segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Acerca do programa «a nossa terra quer» e Covas do Monte

Carta à SIC Exmos. Senhores,

Como representante legal do ICE – Instituto das Comunidades Educativas, parceiro do projecto “Covas do Monte Aldeia Viva de Covas do Monte e a quem tem cabido, aliás, a responsabilidade pelo seu acompanhamento metodológico, dirijo-me a V. Exas. em virtude do que se passou com o concurso “A Minha Terra Quer”.

Levar uma comunidade isolada, em estado próximo da anomia, a começar a acreditar num futuro alternativo ao seu presente é um processo muito lento e complexo. Faz-se, ultrapassando as descrenças através dos pequenos êxitos que se conseguem, mostrando que os pequenos passos que se vão dando no sentido da melhoria das condições de vida podem ser objecto de reconhecimento. A mais pequena frustração às expectativas que eventualmente criam pode ser suficiente para o reinstalar do desânimo, para o criar da noção de que não vale a pena lutar.

Não nos surpreenderam, pois, as muitas reticências que os seus habitantes fizeram à ideia de candidatar a aldeia ao vosso concurso. Assim como não nos surpreendera a pouca crença que tinham na possibilidade de o vencerem e de através disso poderem realizar o seu sonho.

Face a esta realidade o que se passou com o concurso é da maior gravidade. Ao verem anunciada a vitória da sua aldeia, a comunidade entrou em euforia e pode dizer-se começou a acreditar em si. Começou a acreditar que de facto valia a pena “o que vem tentando”.

Verificar, três dias depois, que tudo não passava de um “engano” foi um duro golpe, recaindo numa descrença bem mais vincada do que aquela que possuíam quando o projecto se iniciou.

Este é o estrago e o prejuízo causado pela vossa estação.

Foi um engano, dizem-nos e, como é evidente, sabemos bem que os enganos são possíveis…

Mas não ilibam as responsabilidades. Uma instituição que se quer credível, respeitada, “preferida” aos olhos da opinião pública não pode ficar indiferente perante os estragos que provoque, ainda que involuntariamente. De algum modo tem de encontrar forma de redimir-se, de reconquistar a confiança dos que lesou. Não basta um pedido de desculpas privado, não publico. Tem – teria no caso vertente – de contribuir para “repor o ego” da comunidade de Covas do Monte.

Pode pensar-se que uma aldeia perdida na serra, com 54 habitantes não pesa no prestígio da SIC, mas esse seria um erro de quem não tem nomeadamente em conta a rede de relações que a aldeia em questão já construiu: através de instituições como a nossa, por exemplo, a sua influência chega a diversas universidades, autarquias e associações de desenvolvimento local.

Por tudo isto, pela importância que damos ao recriar da esperança em Covas do Monte, aguardamos, aguarda o ICE, uma reparação condigna e eficaz.

O Director Executivo

Rui d’Espiney

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