedra tem vindo a crescer. Através da recolha de património material e registo do património imaterial que se vai desocultando no território da pedra, em Sintra, num trabalho de ecoconstrução, em que todos são importantes para a viabilização da Rota da Pedra, delineada para divulgar aspectos notáveis relacionados com a pedra existente no Concelho de Sintra, possibilitando a visita a formações geológicas, pedreiras e empresas de transformação, monumentos, parques de escultura, museus e oficinas, a Rota da Pedra irá promover um conjunto de iniciativas que incidirão sobre a Geologia. a Arte e a História. Na sequência do percurso construído até à data por todos os parceiros, com o Agrupamento de Escolas Lapiás, com o Centro Internacional de Escultura, com as Juntas de Freguesia de Montelavar, de São João das Lampas, Santa Maria e São Miguel, Pêro Pinheiro, Terrugem, de São Martinho e de Almargem do Bispo, Museu Arqueológico de Odrinhas, com a Câmara Municipal de Sintra, Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, foi possível identificar alguns dos pontos visitáveis que farão parte da Rota, averiguar a jurisdição dos pontos identificados, definir as responsabilidades sobre cada um dos pontos da Rota da Pedra. Para dar corpo a este projecto e reconhecimento e com o objectivo de um primeiro reconhecimento de todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido decidiu-se arrancar com um circuito experimental da Rota da Pedra. A 7 de Janeiro do corrente ano um grupo de crianças, pais, avós e uma professora, do Nordeste Alentejano, também eles actores de processos de desenvolvimento local na região, deslocaram-se a Sintra tendo tido a oportunidade de explorar o património geológico e ambiental do campo de Lapiás, de observar um local de extracção de pedra, de visitar uma mostra de material recolhido por crianças do Jardim de Infância de Pêro Pinheiro e organizada pelos alunos do Curso de Educação Formação Artesão Canteiro, de observar estes jovens a trabalhar na oficina de Cantaria, de conhecer o Museu Arqueológico de Odrinhas, e de observar o trabalho de restauro que decorria na Escola Profissional, de recuperação do Património de Sintra e de visitar a exposição de esculturas e a oficina de trabalho artístico com a pedra do Centro Internacional de Escultura. A sustentabilidade desta Rota procura ser assegurada pelo recurso a uma associação envolvendo os vários parceiros implicados. Ana Cristina Oliveira UM PASSO NA SUSTENTABILIDADE DO MUSEU DA VINHA, DO VINHO E DA CULTURA DA REGIÃO DEMARCADA DE COLARES Percebendo que a requalificação do local depende, antes de mais da acção dos seus actores e que estes só ganham corpo e poder para produzir alternativas se funcionarem em rede, o ICE, a Adega regional de Colares, a Junta de Freguesia de Colares, os proprietários da Adega Viúva Gomes, da Adega Beira Mar, a Adega da Fundação Oriente e outras entidades colectivas e individuais, entenderam como fundamental para o desenvolvimento local a constituição/criação de uma associação - a Associação Rota da Região Demarcada de Colares que, na sequência de reuniões efectuadas entre parceiros, já tem os estatutos elaborados e prevê: Promover o Enoturismo, realizando todo o tipo de acções de cariz cultural e recreativo, adequadas a esse fim; Promover o acesso à cultura e enriquecimento do património cultural; Realizar animação sociocultural, dando corpo a Workshops/Formação E criar um espaço museológico, que preserve alguns cenários tradicionais que possam constituir-se como espaços de interpretação, para as novas gerações, daquilo que é a cultura mais genuína do seu povo; assumindo uma perspectiva de crescimento que permita a médio e longo prazo ter sustentabilidade e rentabilidade, acreditando que o local emerge e se afirma através de redes de pessoas e estruturas que se implicam na sua (re)promoção. 4 Um dos grandes desafios colocados ao mundo moderno é a necessidade e urgência da protecção do património cultural imaterial dos povos, que tende a ser aniquilado pelo fenómeno da globalização. Este fenómeno, que atravessa irremediavelmente todas as sociedades, tem vindo a causar a extinção de modos de vida locais e o desenraizamento das novas gerações em relação às suas referências culturais. De referir que todo este processo teve origem nas escolas rurais de Sintra Litoral, sob o impulso de crianças e professores que foram à descoberta de tradições vitivinícolas locais, recolhendo memorias e alfaias cujo acervo, enriquecido por doações e empréstimos da comunidade, estiveram na base do Museu que, itinerante mente, abriu portas na região. Ana Cristina Oliveira COVAS DO MONTE UM FUTURO EM QUE TAMBÉM PARTICIPAMOS Covas do Monte é uma aldeia do concelho de S. Pedro do Sul, situada num vale da serra de S. Macário, região que tem vindo a assistir a um acelerado processo de desertificação humana, contando já com aldeias abandonadas. Em Covas do Monte vivem um pouco mais de 50 pessoas, entregues aos seus afazeres diários, cuidando dos animais e mantendo os campos cultivados. Em especial os mais velhos; os mais novos, esses, sentem-se cada vez mais atraídos por outros modos de vida e abandonam a aldeia. Aquilo que permitiu a esta comunidade chegar aos dias de hoje, por paradoxo, é o que mais a limita na sua evolução. Regulada por regras ancestrais, o poder está assente nos mais idosos e na família, no patriarca, o que retira capacidade de intervenção aos jovens e a todos os que de alguma forma, ali, pretendem intervir. Perante estes factos ou nos resignamos e desistimos ou nos aproximamos e procuramos as brechas onde poderá haver uma possibilidade de construir algo. Optámos pela segunda. Ao fim de algum tempo e de muita escuta descortinámos nas memórias daquela gente gostos que poderiam ter futuro, interessando outras gentes de outros contextos. Havia