sábado, 27 de dezembro de 2008
Do livro "Sinto Muito" de Nuno Lobo Antunes
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Jorge Pedreira equipara os professores a ratos
Jorge Pedreira equipara os professores a ratos numa reunião de professores socialistas!
Explicando porque não pode ceder o ministério às exigências dos professores: «Quando se dá uma bolacha a um rato ele a seguir quer um copo de leite!» Um relato na primeira pessoa. António Galrinho Nos últimos dias recebi SMSs de diversos colegas alertando para a presença do Jorge Pedreira, secretário de estado da educação, numa palestra a realizar em Setúbal, no dia 16 de Novembro às 17h. A palestra era subordinado ao tema "Política de Educação", foi promovida pela distrital do PS mas era aberto a não-militantes. Eu lá apareci, pensando que ia encontrar vários colegas da nossa escola, mas fui o único. No auditório da Estalagem do Sado, estávamos oitenta pessoas, o que corresponde a cerca de metade dos lugares. Esperava ver lá mais gente. Quase todos os presentes eram militantes do PS e percebi mais tarde, pelas intervenções, que cerca de metade dos presentes eram, também, professores. Eu, que sou apartidário e feroz crítico de quase tudo o que seja políticos e seus comportamentos, e nada habituado a estas lides, ali fiquei sentado ao lado de um colega de outra escola, na última fila. Na mesa estava o secretário de estado, ladeado pelo ex-deputado, actual presidente da distrital do PS (e também pintor) Vítor Ramalho, e por um indivíduo que nunca falou e que desconheço. Na plateia reconheci de imediato o Humberto Daniel, ex-presidente da junta de freguesia de S. Sebastião, e o Paulo Pedroso, deputado do PS. A palestra foi um misto de operação de charme e de apalpar o pulso aos militantes sobre o assunto em causa. O secretário de estado falou durante 50m, ininterruptamente e sem recurso a qualquer tópico escrito. Trazia, natural e obviamente, a lição mais do que sabida. Disse essencialmente disparates, mentiras e até ofendeu os professores. Aquelas coisas que estamos fartos de ouvir: os professores trabalham poucas horas, nunca foram avaliados, não querem ser avaliados, os sindicatos assinaram e agora não cumprem com o que assinaram, os professores eram uns privilegiados porque progrediam automaticamente nas carreiras, o excessivo abandono escolar, a falta de hierarquias, o premiar do mérito, etc., etc., etc. Depois houve inscrições para expor opiniões. 27 pessoas se inscreveram, entre as quais eu, que falei mais ou menos a meio. Pensei que a generalidade dos militantes aproveitasse a ocasião para tecer elogios às virtudes do ECD e do seu modelo de avaliação, mas não foi isso que aconteceu. Começou por falar o militante Chocolate Contradanças (é esse o seu nome) que foi professor e se disse desgostoso por ver o estado de desmotivação em que a sua mulher está, ela ainda professora, e referiu que o PS iria perder a maioria absoluta devido a esta ME; foi aplaudido. O Humberto Daniel teve uma intervenção bombástica ao começar por dizer que "por muito menos o Correia e Campos foi para a rua"; foi aplaudido. Outros militantes se seguiram. O Paulo Pedroso teceu críticas ferozes, também preocupado com os resultados eleitorais. Disse "a Escola está agora pior" e, referindo-se a uma passagem do discurso do secretário de estado em que este dizia que os últimos dez anos foram uma barafunda (não me lembro se a palavra foi esta ou outra idêntica) nas escolas, Pedroso lembrou que "o PS esteve 7 desses 10 anos no governo"; foi muito aplaudido. Seguiram-se outras intervenções, de professores, alguns membros de conselhos executivos, ex-professores e militantes do PS, cada uma apontando aspectos diferentes das fraquezas deste modelo de avaliação, raramente se apontando virtudes. Chegou a minha vez e quis partir mais alguma loiça, pois estava revoltado sobretudo com uma frase dita pelo secretário de estado e que não havia sido ainda comentada por ninguém. No final do seu discurso ele havia dito, referindo-se às negociações com os sindicatos, que não estava na disposição de ceder nem de renegociar. Coroou o seu raciocínio com o provérbio chinês "Quando se dá uma bolacha a um rato, a seguir ele quer um copo de leite." Assim, sem tirar nem pôr! Depois de me apresentar, esclareci que sabia o que era uma metáfora mas que não podia ficar indiferente à contextualização dada àquele provérbio, onde os professores eram comparados aos ratos, e salientei: - Um professor pode até aceitar uma bolacha e pode até beber um copo de leite, mas também sabe desmontar uma ratoeira;Tensão na sala, com muitos olhos em cima de mim, de pé, com o microfone na mão. Mas não fraquejei e achei que devia ser ainda mais contundente. Depois de referir as fraquezas deste modelo, a má-fé e as reais intenções que estão por trás dele disse: - Isto é uma palhaçada! Continuei dizendo que o ME está sempre a passar à opinião pública que os professores trabalham poucas horas e que têm muito tempo de férias. Lembrei que: - Em relação às horas, não sei como chegam a essa conclusão, pois eu nunca trabalho menos de 40h por semana, e é frequente trabalhar bem mais. Quanto às férias e às paragens, como nos podem atirar isso à cara se nos limitamos a cumprir o calendário estipulado pelo ministério? Até parece que os professores andam a roubar alguma coisa a alguém. Sabia que estava a pisar terrenos argilosos, mas arrisquei de novo: - Isto é uma palhaçada! Às tantas o Vítor Ramalho interveio e disse que não podia admitir esta linguagem, que se tratava de um encontro de militantes do PS onde as pessoas se respeitavam. Eu, que vejo na generalidade dos políticos pessoas que são tudo menos sérias, estive-me nas tintas para os seus pruridos. Perguntei-lhe se os não-militantes não podiam intervir. Ele disse que sim. Perguntei-lhe se me deixava continuar e concluir a minha opinião. Disse de novo que sim, e eu continuei. Para concluir lembrei-me de uma série de ataques que o secretário de estado fez aos professores e às suas formações. A esses ataques respondi: - Todos os professores têm formação média, superior ou equiparada, alguns têm mestrado, outros têm doutoramento. Fizeram profissionalização dentro dos moldes estipulados superiormente. Fazem acções de formação e actualização com regularidade. Como nos podem atirar