domingo, 11 de outubro de 2009

Mário Simões Dias - No Diário de Notícias 5-2-1930

Do Diário de Notícias 5-2-1930:
É amanhã que se realiza no salão do conservatório o anunciado recital de Mário Simões Dias, que, como os precedentes, tem interessado vivamente o nosso meio artístico musical, sempre ávido de aplaudir aquele insigne artista e delhe testemunhar a admiração que lhe consagra.
Simões Dias é um temperamento de eleição, um «virtuose» que arrebata e apaixona e cuja legião de admiradores é imensa e vai-se avolumando dia a dia num crescendo constante, à medida que à sua gloriosa carreira se vão cimentando novas páginas de triunfos. Achamos interessante, a propósito deste recital, fornecer aos nossos leitores alguns dados biográficos de Mário Simões Dias.
Nasceu em Coimbra a 2 de Junho de 1903, vindo aos 6 anos para Lisboa, onde seus pais fixaram residência, tendo-se manifestado algum tempo depois os primeiros sintomas do mal que aos 10 anos lhe roubou a vista.
Desde muito criança se notava em Mário Simões Dias grandes aptidões musicais, que com o tempo se foram evidenciando e afirmando duma forma indiscutível, a ponto das provas espontâneas do seu temperamento artístico levarem os pais, por conselho de Cecil Mackee, então empresário do sr Carlos, a confiar a educação do novel talento ao grande mestre F. Benetó.
Benetó viu sempre em Simões Dias um dos seus melhores discípulos, e do convívio destes dois espíritos privilegiados nasceu uma amizade que ainda hoje subsiste.
A 8 de Junho de 1925 realizou o seu primeiro recital em Lisboa, no salão da Liga Naval, com um programa do qual fazia parte o celebre concerto op 61 de Beethoven.
Em Fevereiro de 1926 executou, no Teatro do Gimnasio, com a orquestra de Fernandes Fão, o concerto de Max Bruck.
No dia 2 de Maio do mesmo ano apresentou-se ao público do Porto, no salão nobre do Centro Comercial, sendo entusiásticamente aplaudido.
Todos estes concertos valeram a Simões Dias referências elogiosas em toda a imprensa de Lisboa e do Porto.
Animado por estes triunfos consecutivos e aspirando à perfeição da sua arte, quis ouvir e receber conselhos dos grandes mestres estrangeiros.
Em 1926 fixou residência em Paris, donde há poucos meses regressou.
Durante estes três anos ouviu os ensinamentos do grande mestre Lucien Capet, com que privou largamente e cuja morte inesperada profundamente o impressionou.
Embora fosse Capet o seu mestre preferido, doutros ouviu ainda os preciosos ensinamentos. Mário Simões Dias várias vezes se apresentou ao público francês, que muito o apreciava, dando recitais não só em Paris como também fazendo-se ouvir com grande sucesso e inúmeros aplausos em Biarritz e St Jean de Luz.
Em Paris, além de ter tomado parte nas «matinées» de Henri Pruniéres, director de «la Revue Musical», de ser ouvido no Grande Hotel Continental em colaboração com o eminente pianista Marcel Ciampi, etc, Mário Simões Dias realizou o seu último recital em Abril de 1929 na sala «Chopin» da Casa Pleyel, que mereceu de exigentes críticos parisienses, como Marcel Beruhein, Genis Mussy , Pierre Wolf e outros, justas e lisongeiras apreciações. No verão de 1929 regressou a Portugal, fixando residência em Coimbra, onde fundou com seu pai e o Dr Câmara Leite a Academia de Música de Coimbra, Instituto Particular a que o Governo concedeu a vantagem de nele serem feitos os exames do Conservatório.
Sem deixar a sua vida de concertista, Mário Simões Dias trabalha afincadamente no engrandecimento da sua Academia, que tem para Coimbra um extraordinário valor.
Sacrificou à música toda a sua vida, mesmo a sua vocação para as letras, revelada auspiciosamente num livro de versos denominado «Outonos» , publicado em 1921, a que se seguiu um poemeto, «Puríssima», obras estas em que largamente foi demonstrada a sua sensibilidade de artista e que mereceram elogios de toda a crítica.
É, pois, um verdadeiro artista em toda a acepção da palavra,Mário Simões Dias, a quem o nosso público irá dispensar, mais uma vez, a sua carinhosa admiração.
Já poucos bilhetes restam para este recital, atendendo ao valor de Mário Simões Dias, podendo-se obter os poucos que restam no salão Neuparth, da rua nova do Almada; Casa Sassetti, ,, da rua do Carmo, e joalharia do Xavier de Carvalho, da rua Áurea.

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