que criar situações que aproximassem as pessoas e possibilitassem a empatia necessária ao convívio. Assim fizemos. Propusemos uma série de actividades que possibilitassem a reconstrução da memória dos locais e onde os visitantes são parte activa. Revisita-se o passado, reconstrói-se património e reencontra-se-lhe um sentido. São exemplos disso a reconstrução do lagar e dos muros das ribeiras, o pastoreio das cabras, ou as actividades agrícolas tradicionais… Esta metodologia tem permitido o surgimento de uma rede social, cada vez mais alargada, de apoio à transformação da aldeia. Os envolvidos são os motores do envolvimento de outros. E foi esta mesma rede que ao chegar aos meios de comunicação social teve o mérito de dar visibilidade à pequena aldeia de Covas do Monte – as televisões dedicaram-lhe reportagens e saíram notícias em jornais… Com a visibilidade veio a curiosidade e o interesse: estudantes universitários que escolheram a aldeia para o local de estágio, caravanistas que se entregam ao trabalho comunitário, apaixonados da natureza que organizam a sua passagem de ano em Covas do Monte. O futuro de Covas do Monte continua, sem duvida, em aberto e não o podemos antecipar… Mas de alguma forma já estamos a participar nele! Vítor Andrade INTERACÇÕES E TRABALHO EM REDE DE/NO NORDESTE ALENTEJANO A região do Nordeste Alentejano, no trabalho que desenvolve a partir de projectos sócio educativos, de animação e desenvolvimento comunitário, definiu quatro eixos que pretendem sustentar a sua intervenção nos próximos meses, de modo a consolidar a intervenção em diferentes territórios, aprofundar as dinâmicas locais e contribuir para a criação de redes de trabalho colectivo na região e com outras regiões onde o ICE também intervém. Assim, definiu como eixos estruturantes do trabalho as seguintes actividades: 1. Realizações de encontros entre “regiões”, como são exemplos: - A experimentação de uma “Rota da pedra” em Sintra com um grupo de visitantes da região de Campo Maior, realizada em Janeiro. Encontram-se em fase de estruturação outras duas que envolvem vários técnicos e entidades de Sintra, como são exemplo: a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia de Montelavar, o Agrupamentos de Escolas de Montelavar, empresas, Escola Profissional, artesãos da pedra e Centro Internacional de Escultura. - Um outro campo de intervenção existe entre professores e entre crianças, de Vouzela e Alpalhão, mobilizados conjuntamente numa proposta em génese para a musealização de um espaço a partir da experiência realizada em Alpalhão. Pretende-se, também, a implicação de outras agentes locais, nomeadamente autárquicos e de equipamentos sócioculturais, a partir de uma sessão em Vouzela monitorizado pela museóloga da Câmara Municipal de Nisa. - A participação em mais “forúns do movimento associativo da Baixa da Banheira” para a consolidação de um projecto integrado que se encontra numa fase de discussão muito participada, organizada em grupos de trabalho multidisciplinares e multi-institucionais. 5 - A participação do Centro Internacional de Escultura de Sintra e outros parceiros desta região na Bienal da Pedra de Alpalhão/Nisa. - A intenção de dar continuidade a um trabalho de cooperação com a Região do Nordeste Transmontano, recorrendo a visitas entre técnicos e na troca de experiências em oficinas de reflexão e estruturação da intervenção. 2. Realização de encontros entre técnicos em oficinas de trabalho nos diferentes territórios. 3. Aprofundamentos das parcerias e do trabalho de disseminação a partir de outras actividades como o Roteiro dos Fontanários, o Roteiro das Igrejas, a Dinamização de Serviços de Proximidades e o Roteiro Ambiental, projectos que se desenvolvem na região. 4. No acompanhamento e mediação das dinâmicas em desenvolvimento nos territórios das diferentes parcerias que sustentam várias redes de trabalho local e entre locais. Amândio Valente QUINTA DA EDUCAÇÃO E AMBIENTE: A CAMINHO DA AUTOSUSTENTABILIDADE Uma das maiores fragilidades do ICE, é sem dúvida, a pouca aposta que faz na viabilidade dos projectos que anima. A capacidade de resistência de que dão mostras, a maturidade e qualidade das reflexões que produzem, o entusiasmo que pauta as suas iniciativas reflectem, como facilmente se aceitará, o reconhecimento da parte de quem neles participa, reflectem o interesse que suscitam em quem os vive, isto é reflectem a sua “visibilidade” para dentro… Mas a visibilidade “para fora”, repita-se, não é cultivada.Ora o facto é que a visibilidade externa de um projecto é meio caminho andado para a sua legitimação e, com esta, a conquista das condições de sustentabilidade. A Quinta da Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André não foge a esta regra: apesar da sua experiência ter sido levada a fóruns, apesar de algumas das suas iniciativas – caso dos Sábados no Monte – serem publicitadas, apesar de surgir como um espaço de visita obrigatório da ampla rede de projectos do ICE, continua “parcimoniosamente” reconhecido. É por isso que ganham, de facto, particular significado, os apoios que recebeu nos últimos meses (financiamento de um programa da Gulbenkian e afectação de subsídios pela Companhia das Águas de Santo André e Repsol) e que facultaram à Quinta de Educação a sustentabilidade no presente ano lectivo – ao permitirem o pagamento do vencimento de uma técnica e das despesas de funcionamento. A chave deste sucesso (que o é), não estando na visibilidade alcançada pela Quinta está, inegavelmente, no atractivo que representa para quem a visita, no papel assumido pelas crianças que a animam, nos exemplos que dá, de envolvimento comunitário, na natureza da educação ambiental que proporciona, no impacto que possui nas práticas de sala de aulas e na sua mudança, na circunstância de se impor como um pólo de desenvolvimento