domingo, 4 de janeiro de 2009

poema de Miguel Torga

DESFECHO

"Não tenho mais palavras.

Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)
Fosse qual fosse o chão da minha caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente... E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lher perturba a sua solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia."

Sem comentários:

Etiquetas