também isso à cara? Lembro que mais de 90% dos professores têm habilitações académicas superiores às do primeiro-ministro. - Aí é que foram elas! Não se podia falar mal do ai-jesus de todos eles, ali. Pateadas da mesa e de muitos dos presentes na plateia. Ainda perguntei, por duas vezes: - Estou a dizer alguma mentira? Ninguém me disse que não. Sentei-me; ninguém bateu palmas. Ouvi atentamente as intervenções seguintes. Um psicólogo referiu que a ministra tem, à partida, qualquer coisa contra os professores, e que isso é notório nas suas intervenções. O último a falar foi um colega que referiu conhecer como funcionam as coisas noutros países da Europa, onde esteve várias vezes em trabalho, e de não saber de nenhum onde os professores sejam divididos em duas carreiras. Questionava ele a que país, afinal, tinha ido o ME inspirar-se. Para terminar, foi dada a palavra ao secretário de estado, que voltou a falar das virtudes deste modelo de avaliação e da importância de o levar à prática. Foi um discurso circular, onde muito pouco se reflectiram as preocupações colocadas pela plateia. Foi assim a minha aventura de quatro horas numa palestra promovida pelo partido que suporta o governo que está a destruir o ensino público no nosso país. António Galrinho Publicado por JoaoTilly em novembro 20, 2008 07:37 AMterça-feira, 18 de novembro de 2008
Não desperdiçar as oportunidades da crise, artigo de Leonardo Boff
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2008
Não desperdiçar as oportunidades da crise, artigo de Leonardo Boff
Face ao cataclismo econômico-financeiro mundial se desenham dois cenários: um de crise e outro de tragédia. Tragédia seria se toda a arquitetura econômica mundial desabasse e nos empurasse para um caos total com milhões de vítimas por violência, fome e guerra. Não seria impossível, pois o capitalismo, geralmente, supera as situações caóticas mediante a guerra. Ganha ao destruir e ganha ao reconstruir. Somente que hoje esta solução não parece viável pois uma guerra tecnológica liquidaria com a espécie humana; só cabem guerras regionais sem uso de armas de destruição em massa. Outro cenário seria de crise. Para ela, não acaba o mundo econômico, mas este tipo de mundo, o neoliberal. O caos pode ser criativo, dando origem a outra ordem diferente e melhor. A crise teria, portanto, uma função purificadora, abrindo espaço para uma outra oportunidade de produção e de consumo. Não precisamos recorrer ao idiograma chinês de crise para saber de sua significação como risco e oportunidade. Basta recordar o sânscrito matriz das línguas ocidentais. Em sânscrito, crise vem de kir ou kri que significa purificar e limpar. De kri vem também crítica que é um processo pelo qual nos damos conta dos pressupostos, dos contextos, do alcance e dos limites seja do pensamento, seja de qualquer fenômeno. De kri se deriva outrossim crisol, elemento químico com o qual se limpa ouro das gangas e, por fim, acrisolar que quer dizer depurar e decantar. Então, a crise representa a oportunidade de um processo critico, de depuração do cerne: só o verdadeiro fica, o acidental cai sem sustentabilidade. Ao redor e a partir deste cerne se constrói uma outra ordem que representa a superação da crise. Os ciclos de crise do capitalismo são notórios. Como nunca se fazem cortes estruturais que inaugurem uma nova ordem econômica mas sempre se recorre a ajustes que preservam a lógica exploradora de base, ele nunca supera propriamente a crise. Alivia seus efeitos danosos, revitaliza a produção para novamente entrar em crise e assim prolongar o recorrente ciclo de crises. A atual crise poderia ser uma grande oportunidade para a invenção de um outro paradigma de produção e de consumo. Mais que regulações novas, fazem-se urgentes alternativas. A solução da crise econômica-financeira passa pelo encaminhamento da crise ecológica geral e do aquecimento global. Se estas variáveis não forem consideradas, as soluções económicas, dentro de pouco tempo, não terão sustentabilidade e a crise voltará com mais virulência. As empresas nas bolsas de Londres e de Wall Street tiveram perdas de mais de um trilhão e meio de dólares, perdas do capital humano. Enquanto isso, segundo dados do Greenpeace, o capital natural tem perdas anuais da ordem de 2 a 4, trilhões de dólares, provocadas pela degradação geral dos ecossistemas, desflorestamento, desertificação e escassez de água. A primeira produziu pânico, a segunda sequer foi notada. Mas desta vez não dá para continuar com o business as usual. O pior que nos pode acontecer é não aproveitar a oportunidade advinda da crise generalizada do tipo de economia neoliberal para projetar uma alternativa de produção que combine a preservação do capital natural com o capital humano. Há que se passar de um paradigma de produção industrial devastador para um de sustentação de toda a vida. Esta alternativa é imprescindível, como o mostrou corajosamene François Houtart, sociólgo belga e grande amigo do Brasil, numa conferência diante da Assembleia da ONU em 30 de outubro do corrrente ano: se não buscarmos uma alternativa ao atual paradigma econômico em quinze anos 20% a 30% das espécies vivas poderão desaparecer e nos meados do século haverá cerca de 150 a 200 milhões de refugiados climáticos. Agora a crise em vez de oportunidade vira risco aterrador. A crise atual nos oferece a oportunidade, talvez uma das últimas, para encontrarmos um modo de vida sustentável para os humanos e para toda a comunidade de vida. Sem isso poderemos ir ao encontro da escuridão.quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Poesia de Osvaldo Kiluange Sousa
domingo, 2 de novembro de 2008
Poesia de Osvaldo Kiluange Sousa
sábado, 1 de novembro de 2008
Poesia de Osvaldo Kiluange Sousa
Entrevista do (a) poetelas
- Sobre mim
-
Hoje a poesia clama o isolamento dos bairros
Bairros cidades de realojamento Transformados em guetos de sofrimentos Bairros onde habitam gentes de lusofonia Que gemem entre a escuridão a lentidão da política A poesia clama os gritos de dor e gemidos dos desprezados Bairros que nasceram com a imigração de gentes coloridas Gentes que vieram em busca da razão para viver Confiando na lusofonia prometida
domingo, 26 de outubro de 2008
Pliny’s Natural History and the idea of history of art in classical antiquity.