alternativo, qualificador do lugar. A verdade é que a visibilidade que ganhou “para dentro” e “para o lado” (junto das empresas e instituições locais) já se mostrou suficiente para garantir a sua continuidade, mesmo sem professores destacados (ou requisitados) e em tempos de parcos de recursos financeiros da parte do ICE. Isabel Pereira O fervilhar social que marca os bairros periféricos, os poderes que neles se abrigam, os “pedacinhos de futuro” que aí se encontram, numa palavra, as potencialidades que no fundo lhe dão centralidade nas relações que estabelecem com a estrutura societária geral que (formalmente) os enquadra, são o ponto de partida da intervenção que neles vem sendo conduzida pelo ICE e que os projectos que a seguir se narram, ilustram. Em todos esses exemplos, os actores locais implicados surgem como sujeitos num processo que, emancipandoos, requalificam toda a realidade contextual em que se inscrevem. AS CRIANÇAS E A QUALIFICAÇÃO DA COMUNIDADE DE SANTA FILOMENA Habitado por uma população maioritariamente de origem africana (em particular cabo-verdiana) e também de origem portuguesa, Santa Filomena ombreia com a Cova da Moura, o Bairro Seis de Maio e o Bairro da Damaia na estigmatização de que é objecto, nomeadamente por parte dos meios de comunicação e dos técnicos que nela intervêm. Como os demais, ressente-se da agressividade em que, por regra, as suas gentes são tratadas pelas forças policiais e da incapacidade/ dificuldade das várias instituições presentes, nomeadamente as escolas, em lidar com as diferenças culturais e os problemas sociais com que se deparam. Tráfico de drogas, violentas intervenções Por uma Centralidade do Mundo Periférico Urbano 6 policiais, prostituição, precariedade de emprego, e um constante clima de tensão e de violência, fazem parte do quotidiano desta comunidade. É neste duro quotidiano que encontramos as crianças, às quais nos atrevemos a chamar os “guardiões da comunidade”. Desde pequenos que somos alertados pelos nossos pais que " nunca devemos abrir a porta a estranhos, conversar e muito menos sair com eles". Na comunidade de Santa Filomena, o mesmo aviso também é valido, mas tem a sua particularidade. Aqui são as próprias crianças que nos abrem a porta, dãonos as boas-vindas e mostram-nos os cantos da casa. Desde o momento em que entramos, até quando saímos, somos inundados por um rol de questões, Como te chamas? Donde vens? Estás à procura de quem? O que vens aqui fazer? Para onde vais? Para muitas destas crianças é como se o desconhecido fosse um jornal ambulante, que traz notícias do mundo de lá, ou as noticias para um futuro ali dentro. É nesta constante procura por algo novo, que o nosso trabalho começa – do Projecto LAÇO desenvolvido pelo ICE com o apoio da Gulbenkian - mas quando muitas destas crianças já viram ou já viveram mais do que aquilo que um adulto possa imaginar, a nossa tarefa torna-se um pouco mais difícil. Na comunidade de Santa Filomena, o nosso trabalho começa na rua, o espaço comum de toda a população. Aqui conhecemos os amigos e os familiares, o caminho para casa e os lugares preferidos para brincar. Em todo este processo estão presentes as crianças e são elas individualmente que nos apresentam as pessoas mais velhas e as mais importantes, são elas que nos contam as histórias de cada família, fazemnos entrar no quotidiano de cada família, no quotidiano da comunidade. Durante estas apresentações, desabafam os seus medos e sonhos e contam-nos os seus planos para o futuro. Depois da rua, dos espaços preferidos, dos amigos e dalguns familiares, chegamos a casa e à família (pais). Depois de algumas conversas, rapidamente nos apercebemos das suas principais preocupações, dos seus sonhos e planos para o futuro dos filhos. É precisamente nestes sonhos e projectos para o futuro, que a qualificação da comunidade de Santa Filomena tem início. Se para os pais e avós a resposta para uma qualificação está na Escola, para as crianças esta resposta encontra-se na oferta de um conjunto de actividades realizadas dentro da comunidade e que valorizam a sua identidade e forma de estar. É precisamente nestes sonhos e projectos para o futuro, e propostas de actividades, que a qualificação da comunidade de Santa Filomena tem inicio. Sónia Borges ESCOLA ABERTA EM CARNIDE No âmbito do Projecto “Iguais num Rural Diferente” (da Iniciativa Comunitária EQUAL), têm-se realizado várias experiências na freguesia de Carnide, visando implementar uma metodologia de Escola Aberta em duas das escolas nela existentes. Situam-se essas experiências no decurso da Acção 3 do referido projecto, que tem como objectivo disseminar os resultados e produtos da Acção 2 (centrada na experimentação de novos métodos e modelos de trabalho), que decorreu no concelho de Vouzela, visando a igualdade de oportunidades para as mães operárias e para os seus filhos desse território. Com o objectivo referido de disseminar o modelo daEscola Aberta, experimentado e validado em Vouzela, a PROACT – Unidade de Investigação e Apoio Técnico ao Desenvolvimento Local, à Valorização do Ambiente e à Luta contra a Exclusão Social, com sede em Lisboa e com experiência de trabalho comunitário na freguesia de Carnide (bairros da Horta Nova e do Padre Cruz), desde 1997, assumiu a responsabilidade de enquadrar e coordenar a sua aplicação a duas escolas do 1º ciclo: a EB1 nº 134 (Prista Monteiro) da Horta Nova e a EB1 nº 187 do Bairro Padre Cruz. Até agora, desenvolveram-se essencialmente duas linhas de actividades: a participação de pessoas e grupos da comunidade nas actividades escolares e a participação das crianças em actividades comunitárias, em ambos os casos centradas nalgumas turmaspiloto. No primeiro caso, refira-se em particular a ida, em várias ocasiões, à Escola de pessoas da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Carnide (ARPIC) contar estórias do seu tempo, como forma de participação nas aulas sobre a vida na comunidade envolvente e de reforço da solidariedade entre gerações. No segundo caso, tem-se preparado (e vai-se concretizar em breve) a participação de uma turma em actividades de leitura em casa das pessoas mais velhas que vivem sós, com vista a exercitar as competências de leitura, a contribuir para a amenização da solidão e do isolamento social dessas pessoas e a reforçar também o sentimento de pertença escolar à comunidade. Para além disso, aproveitando a dinâmica de trabalho comunitário que existe nos dois bairros (ambos com Grupos Comunitários a funcionar desde 1993), na mesma lógica de “Escola Aberta”, tem-se partilhado, nas correspondentes reuniões comunitárias, a evolução e a gestão das actividades escolares, tornando as escolas mais articuladas e integradas nas comunidades a que pertencem. Como consequência desta gestão partilhada e aberta, as Associações de Pais de ambas as escolas reforçaram o seu protagonismo e presença na comunidade e, nos Conselhos Gerais Transitórios de ambos os Agrupamentos Escolares, estão representantes dos dois Grupos Comunitários, para além das já referidas 7 Associações de Pais e das autarquias locais (câmara municipal e junta de freguesia). Neste processo, o ICE tem desempenhado o papel de consultor e inspirador da PROACT e do trabalho junto das escolas, estando presente na primeira reunião conjunta de sensibilização e lançamento das actividades, bem como disponível para partilhar todas as fases, interrogações e dificuldades do trabalho, apoiando na procura dos melhores caminhos e soluções. Rogério Roque Amaro MOVIMENTO ASSOCIATIVO UMA FONTE DE PODER NA BAIXA DA BANHEIRA No âmbito do Projecto Integrado da Baixa da Banheira e como forma de induzir o empowerment à sua Comunidade, através das associações aí existentes, realizou-se no dia 22 de Novembro de 2008 o Fórum do Movimento Associativo. Este fórum surgiu na sequência das várias reuniões que os parceiros - grupo dinamizador do projecto de que faz parte o ICE - têm vindo a realizar e onde se concluiu que entre outras acções, como forma de criar dinâmica e interacção entre associações, comunidade educativa e comunidade em geral, era necessário a existência dum espaço de problematização de questões onde associações diversas (Lazer, Recreativas, Desportivas, IPSS, ONGs…), e instituições locais (Câmara Municipal, Junta de Freguesia, Centro de Saúde, Agrupamentos de Escola…) reflectissem, em conjunto, as realidades do local. Com a participação de cerca de vinte Associações, das vinte e oito existentes na Freguesia da Baixa da Banheira, este espaço propôs-se reflectir: “O Papel das Associações na sua Relação com: a Escola, a Famílias, os Associados e os Jovens. Através de um diálogo enriquecedor, questionou-se: �� O fechamento da escola à comunidade… motivos e motivações. �� A “militarização” das crianças, na escola, sujeitas a um horário escolar idêntico ou mesmo superior ao de um trabalhador. �� A duplicação de actividades entre as Actividades Extra-Curriculares e as Associações. �� A família actual e a família dos anos 30/40… (a dificuldade de conciliação entre a vida familiar e profissional actual). O “divórcio”, apesar dos esforços, ainda existente entre associações e associados. �� A importância do movimento associativo, mas a pouca visibilidade deste junto da comunidade… �� A importância dos jovens, mas o desconhecimento que ainda existe sobre os seus interesses e motivações. Entre as muitas associações que foram questionando e problematizando encontravam-se as associações de Escuteiros e o Clube de Futebol “Os Barulhentos” que se fizeram representar pelos seus jovens, vincando estes a importância de “ dar voz aos jovens”, sublinhando-se que dar voz, não é um monólogo, antes um diálogo, (é preciso ouvir, mas também, responder, partilhar e construir; é necessário que os jovens sintam que são parte activa dum processo construído conjuntamente). Das reflexões produzidas foram-se formulando estratégias e conclusões de que se relevam: �� A importância da concertação de esforços articulados para continuar com uma rede de trabalho: (o interesse em que o grupo dinamizador continue a funcionar, alargando-se). �� A utilidade duma Plataforma que se reúna regularmente, para pensar a Baixa da Banheira: (O interesse na continuidade da existência de Fóruns que reflictam o Movimento Associativo). �� A necessidade de despoletar um processo formativo envolvendo técnicos e dirigentes associativos tendo em vista a qualificação das associações nomeadamente no domínio das TIC �� O interesse em investir na aproximação das associações à comunidade apostando-se inclusivamente na construção de parcerias entre as Associações e as Escolas. Os primeiros efeitos já se fizeram sentir – para além das acções desenvolvidas, começaram os contactos das associações junto das escolas na intenção de conjuntamente dinamizar e melhorar a qualidade de vida da comunidade educativa, principalmente as crianças mais carenciadas. Entre outras estão já previstas duas actividades, a primeira para a interrupção lectiva da Páscoa e outra durante as férias de verão, oferecendo às crianças com menos recursos, a possibilidade de fazerem umas férias diferentes enriquecidas com actividades desportivas das associações, deixando aos pais algum tempo livre e a certeza que os seus filhos estão a ser acompanhados. O Projecto Integrado da Baixa da Banheira contempla várias vertentes que vão da animação comunitária, de que são exemplo os tempos de encontro entre crianças, jovens e idosos, à concepção de qualificação de famílias desestruturadas… Mas não deixa, de facto de construir um traço de especificidade e originalidade o papel que nele desempenha o movimento associativo, chamado a trabalhar em rede – recuperando uma prática vivenciada no pós 25 de Abril. Maria Joaquina Costa/Ana Teresa Fernandes 8 UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NOS BAIRROS PERIFÉRICOS DE SETÚBAL Fazendo fronteira com a Bela Vista, já para além dos limites da cidade de Setúbal, encontra-se o Bairro da Manteigada onde vivem cerca de 115 famílias, mais de metade de etnia africana ou cigana.Atravessado por diferentes questões de natureza social – elevada taxa de desemprego, tensões nas relações de vizinhança, idosos em situação de grande isolamento, forte incidência de analfabetismo – 34% dos adultos), Manteigada para além da acção - limitada no tempo - de duas estagiárias profissionais, afectas à Junta de Freguesia de São Sebastião, tem sido deixada mais ou menos ao abandono. Desafiado por este facto e induzido pelo contacto que teve com o bairro - num trabalho que realizou com crianças - projectou o ICE a organização de uma intervenção orientada para o acompanhamento de famílias, o apoio a idosos e a promoção dos jovens (e crianças) a braços com problemáticas criticas como a toxicodependência e o abandono escolar. Enformará esta intervenção, a constituição de um CAFAP, Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental – que se submeterá à Segurança Social –cuja acção se estenderá, progressivamente, aos restantes bairros periféricos da Freguesia de S. Sebastião em Setúbal assumindo, no entanto, em cada um destes, contornos específicos que respondam à singularidade que os caracteriza. A aposta na emancipação das pessoas abrangidas, através da sua participação na construção de soluções e na produção de iniciativas, será o traço distintivo que definirá a intervenção tanto na Manteigada como nos restantes bairros da cidade. Esta proposta está a ser construída com técnicos do DISOC da Câmara Municipal de Setúbal. Rui d’Espiney A acção do ICE não se restringe aos Meios Rural e Periférico Urbano. Outras causas – como a saúde comunitária ou a deficiência, – outros desafios e outras iniciativas em que surgimos como parceiros estão na raiz de projectos / processos que vêm fazendo também o seu caminho As dinâmicas que a seguir se relatam, são disso um exemplo. PROFESSORES ADEREM AO PROJECTO “ O PRAZER DE LER “ E PAIS TAMBÉM… O Projecto do ICE “ O Prazer de Ler ” surge com a finalidade de induzir competências e hábitos de leitura em crianças, jovens, adultos e idosos, procurando que o interesse pela leitura e escrita surjam de forma natural, tendo em conta as diferenças inerentes à idade, aos contextos sociais e à noção de que o gosto pela leitura não se impõe – cultiva-se. O Educador/Professor surge como animador, tendo como suporte um projecto educativo de leitura e escrita especifico, sendo sempre apoiado, pela equipa de acompanhamento do projecto “ O Prazer de Ler”, na planificação das actividades, na formulação de estratégias de promoção da leitura e escrita e na reflexão em equipa com os vários elementos ligados à promoção das actividades preconizadas. A partir da noção de que o prazer de ler se constrói em interacção e, em particular, num quadro de relações intergeracionais propõe-se um leque de iniciativas que tenham por espaço estruturador a sala de aula – onde a criança se confronta com a necessidade de COMUNICAR, de aprender e aperfeiçoar a leitura e escrita – mas que prossigam para além dela, nomeadamente, em contexto familiar, que levem à descoberta do livro, estimulando o prazer de se exprimir e de criar. O entusiasmo e a participação dos professores têm sido muito significativos. Nas reuniões que se realizaram com os pais foi possível estabelecer trabalho colaborativo entre as famílias e as escolas, chegando mesmo a calendarizar-se um plano de trabalho reflectido em conjunto com os pais. O Projecto envolve professores de Sintra, Portalegre, Setúbal, Moita e Nordeste Alentejano e contempla uma vertente formativa organizada pelo Centro de Formação “Comunidades Educativas” do CPDF. Ana Cristina Oliveira PAIS. UMA FONTE DE PODER DO PROJECTO DE INTERVENÇÃO PRECOCE DE SANTIAGO DO CACEM O conhecimento actual e as práticas confirmam a urgência e a importância da intervenção precoce. Encontram-se razões de ordem biológica, fisiológica, afectiva, de solidariedade, de oportunidade, de direitos, de deveres e até económicos. Para os profissionais é o envolvimento, a relação com os meninos e as famílias, o desafio de fazer a diferença no desenvolvimento e na vida de pessoas que se encontram em dificuldades e que precisam de apoio. Outras Dinâmicas 9 Para os pais, na maioria das situações, é o amor incondicional, é o desconhecido, o imprevisto, os diagnósticos, as terapias. Há as expectativas, os desejos, as disponibilidades e as acessibilidades. Foi em resposta a esta percepção que o ICE organizou o Projecto “Antes que Seja Tarde” que, no seguimento de um acordo celebrado com a Segurança Social, a Saúde e a Educação, iniciou a sua actividade junto de várias crianças (+ de 80) com necessidades de intervenção precoce do concelho de Santiago do Cacém. Propôs-se faze-lo, acompanhando-as no seu espaço doméstico, constituindo a nível de cada freguesia, redes de suporte, despistando situações criticas, procurando colmatar as deficiências, em função das necessidades especificas. Um obstáculo se levantou, no entanto, a partir de certa altura. Quase intransponível Concretamente, dos pelo menos 4 educadores que a intervenção carecia e que a Educação se comprometera, protocolarmente, a afectar, só um (e por acaso não educador) foi colocado a tempo inteiro, a partir de Setembro e mais um segundo, em Janeiro mas com condicionantes… E não foi concedido o Psicólogo também previsto pelo mesmo acordo. (De notar que a média no Alentejo, de Programas de Intervenção Precoce é de 9 crianças por educadora e que a equipa já contou com 1 psicólogo mas com verbas