Thursday, 23 October 2008
Pliny’s Natural History and the idea of history of art in classical antiquity.
By Miguel Ayres de Campos Tovar. Moreover, the path is not a beaten highway of authorship, nor one in which the mind is eager to range: there is not one of us who has made the same venture, nor yet one Greek who has tackled single-handed all departments of the subject Pliny, Natural History, Book Idomingo, 19 de outubro de 2008
Osvaldo poeta, 'detective' e 'manager' da Quinta do Mocho
Seminário Intervenção Comunitária e Participação
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Acerca do programa «a nossa terra quer» e Covas do Monte
Como representante legal do ICE – Instituto das Comunidades Educativas, parceiro do projecto “Covas do Monte Aldeia Viva” de Covas do Monte e a quem tem cabido, aliás, a responsabilidade pelo seu acompanhamento metodológico, dirijo-me a V. Exas. em virtude do que se passou com o concurso “A Minha Terra Quer”.
Levar uma comunidade isolada, em estado próximo da anomia, a começar a acreditar num futuro alternativo ao seu presente é um processo muito lento e complexo. Faz-se, ultrapassando as descrenças através dos pequenos êxitos que se conseguem, mostrando que os pequenos passos que se vão dando no sentido da melhoria das condições de vida podem ser objecto de reconhecimento. A mais pequena frustração às expectativas que eventualmente criam pode ser suficiente para o reinstalar do desânimo, para o criar da noção de que não vale a pena lutar.
Não nos surpreenderam, pois, as muitas reticências que os seus habitantes fizeram à ideia de candidatar a aldeia ao vosso concurso. Assim como não nos surpreendera a pouca crença que tinham na possibilidade de o vencerem e de através disso poderem realizar o seu sonho.
Face a esta realidade o que se passou com o concurso é da maior gravidade. Ao verem anunciada a vitória da sua aldeia, a comunidade entrou em euforia e pode dizer-se começou a acreditar em si. Começou a acreditar que de facto valia a pena “o que vem tentando”.
Verificar, três dias depois, que tudo não passava de um “engano” foi um duro golpe, recaindo numa descrença bem mais vincada do que aquela que possuíam quando o projecto se iniciou.
Este é o estrago e o prejuízo causado pela vossa estação.
Foi um engano, dizem-nos e, como é evidente, sabemos bem que os enganos são possíveis…
Mas não ilibam as responsabilidades. Uma instituição que se quer credível, respeitada, “preferida” aos olhos da opinião pública não pode ficar indiferente perante os estragos que provoque, ainda que involuntariamente. De algum modo tem de encontrar forma de redimir-se, de reconquistar a confiança dos que lesou. Não basta um pedido de desculpas privado, não publico. Tem – teria no caso vertente – de contribuir para “repor o ego” da comunidade de Covas do Monte.
Pode pensar-se que uma aldeia perdida na serra, com 54 habitantes não pesa no prestígio da SIC, mas esse seria um erro de quem não tem nomeadamente em conta a rede de relações que a aldeia em questão já construiu: através de instituições como a nossa, por exemplo, a sua influência chega a diversas universidades, autarquias e associações de desenvolvimento local.
Por tudo isto, pela importância que damos ao recriar da esperança em Covas do Monte, aguardamos, aguarda o ICE, uma reparação condigna e eficaz.
O Director Executivo
Rui d’Espiney
Encontro de Contadores, Lareiras e Sabores
Estória, História...: Encontro de Contadores,
Lareiras e Sabores
Maciço da Gralheira
3, 4 e 5 de Outubro de 2008
''Quem faz o conto é o ouvido'' Italo Calvino
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
domingo, 14 de setembro de 2008
Covas do Monte venceu e depois perdeu
sábado, 13 de setembro de 2008
CARTA ABERTA AOJORNAL DO INCRÍVEL
Exmo Senhor Director do Jornal do Incrível.
Dirijo-me a V. Exª porque os factos que levo ao vosso conhecimento são tão incríveis que me parece que só no vosso jornal ficariam bem enquadrados. Assim, permito-me esperar que mereçam a vossa atenção.
O acontecimento refere-se ao concurso televisivo «a-nossa-terra-quer» promovido pela SIC. São convidados a concorer projectos de âmbito social, cultural ou desportivo. Os projectos pré-seleccionados são avaliados por um júri que escolhe três por distrito. Depois de apresentados em reportagens na SIC, estes projectos serão sujeitos à votação do público através do telefone , para escolher o vencedor,que terá acesso a um financiamento até 30 000 €-
Na 4º feira 3 de Setembro foram apresentados os tres projectos do distrito de Viseu.Um dos três era o denominado «Covas do Monte-Aldeia Viva» que conheço e admiro pela originalidade, dinamismo e militancia dos participantes.