que o ICE desencantou mas que já não possui). Os apelos sucessivos feitos para se corrigir esta situação mostraram-se vãos e a reduzida equipa do projecto - viabilizada pelo ICE, a Segurança Social e a Saúde – sentiu-se impotente para continuar a prestar o serviço de qualidade que dela se esperava. Reunidos a 3 de Fevereiro para avaliar a situação, os pais disseram de sua justiça. Como afirmou uma mãe “o meu filho não volta a ter 6 anos… É agora que ele precisa de acompanhamento… Tem de ser encontrada uma solução e já”. E como bem o afirmaram todos: “não pararemos até a situação estar resolvida”. Esta indignação dos pais e a sua determinação em conseguir soluções – a que se associaram em força o Município e as Juntas de Freguesias abrangidas pelo projecto – marcou a diferença: Uma terceira educadora foi já colocada e atenuaram-se as condições da segunda anteriormente colocada. Com a vontade dos pais, não duvidamos que outros passos serão dados Teresa Galrão “ENTRELAÇAR”, UM PROJECTO DE PROMOÇÃO DA SAUDE Num número já significativo de bairros periféricos, em especial na região da Grande Lisboa, vem o ICE levando a cabo uma intervenção diversificada tendo em vista a sua requalificação. A progressiva percepção que se foi ganhando da importância que terá para essa qualificação uma acção orientada para a promoção da saúde - domínio que, de uma forma generalizada, se vem revelando particularmente critico, marcado que são esses bairros por um deficit de despistagens de doenças de várias natureza, pela ausência de hábitos de higiene e de alimentação saudável, por situações de maternidade precoce, pela inexistência ou débil existência de prevenção, enfim, pela não presença de uma cultura de saúde – levou o ICE a conceber um projecto através do qual se propôs trabalhar esta dimensão nos vários bairros onde intervém. Pressupõe este projecto, nomeadamente: A noção de que a promoção da saúde em territórios periferizados constitui uma dimensão estratégica do desenvolvimento, passível de induzir uma nova relação da comunidade com o futuro; A noção de que está em causa, antes de mais, a promoção da saúde e não propriamente o combate à doença, pese embora a importância que será dada à despistagem e encaminhamento de doentes. Apoiada na saúde, na busca das condições da saúde plena e não na centração da doença, as comunidades tendem a entrar numa nova relação com a vida. De entre as várias actividades previstas sobressaem pela vertente de animação comunitária que contêm: As conversas em roda ou "De Roda Com", sessões sobre várias temáticas (de saúde e prevenção de riscos), com a participação de especialistas, para jovens, pais, idosos. O Nós Contigo, grupos de auto-ajuda de destinatários do acompanhamento, abertos à população, com sessões dirigidas às mães (em particular as adolescentes), idosos e outros familiares. A partilha de Sabores com Saúde, convívios onde se explorará uma estratégia de nutricionismo adequado, com recurso a eventual almoço de fim de ano organizado com normas saudáveis. O Roteiro de Mezinhas, que consiste no levantamento de formas de medicina alternativa e/ou de práticas caseiras de tratamento. Um leque diversificado de parceiros - que vão de autarquias às escolas de enfermagem, passando por associações locais - estruturados em rede a nível de cada território, deverá assegurar as sinergias que um projecto desta natureza pressupõe. Tendo em vista a sua viabilização material vem procurando o ICE alcançar o apoio de algumas fundações com programas na área da saúde. Rui d’Espiney UMA DINÂMICA QUE SE RECRIA NAS CALDAS DA RAINHA Há quinze anos, ou talvez mais, que os professores e educadores das Caldas da Rainha se acham implicados em dinâmicas induzidas pelo ICE… Primeiro foi o ECO, que pôs a comunidade na escola e que veio a dar origem a um Centro de Recursos cuja acção se estendeu à maioria das escolas do Concelho, animando trocas, produzindo materiais, organizando encontros de crianças e professores. 10 Quase que em simultâneo com a emergência deste Centro, toda a zona rural, impulsionada pelas escolas da freguesia de Alvorninha, se organizou num amplo movimento que se manteve até à verticalização dos agrupamentos e ao inicio do processo de encerramento de escolas. Estas várias dinâmicas vieram a confluir num núcleo do Projecto Do Longe Fazer Perto, alargado a escolas de outros concelhos, e que se propõe, este ano, orientar a sua intervenção em duas direcções. Por um lado, impulsionar aquilo que designou por “Ciranda Educativa” e que consistirá numa reflexão sobre as práticas de cada sala de aula, colocadas rotativamente na “berlinda”, tendo em vista responder criativamente aos desafios que hoje se erguem às escolas e ao ensino – processo complementado por uma vertente formativa acreditada pelo Centro de Formação “Comunidades Educativas” do CPDF. Por outro organizar encontros temáticos – por nós denominados “Conversas ao Pôr-do-Sol”, abertos à participação das famílias e da comunidade e realizados ao cair do dia nas várias escolas envolvidas Significativo o facto de toda esta dinâmica vir sendo assegurada em regime de voluntariado, mas com uma militância e uma entrega que só se explica pela identificação que muitos dos professores têm com a abordagem e os pressupostos do ICE. Rui d’Espiney DO LONGE FAZER PERTO 16 ANOS DEPOIS Organizado em 1993 pela saudosa Lurdes Bichão, Do Longe Fazer Perto é o exemplo de vitalidade que nem as condições adversas vividas pelas escolas tem conseguido quebrar. Começou por ser uma dinâmica de intercomunicação por contacto virtual e presencial entre escolas de vários pontos do país, mas sob o impulso do Projecto Bolina, desenvolvido no âmbito do Programa EQUAL, transformouse numa rede de comunidades colaborativas tendo por domínio as práticas pedagógicas e por fonte alimentadora a relação com a comunidade. Verdadeiras CoPs entraram assim em funcionamento em Oliveira do Hospital, Coimbra, Caldas da Rainha e Setúbal num processo, que este ano, veio a alargar-se à Moita, a Portalegre e a Sintra. Apostando numa prática diversificada, cruzou-se com outras do ICE (ver texto sobre o trabalho nas Caldas da Rainha) surgindo hoje entrelaçado com o Projecto “O Prazer de Ler” desenvolvido com o Plano Nacional de Leitura. A dinâmica desenvolvida no decurso do projecto conduziu a acções diversas, entre elas, a necessidade de formação junto dos professores que integram o projecto. No ano de 2007/08 frequentaram o módulo de formação organizado em seu apoio cerca de 100 professores. No corrente ano o seu número deverá ultrapassar os 150. Maria Joaquina Costa RECORDANDO LURDES BICHÃO Sócia fundadora do ICE, coordenadora durante longos anos do Projecto Do Longe Fazer Perto, que continuava a apoiar apesar de reformada, Lurdes Bichão será sempre recordada… como amiga, pelo seu espírito solidário e a combatividade de que deu mostras até ao final da sua vida. A velha máxima de que não há pessoas insubstituíveis não cobre o seu caso. Ficamos, sem dúvida, todos mais pobres. A toda a família, a Comissão Directiva do ICE dirige os seus votos de pesar profundo. ASSEMBLEIA GERAL DO ICE ELEGE ÓRGÃOS SOCIAIS Realizou-se, no dia 3 de Dezembro, uma Assembleia-geral do ICE onde, nomeadamente, se procedeu à eleição dos órgãos sociais para o quadriénio 2009-2012. Com uma única excepção, na mesa da Assembleia-geral, foram reconfirmados todos os membros em exercício. Ficaram assim compostos os diversos órgãos: Mesa da Assembleia-geral: Rui Canário (Presidente), Cristina Figueira (V. Presidente) e Clara Mata (Secretária). Comissão Directiva: José Alberto Correia (presidente), Rui d’Espiney (Director Executivo), Horácio Reigado (Tesoureiro), Gracieta Baião e Ângela Luzia (vogais). Conselho Fiscal: Carmo Serrote (Presidente), Rosa Moinhos (Secretária), Mirna Montenegro (vogal). ICE PRESENTE EM SEMINARIO REALIZADOS NO ESTRANGEIRO ● Em Dezembro de 2008, foram desafiadas Olga Mariano e Mirna Montenegro a participar num colóquio europeu sobre a problemática das comunidades ciganas na Europa, organizado por IUFM e CASNAV de Besançon, Desta vez, - outros foram os encontros em que as duas participaram no passado - além do colóquio de 3 dias, prolongou-se a estadia por mais três dias, ocupados em visitas às “Classes d’Accueils des Enfants du Voyage” (classes trampolins nas escolas do 1º ciclo e dos 2º/3º ciclos) e às “Écoles du Voyage” (camiões escola) que seguem as crianças nos seus “Aires de Stationnement” (parques nómadas). Notícias Soltas 11 ● Realizaram-se em Saint-Médard-en-Jalles, nos arredores de Bordéus, França, nos dias 14 e 15 de Novembro passado, as primeiras “Journées des Parents en Gironde”, sob o lema “Prenons le temps entre parents”. Estas jornadas foram uma iniciativa da Réseau d’Écoute, d’Appui et d’Accompagnement des Parents local (Réapp33), entidade que integra a rede nacional criada pelo Estado Francês, em 1999. De acordo com a organização, este encontro, que contou com a participação de cerca de 300 pessoas, constituiuse como um espaço de troca entre pais e entre estes e profissionais que intervêm no domínio da família, debatendo, entre outras, questões relacionadas com a evolução da família, com o desenvolvimento das crianças, com a adolescência e o abandono escolar. Joaquim Marques participou nestas jornadas em representação do ICE, tendo apresentado a comunicação “Comunidades Educativas – processos de construção co-participada a nível local” ● O ICE far-se-á representar no Encontro Internacional sobre Desenvolvimento Local que terá lugar em São Tomé, no próximo mês de Abril, assumindo a responsabilidade por uma das conferências previstas. ICE PARCEIRO DE UM MESTRADO EM EDUCAÇÃO NÃO FORMAL Conceptualizado por Rui Canário, a partir da Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade de Lisboa, vai realizar-se um mestrado no Distrito de Setúbal tendo por grande tema a Educação não Formal. O mestrado em questão, que conta com a parceria do ICE, envolverá os municípios de Almada, Palmela e Setúbal, destina-se, nomeadamente, a professores e técnicos de autarquias e associações e terá entre os seus formadores, associados do ICE. Simbolicamente, procurou-se para o seu funcionamento contextos marcados pela informalidade. Concretamente, Museus Locais e Bibliotecas. MAIS CIDADANIA – A SUL O ICE propôs-se ir ao sul do sul, mais propriamente ao Distrito de Caué, região de Angolares, zona rural e isolada de São Tomé e Príncipe com o Projecto Notícias do Sul – Educação para o Desenvolvimento, com o objectivo de criar pontes entre esta e a região do litoral alentejano, onde tem inúmeros projectos implementados. Propondo acções simples, que se pretendem continuadas pelas dinâmicas locais que necessariamente se criam, é com a colaboração da população e técnicos locais de ambas as regiões que o ICE irá trabalhar, com os meios e as necessidades que vão surgindo no terreno, ampliando-se visões, olhares, e os horizontes de todos os envolvidos. O intercâmbio entre escolas – crianças, professores, pais, alargado a par e passo a toda a comunidade envolvente, desperta a consciência de meninos e adultos, de cá e de lá, para a riqueza que provém das relações interculturais. Actividades como a correspondência escolar entre crianças dos dois países; a escrita de uma história conjunta com “o estafeta da escrita”; a animação do projecto através do documentário e da fotografia, acções que são também produtos de divulgação bem como meios de sensibilização para realidades díspares, enformam a aposta que o ICE pôs na mesa. UM PROJECTO DE SUCESSO EM AGUADA DE BAIXO Sintomático do sucesso atingido pelo Projecto “Famílias um presente um futuro” é sem duvida a desenvoltura da comunicação