No dia 05/09/08, pelas 21h, após o encerramento das linhas telefónicas destinadas à votação nos projectos do distrito de Viseu do Programa a "Nossa Terra Quer" o site oficial da SIC,
http://sic.aeiou.pt/online/
Três dias depois, no dia 08/09/08 pelas 11h a SIC muda de ideias. Muda o vencedor, que passa a ser Associação Cultural e Recreativa de Cambra .
O que aparece na página WEB não é um pedido de desculpas formal pelo engano . Não é uma explicação do modo como conseguiram «enganar-se» na contagem automática dos votos. Não é, tão pouco, uma explicação clara que permita ao público acreditar que se trata de um «engano» e não de uma trafulhice descarada.
A SIC limita-se a limpar a informação anterior, como se nunca lá tivesse estado! Deixando aqueles que consultaram o site, leram a notícia atempadamente e a divulgaram e festejaram, passar por loucos ou mentirosos! Sem qualquer explicação, sem qualquer aviso ou vestígio de respeito pelo seu público ou pela verdade...
GATO ESCONDIDO COM RABO DE FORA .
Há manchas difíceis de limpar. A SIC quis limpar a primeira notícia enviada, que noticiava a vitória da Associação dos Amigos de Covas do Monte, mas deixou um rasto.
Aqui está a prova.
Este link foi recuperado através da memória cahe do google.
A explicação é a seguinte, conforme publicita o próprio google:
O Google tira uma " foto " de cada página examinada enquanto elas são carregadas e guarda-as na memoria se alguma estiver indisponível. Se Você clicar no link Cached , você verá as páginas como elas estavam da ultima vez que foram carregadas. Esse serviço é bom para se a página estiver indisponível no momento , mas a página vista pode não ser a vesão mais atualizada .
Quando a página armazenada é mostrada ela terá um cabeçalho, que servirá como um lembrete de que esta é uma página armazenada e não a página em si. Os termos que coincidem com sua busca estão destacados na versão armazenada, para que você identifique mais facilmente porque essa página é relevante.
Em conclusão
Esta atitude descuidada da SIC explica-se porque cosidera que Covas do Monte, uma aldeia de pastores nas profundezas da Serra de Arada, com 58 habitantes humanos e 2000 caprinos, não tem capacidade de fazer ouvir a sua voz. Mas acontece que Covas do Monte também é uma aldeia incrível!
Juntei em baixo algumas fotos, que estão publicadas na internet. No meu pequeno blog, Zetovarinho, coloquei alguma informação que recolhi sobre Covas do Monte, essencialmente no blog http://agricultura-covas-do-
Covas do Monte quer Verdade, Transparência, Clareza, Rigor, Justiça.
A luta é desigual.
Mas também David venceu Golias!
Á vossa atenção subscrevo-me respeitosamente -- Maria José Tovar zetovar1@gmail.com
Covas do Monte e o concurso A-Nossa-Terra-Quer no Blog Agricultura-
Terça-feira, 9 de Setembro de 2008
Aqui está a prova.
Este link foi recuperado através da memória cahe do google. http://66.102.9.104/search?q=cache:7vtOSIYnSl0J:sic.aeiou.pt/online/sites%2Bsic/sicporportugal/novidades/ntqviseu.htm+Associa%C3%A7%C3%A3o+Amigos+de+Covas+do+Monte+vence+%22A+Nossa+Terra+Quer%22&hl=pt-PT&ct=clnk&cd=1&gl=ptCovas do Monte (segundo o projecto criar raizes)
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
reclamação feita à http://www.erc.pt acerca da mudança de vencedor do concurso «A NOSSA TERRA QUER»
domingo, 7 de setembro de 2008
Associação Os Amigos de Covas do Monte vence!
05.09.2008
A Associação Os Amigos de Covas do Monte foi a grande vencedora no distrito de Viseu, deixando os dois restantes projectos a grande distância.
Os resultados da votação do público foram os seguintes:
Associação Os Amigos de Fragosela - 6,4%
Associação Cultural e Recreativa de Cambra - 7,8
Associação Os Amigos de Covas do Monte - 85,8%
Resumo do projecto vencedor:
Projecto de intervenção comunitária para recuperar espaços significativos para a sustentabilidade da aldeia. Pretendem contrariar o aceleramento do despovoamento das povoações interiores com iniciativas que aumentem a auto-estima e capacidade de empreendorismo dos habitantes. Pretendem potenciar e valorizar os elementos de ruralidade como factores atractividade para a aldeia e promover a mesma no exterior, recuperar espaços significativos (piscina natural na levada do moinho, moinho de água, e lagar de azeite) atribuindo-lhes novas funcionalidades na procura da sustentabilidade da aldeia. São potenciais elementos turísticos, sociais, culturais e lúdicos que facilitam o encontro das gerações dos habitantes da aldeia e do exterior.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
quinta-feira, 17 de julho de 2008
A Infanticida Maria Farrar Bertold Brecht - A Infanticida Maria Farrar
Maria Farrar, nascida em abril, sem sinais particulares, menor de idade, orfã, raquítica, ao que parece matou um menino da maneira que se segue, sentindo-se sem culpa. Afirma que grávida de dois meses no porão da casa de uma dona tentou abortar com duas injeções dolorosas, diz ela, mas sem resultado. E bebeu pimenta em pó com álcool, mas o efeito foi apenas de purgante. Mas vós, por favor, não deveis vos indignar. Toda criatura precisa da ajuda dos outros. Seu ventre inchara, agora a olhos vistos e ela própria, criança, ainda crescia. E lhe veio a tal tonteira no mei do ofício das matinas e suou também de angústia aos pés do altar. Mas conservou em segredo o estado em que se achava até que as dores do parto lhe chegaram. Então, tinha acontecido também a ela, assim feiosa, cair em tentação. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros. Naquele dia, disse, logo pela manhã, ao lavar as escadas sentiu uma pontada como se fossem alfinetadas na barriga. Mas ainda consegue ocultar sua moléstia e o dia inteirinho, estendendo paninhos, Buscava solução. Depois lhe vem à mente que tem que dar à luz e logo sente um aperto no coração. Chegou em casa tarde. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros. Chamaram-na enquanto ainda dormia. Tinha caído neve e havia que varrê-la, às onze terminou. Um dia bem comprido. Sòmente à noite pode parir em paz. E deu à luz, pelo que disse, a um filho mas ela não era como as outras mães. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros. Com as últimas forças, ela disse, prosseguindo, dado que no seu quarto o frio era mortal, se arrastou até a privada, e ali, quando não mais se lembra, pariu como pôde quase ao amanhecer. Narra que a esta altura estava transtornadíssima, e meio endurecida e que o garoto, o segurava a custo pois que nevava dentro da latrina. Entre o quarto e a privada o menino prorrompeu em pratos e isso a perturbou de tal maneira, ela disse, que se pôs a socá-lo às cegas, tanto, sem cessar, até o fim da noite. E de manhã o escondeu então no lavatório. Mas vós, por favor, não deveis vos indignar, toda criatura precisa da ajuda dos outros. Maria Farrar, nascida em abril, morta no cárcere de Moissen, menina-mãe condenada, quer mostrar a todos o quanto somos frágeis. Vós que parís em leito confortável e chamais bendido vosso ventre inchado, não deveis execrar os fracos e desamparados. Por obséquio, pois, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outrosdomingo, 6 de julho de 2008
O INSUSTENTÀVEL PESO DO DISPARATE
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Escrito por Acácio Gouveia, em 03-07-2008 08:28
" … com uma casa tão cheia de parvoíces, não queria abrir a boca para juntar mais alguma." Graham Joyce – "Os factos da vida"
Leu a carta, manuscrita com letra legível e razoável português, com a bochecha apoiada no punho direito, fechado, e o cotovelo apoiado na secretária. Dirigida ao director do Centro de Saúde, a familiar dum idoso acamado e muito dependente (presumia-se sem favor, que sujeito a demasiado sofrimento) solicitava um médico para este doente que há anos perdera o seu médico de família. Em baixo a anotação manuscrita e "à consideração do Dr.…", assinada pelo director (*). Em jeito de súplica, pensou para si.
Pousou a carta, libertou a mão direita da função de pilar da cabeça e, em pronação, esticou os dedos sobre os vários impressos que jaziam nesse lado da secretária e foi-os espalhando com movimento lento: Lei n.º 49/2007 de 31 de Agosto de 2007- Normas para a detenção, criação e treino de animais perigosos ou potencialmente perigosos. Artigo 3.º, nº2 — Para a obtenção da licença referida no número anterior o detentor tem de ser maior de idade e deve entregar na junta de freguesia respectiva, alínea c) Atestado de capacidade física e psíquica para detenção de cães perigosos ou potencialmente perigosos, em termos a regulamentar pelo Governo (*) – "uma imbecilidade" suspirou. Fincou o cotovelo esquerdo no tampo, apontou o antebraço na vertical, esticou os segundo e terceiros dedos ao longo da face, o polegar em ângulo recto foi-se acomodar sob o queixo e os dois restantes, semi-flectidos, ficaram-se pelo mento. Decreto-Lei nº 542/79 DR Nº 300 I 31-12-1979 Estatuto dos Jardins-de-Infância Art. 22ª, nº4, alínea d) Declaração médica referindo que a criança não sofre de doença infecto-contagiosa e que a criança é ou não portadora de qualquer deficiência (*) – legitimado pela recente contestação da própria Sociedade Portuguesa de Pediatria qualificou-a com severidade: uma idiotice obsoleta. Atestado Médico para as funções de Sapador Florestal nos termos do artigo 2º do D.L. n.º 38/2006, de 20 de Fevereiro, a ser passado pelo médico de família. Obrigatoriamente, depreende-se. Pelo menos houvera o bom senso de incluir alguns parâmetros de avaliação, considerou. E os pré-requisitos para o ensino superior – uma chachada.
A mão mudou de lugar e foi esfregar a testa. Havia mais, muitos mais. Os olhos desviaram-se, como que atraídos pela estante dos livros, onde a lombada mais apelativa se evidenciou: "A Brincadeira" – Milan Kundera. A mão contornou a cabeça de frente para trás, quase despenteando os escassos cabelos e regressou à face para se imobilizar em frente à boca, os dedos todos juntos. Os médicos de família não abundam (virtualmente ninguém o nega), contudo a tutela não tem pejo em multiplicar o trabalho burocrático, misturando documentos de importância indubitável com simples patetices, numa orgia caótica própria dum filme dos irmãos Marx. Depois a sociedade civil secunda, com uma alegria frenética, este delírio do Estado: qualquer bicho careta se arroga o direito de exigir uma declaração médica por dá cá aquela palha. Atestados para taxistas, escuteiros, seguranças, etc., etc. ...
Da aparelhagem de som emergia a voz do coro dos anciãos de Catuli Carmina de Carl Orff: "O res ridícula! Immensa stultitia" (**).
As mãos encontraram-se, as polpas dos dedos tocaram-se e juntaram-se palma com palma, em posição de prece frente ao rosto. Os polegares quedaram-se sob o queixo e os indicadores subiram até ao nariz, cuja ponta elevaram discretamente. Os olhos prenderam-se por instantes na lombada seguinte: "A nave dos loucos" de Katherine Anne Porter. Efectivamente, em tempo de escassez de mão-de-obra, seria de esperar que concentrassem o labor dos médicos em tarefas de alto valor acrescentado (tratar doentes, por exemplo), nunca em procedimentos secundários ou de utilidade nula. Mas a rainha de copas insiste em inventar jogos fúteis.
Meditava sobre os papéis jazentes na secretária quando se apercebeu do paradoxo sinistro. Por um lado pediam-lhe (quase imploravam) que tomasse conta duma doente acamada. Por outro, impunham-lhe a emissão de declarações, a maioria delas idiotas.
Neste SNS, os papeluchos toscos tornaram-se mais importantes que as pessoas sem médico de família.
Ocorreu-lhe "A Náusea" de Sartre. Perderam a noção das prioridades e do decoro, concluiu.
Retirou os óculos com a mão esquerda e depois o antebraço trouxe-a até à secretária onde repousou. O indicador e polegar da direita, em pinça, apertaram levemente os lados do nariz ao nível dos olhos que se fecharam, com vigor, enrodilhando as pálpebras. A Sra. Ministra havia respondido com alguma ambiguidade ao protesto da FNAM sobre as transcrições – verdadeiro acto de racket burocrático. Revelou então o pendor para com o lóbi hospitalocêntrico. Se não, atente-se nesta pérola inserta na Circular Informativa nº 2 da ACSS: "a referência (?) para os centros de saúde deve ter lugar nos casos de haver benefício, em termos de comodidade, para o utente". Comodidade para o doente? Comodidade é evitar-lhe uma ida desnecessária ao centro de saúde apenas para trocar um papel por outro e, claro está, cambiar os pagadores da factura.
Vagueou o olhar até se fincar num artigo de jornal que dava conta da preocupação da Sra. Ministra com a saída de médicos do SNS, mas augurando ao mesmo tempo o seu regresso.
Dos altifalantes, em tom imperativo o coro de Catuli proferia: "Audite ac videte!" (***) e ele matutou, com a liberalidade de linguagem própria de quem guarda os pensamentos adentro dos limites da abóbada craniana: "bem podes esperar sentada! Só se ensandecerem! O SNS faz lembrar um filme de Jean-Luc Godart ou do Fellini. E fitas destas só na tela".
As mãos desistiram das deambulações crânio-faciais e encaminharam-se para os apoios da cadeira, onde se firmaram para o ajudar a levantar. Ainda olhou de soslaio para uma reprodução das "Tentações de Santo Antão" de Bosh, mas resolveu sair do escritório.
Acácio Gouveia
quarta-feira, 2 de julho de 2008
FORUMzinho Social Mundial
domingo, 22 de junho de 2008
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Álbuns da web do Picasa - ze
domingo, 15 de junho de 2008
terça-feira, 10 de junho de 2008
terça-feira, 27 de maio de 2008
terça-feira, 20 de maio de 2008
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Caminhando pelas rotas do pastor...
Caminhando pelas rotas do pastor...
domingo, 11 de maio de 2008
Loucos e Santos
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Agricultura Tradicional em Covas do Monte: Quando Maio
sábado, 3 de maio de 2008
publicações de Mário Simões Dias - 1903
O PADRE PATAGÓNIA
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Actos e omissões
'Uma utopia é uma possibilidade que pode efectivar-se no momento em que forem removidas as circunstâncias provisórias que obstam à sua realização.' Musil"
terça-feira, 29 de abril de 2008
sábado, 26 de abril de 2008
sexta-feira, 25 de abril de 2008
parabéns 25
Caminhando juntos Empenhamo-nos Analisamos Construindo caminhos Revendo estratégias
Alerta Para as possibilidades Para o super-havit Para o Mais Ser Parabéns 25 o 25 és tu sou eu somos nós Caminhando Juntos"
domingo, 30 de março de 2008
Gmail - 0,5% do irs para o ICE sff
sábado, 29 de março de 2008
standered.jpg
Caminandos Juntos - About Us - Rights
Lucía, Reina de ochenta y ocho años, Cara arrugada, Boca sin dientes, Chupando sus bigotes, Sentada en su trono De caca y orina, Mente como neblina, Ecos del pasado, Susurros de historia, De sexo tenido, De bebés concebidos, De niños criados, De comidas cocinadas, De flores plantadas, Todo ido, Sentada sola Como en una cuna, En su caca y orina, Gritando repetidamente, Repetidamente,"¿Por qué?, ¿Por qué?, ¿Por qué? Así muchos otros, Sin nombre, Sin amor, Sin padres, Sin compañeros, Con el beso de la caca, El contacto físico de la orina, La mierda del frío, El grito de la desesperación, Y la presencia de la muerte.
terça-feira, 18 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
terça-feira, 11 de março de 2008
100,000 teachers demonstrate in Lisbon - Pravda.Ru
sábado, 8 de março de 2008
educação especialmente inclusiva
A Educação que se constrói como “EspecialmenteInclusiva”
Rosa Madeira - Universidade de Aveiro
Neste artigo queremos abordar a Educação Especial e a Escola Inclusiva, como indícios da relação das Sociedades com a Diferença ou Diferenças que, em cada momento da sua história, estas reconhecem e sancionam, positiva ou negativamente.
Esta perspectiva nos parece interessante na medida em que consideramos que as pessoas portadoras de deficiência constituem um dos grupos sociais que a sociedade identifica por diferenças que são constantemente transformadas em critérios de discriminação social que, por sua vez, legitimam o desvio das suas trajetórias da confluência da vida comunitária.
É neste contexto que nos propomos reflectir sobre as implicações das concepções e práticas dos educadores e de outros atores sociais a quem a sociedade delega o poder de sinalizar, descrever, medir e atribuir significado valorativo a características, desempenhos e interpretações das crianças e jovens com deficiência.
Consideramos que a educação tem sido promovida como meio de homogeneizar disposições sociais e níveis de produtividade individual que contribuem para consolidar processos de normalização de funções e papéis sociais a que resistem, por diferentes razões, diversos grupos sociais. Desta perspectiva, podemos considerar que as pessoas portadoras de deficiência fazem parte de um grande grupo que inclui as minorias étnicas, lingüísticas, raciais e/ou religiosas, na condição de imigrantes, de refugiados ou de pobreza.