proferida num encontro proferida pelo GICAS, Grupo de Intervenção Social a Partir da Saúde, por duas senhoras do grupo de mulheres com que se vem trabalhando em três freguesias do concelho de Águeda. Por seu lado, uma oficina pedagógica orientada pelo ICE e dedicado ao papel da informalidade na promoção da mudança e destinada a técnicas de instituições implicadas no acompanhamento destas famílias espelhou a profundidade da reflexão atingida por este projecto. À margem do desenvolvimento do projecto vêm funcionando um grupo de geometria variável que, numa postura de verdadeira comunidade de práticas, tem investido na construção de um pensamento estratégico no domínio da intervenção social. ICE CELEBRA ACORDO COM O PNL Tendo em vista a viabilização do Projecto “O Prazer de Ler”, organizado e promovido pelo ICE, foi celebrado um acordo com o Plano Nacional de Leitura que deverá ser renovado e ampliado no ano em curso. O apoio do PNL veio facilitar, nomeadamente, os contactos com escritores de literatura infantil que o Projecto “O Prazer de Ler” pretende levar junto das escolas envolvidas. FRUTOS DO PROGRAMA EQUAL Os financiamentos de que vêm beneficiando várias iniciativas em curso no país – designadamente do Programa EQUAL – vão chegar ao seu termo. Dois/três anos – tempo de duração desse financiamento - é, sem dúvida, pouco tempo para se produzirem mudanças estruturais em comunidades atingidas pela periferização e, acima de tudo para se assegurar a auto sustentabilidade dos processos em curso. A experiência mostra que tais mudanças exigem uma intervenção a longo termo. 12 O facto de se ter pensado a intervenção, no âmbito do EQUAL, em contextos onde o ICE já acompanhava dinâmicas permitiu, no entanto, que estes se consolidassem, dando lugar a processos enraizados que prometem sobreviver no tempo: efectiva é hoje a rede de projectos que funciona no Nordeste Alentejano construída no âmbito do Projecto - “Potencializar recursos, valorizar e qualificar pessoas e organizações”; perenes são hoje as Comunidades de Prática constituídas em Coimbra, Oliveira do Hospital, Setúbal e Caldas da Rainha sob o impulso do Projecto Bolina; a um passo da institucionalização se encontram o Museu da Vinha e do Vinho de Colares e a Rota da Pedra, impulsionados pelo Projecto TEIAS; materializados se acham a Escola Comunitária de Carvalhal Vermilhas e o CADI, criados sob o impulso do Projectos “Iguais num Rural Diferente”. Como é evidente, acompanhar estes projectos, continua a ser necessário. Se está, na maioria dos casos, assegurada a sobrevivência, não está de todo garantido o processo de recriação permanente que o seu desenvolvimento requer. E por isso, esforços estão a ser feitos para se obterem novos apoios. … Mas os alicerces estão lançados. O fim dos financiamentos já não significará o fim das respectivas dinâmicas. ADLR: UM EXEMPLO VIVO DE PARCERIA ESTRATEGICA Uma iniciativa do Projecto Escolas Rurais de São Pedro do Sul, há talvez 5 anos, levou-nos a entrar em contacto com a ADRL – Associação de Desenvolvimento da Região de Lafões. Foi suficiente para nos apercebermos da proximidade de perspectivas que tínhamos – uma proximidade que nos levou, naturalmente, a aceitar o convite para participarmos num projecto que a ADRL se propunha organizar e candidatar ao EQUAL, o Projecto “Iguais num Rural Diferente”. Com este, a nossa parceria tornou-se estratégica, entrando num nível de cumplicidade, de entendimento que pensamos, exemplar: troca de recursos, determinação de organização conjunta de novos projectos e novas candidaturas, participação em momentos de reflexão interna das duas associações, empenhamento na viabilização mutua… A possibilidade de conceptualizar cursos de animadores comunitários a funcionarem em vários territórios onde intervimos, com a ADRL como entidade formadora, (que, é) a aprovar a sua acreditação e o ICE a “emprestar” as competências no domínio das metodologias, deverá coroar esta caminhada de colaboração. PROJECTO “UM MILÉNIO DE TODOS” O ICE aceitou fazer parte do projecto “Um Milénio de Todos”, projecto que surgiu por iniciativa da CM de Setúbal, convidando várias associações locais a integrá-lo e cujo grande objectivo é criar acções junto da população (do concelho), que informem/sensibilizem para a existência e necessidade do nosso Governo cumprir o compromisso assumido por Portugal, em conjunto com outros 187 países, de pugnar pela concretização dos chamados 8 ODM – Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Entre outras acções, está prevista a realização de um conjunto de Oficinas Temáticas, cuja reflexão incidirá sobre cada um destes 8 ODMs: Com uma calendarização marcada entre Março e Novembro próximo, dar-se-á início às primeiras duas Oficinas já em Março. Para além de participar nestas oficinas – assumindo mesmo a organização da que se dedicará à temática da educação - o ICE está empenhado na potencialização de outros projectos que dinamiza na cidade, como é o caso do “Do Longe Fazer Perto”, para a exploração das problemáticas que enformam os vários ODMs. GULBENKIAM FINANCIA PROJECTO DE AMBIENTE DESENVOLVIDO NA QUINTA DA EDUCAÇÃO DA LAGOA DE SANTO ANDRÉ O ICE viu aprovada a candidatura a um pequeno financiamento, na área do ambiente, destinado a apoiar a intervenção em curso na QEA – Quinta da Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André, em Santiago do Cacém. Entre as possibilidades abertas por este financiamento, destaca-se a que aponta para a edição de uma publicação reunindo as vivências e experiências acumuladas pelas escolas e crianças que protagonizam o projecto QEA. Instituto das Comunidades Educativas Rua Nossa Senhora da Arrábida, nº3-5, r/c 2900 -142 Setúbal Tel.: 265542430/8 // Fax: 265542439 ice@netvisao.pt // www.iceweb.org Apoio:
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