O que há de comum em todos estes casos é que a diferença de atributos pessoais e o respectivo impacto nas relações sociais é desigualitariamente avaliado pelo grupo dominante, que se identifica e faz-se identificar como padrão de referência. Assim, o problema da relação das sociedades com as diferenças individuais pode também ser analisado criticamente como expressão e reprodução de assimetrias entre os que definem e os que são definidos como “diferentes”.
É considerando a Educação inclusiva como um dever das sociedades que se construíram historicamente sobre a recusa da naturalização da desigualdade entre seres humanos, que se pode problematizar a educação especial que justifica a separação de contextos e de trajetórias de vida das crianças e jovens da mesma Comunidade. Deste ponto de vista, a Escola inclusiva constitui uma alternativa à Educação Especial, que se constrói por referência a padrões de desenvolvimento, de aprendizagem, de comportamento e que reforçam concepções de média, de norma e de desvio.
Neste artigo nos propomos revisitar e contextualizar, social e historicamente, a narrativa da experiência de um grupo de educadores que animou um movimento social local que se tornou conhecido a nível nacional e internacional como alternativa a formas convencionais de educação especial.
Como veremos adiante, este movimento emergiu em Portugal em meados dos anos 70 e teve a sua origem a interacção entre pais, profissionais e outros agentes locais ligados aos sectores de educação, saúde e segurança social que, ao longo do tempo, se foram constituindo como "comunidade de interesses". Foi a partir desta estruturação mínima das suas relações interpessoais que alguns destes elementos da comunidade puderam desenvolver uma filosofia social e adoptar como finalidade comum, o não consentimento e a erradicação da exclusão de qualquer criança da comunidade.
Dentro de limites, variáveis ao longo do tempo, este grupo pôde construir a sua ação à margem dos tipos ideais que estruturavam a educação especial. Para isso, teve que desconstruir os estereótipos de “deficientes”, de "inadaptados", de “reabilitadores” ou “reeducadores” incorporados no seu próprio pensamento, linguagem e práticas, nas quais se reproduziam os princípios de visão e de divisão do mundo social que excluía aqueles para quem reclamavam a inclusão social.
Era esta realidade social objectivada nas situações, mas também interiorizada nas subjectividades construídas pela socialização primária e secundária, que grupo se dispunha a reconhecer para transformar, através da acção-reflexão-acção nas comunidades de interesse que constituía. Era a partir desta outra base social da sua intervenção que puderam investir consistentemente na reinvenção de trajectórias de inserção e de produção de conhecimento social, que era percepcionado como contra-corrente à reprodução da desigualdade e da exclusão inerente à sociedade. Sociedade formada pela hierarquização de laços de pertença, inclusão e identidade comunitária e por princípios universalistas que constituem os Estados-Nação.
Pensamos que a narrativa deste percurso pode tornar mais visíveis e pronunciáveis as relações sociais que se estruturam e definem em diferentes níveis ou escalas de acção social. Pode contribuir para desnaturalizar a desigualdade de oportunidades de inclusão e reconhecimento social, justificada pela categorização de diferentes características, tipos e níveis de desempenho de interpretação da realidade, que classificam para hierarquizam indivíduos e grupos sociais, qualificando ou desqualificando subjectividades segundo a posição.
O caso que aqui discutiremos nos parece também interessante porque põe em evidência a relação da educação com uma sociedade que, tendo saído, através da revolução de Abril de 1974, de um período de cristalização das instituições sociais, teve que passar por sucessivos processos ou fases de estruturação/reestruturação das relações (macro, meso e micro) sociais, ao longo dos últimos 30 anos.
Reconhecendo-se como parte desta história social e desta totalidade dinâmica de relações sociais, o grupo foi-se movendo e foi mobilizando recursos locais e outros atores sociais na criação de espaços e laços sociais novos que tornaram possível a inclusão de alguns grupos, na reconstrução constante do seu próprio conhecimento social e pedagógico e na cuidadosa exploração de margens de liberdade de pensamento e de acção social no interior da comunidade e do Estado.
Ao dar visibilidade aos progressos e retrocessos vividos por estes educadores, que se descobriram apenas relativamente autónomos no interior da Comunidade e do Estado relativamente autónomo face a instâncias internacionais, queremos pôr a hipótese da Escola inclusiva poder ser, dentro de alguns limites, construída como lugar de tomadas de posição que desestabilizem os mecanismos da reprodução social, precipitando assim a reconstrução e a democratização social.
Defendemos que a replicação ou a alteração das dinâmicas e das relações sociais estabelecidas pela exigência de funcionalidade do regime de acumulação capitalista, dependem, em certa medida e em dados momentos cruciais, do compromisso que tanto educadores quanto os pais e demais atores sociais, assumem relativamente às crianças, aos idosos, às pessoas portadoras de deficiência ou em situação de crise e de outras minorias ( étnicas, raciais, sexuais, religiosas). Sendo os Educadores social e politicamente investidos da tarefa de discriminar diferenças ou antes sujeitos “diferentes” que perturbam a “harmonização” de funções sociais, podem recusar ou negociar critérios de classificação social que posicionam os sujeitos como “desiguais”. De certa forma e em certa medida, a manutenção da funcionalidade ( pelo menos parcial) dos sistemas económicos que produzem a exclusão e que não estão comprometidos com a construção da igualdade entre todos os cidadãos, dependerá do modo como os educadores se posicionem diante das circunstâncias dos grupos subordinados ou excluídos.
Foi através desta tomada de consciência e de posição (axiológica e política) que, a nosso ver, este grupo pôde desenvolver um ponto de vista alternativo à possibilidade e direito à inclusão social, como princípio a universalizar pela sua praxis individual e colectiva. A ideia de que seria possível construir um outro lugar de existência comum, em que aqueles que se descobriam como semelhantes poderiam valorizar a singularidade pessoal de todos os outros, parece ser a utopia que deu consistência à multiplicidade de acções desenvolvidas pelo grupo de Águeda.
Foi procurando desocultar para compreender estas contradições sociais entre a retórica da igualdade e o sancionamento das diferenças com efeitos sobre a vida de alguns grupos mais vulneráveis à discriminação negativa, que o grupo pode ir construindo um “outro” caminho feito a caminhar, contra a exclusão e a favor da inclusão, contra a diferenciação desigualitária e a favor da construção da igualdade, contra a classificação das características segundo padrões de norma, media e desvio e a favor reconhecimento das diferenças como expressão de subjectividades, assumindo a diversidade e a interdependência humana como valor e desafio a imaginação social.
Para situar os leitores no contexto a que nos referimos, começaremos por fazer uma breve referência à comunidade em que se inscreve esta experiência e ao processo de construção da igualdade e da diferença a que o grupo teve que responder no campo da educação especial.
Num segundo momento passaremos a narrar e a problematizar o movimento social contra a exclusão das crianças portadoras de deficiência nos contextos educativos da comunidade e na escola, enquanto lugar social situado entre o Estado e a Comunidade.
De seguida, faremos uma incursão sobre como as relações sociais, estruturadas a nível macro social e no exterior da comunidade, participaram para que o movimento pela inclusão em curso tivesse que ser traduzido em outras linguagens para manter-se dentro do âmbito da acção do Estado Providência e ao abrigo das relações locais que reagiam à problematização da desigualdade social como constrangimento do acesso e sucesso educativo das crianças dos grupos subordinados.
Finalmente, retomamos a discussão sobre a Educação Especial e a Escola Inclusiva como pólos de uma tensão social que se expressa nas decisões políticas da Sociedade mais ampla e que deveriam ser apreendidos como limites mas também como desafios à reconstrução social por novos sujeitos colectivos que se possam identificar pela capacidade de atravessar fronteiras entre escalas, saberes, poderes, linguagens e as próprias disposições sociais incorporadas nas suas práticas, para reinventar a sociedade.
A construção da igualdade e da diferença na Comunidade de que fala a narrativa
A Experiência que aqui apresentamos teve lugar num Município localizado na zona Centro de Portugal., com cerca de 50.000 habitantes. Trata-se de uma região reconhecida pelo desenvolvimento econômico alcançado com a industrialização que, em poucas décadas, transformou agricultores em operários e alguns operários em empresários.
Embora a população mantenha laços afetivos à terra e a valores que estruturam e dão significado ao mundo social rural, o ritmo e a intensidade do processo de industrialização submeteu todos os grupos sociais a um processo de aculturação e de reestruturação da sua vida individual e colectiva segundo valores da Modernidade.
A Revolução de Abril em1974 veio acelerar e orientar estas transformações no sentido da democratização das oportunidades sociais e da desestabilização de hierarquias sociais que eram naturalizadas pelas comunidades. Naquele período, as pequenas e médias empresas multiplicaram-se por iniciativa de muitos operários e ex-agricultores que na época tinham um mínimo de propriedade para investir o capital tecnológico que tinha desenvolvido numa posição subalterna e ao serviço de grandes empresas.
Esta alteração fez com que alguns grupos tivessem melhorado as suas condições de vida e de acesso a outras oportunidades, designadamente a novos rendimentos e direitos sociais. Este processo não abrangeu, no entanto, todas as famílias residentes e muito menos as famílias imigradas de zonas pobres do interior. A estas famílias coube assumir quase exclusivamente as tarefas produtivas que requeriam maior esforço e que, por serem pior retribuídas, foram abandonadas pelos naturais. Esta posição, baseada na distinção negativa entre sujeitos que deixaram de reconhecer-se como semelhantes, fez com que muitas famílias tivessem perdido laços sociais como o centro da comunidade, tornando-se assim reclusas da periferia..
Para diferenciar-se e para consolidar a nova identidade social, definida pela alteração de posições sociais relativas, a classe social emergente começou a definir como “ïnferiores” os grupos subordinados ou os que não podiam garantir o aumento de níveis de produtividade. A estes grupos era atribuída a responsabilidade do não aproveitamento das oportunidades sociais que iam sendo criadas mas que só eram universais na aparência e na retórica.
A estas famílias naturais, que foram discriminadas negativamente para legitimar as novas desigualdades sociais que se estabeleciam localmente, vieram entretanto juntar-se populações do interior e as famílias provenientes dos países africanos descolonizados naquela época. As condições sub-humanas de alojamento e a inexistência de relações de acolhimento dos que eram identificados na comunidade como outros, ou como “os de fora”, contribuiu para a desqualificação de algumas áreas de residência que passaram a concentrar alguns segmentos da população.
As barreiras sociais e de comunicação que foram sendo construídas criaram condições de estigmatização daqueles grupos por aqueles que animavam os novos círculos sociais criados com a melhoria de condições de vida, de contrato social e de reconhecimento de direitos sociais.
Esta dinâmica de reestruração e ressignificação das relações locais, segundo outras lógicas de pertença, identidade e inclusão social, participaram para o empobrecimento relativo de muitas famílias de trabalhadores indiferenciados, cuja imagem de precariedade e dependência passou a contrastar cada vez mais com a imagem de sucesso e “altruísmo” das “outras” famílias.
O próprio isolamento que havia deixado algumas famílias sem redes de protecção social, as distanciou dos espaços onde ia sendo construída a cidadania promovida com a democratização do Estado. Era neste outro lugar que as outras famílias da comunidade começavam a substituir hábitos de solidariedade directa sem receber contrapartidas simbólicas.
Nesta dinâmica, combinava-se a luta de uns grupos por melhorar as suas novas condições de vida individual com a resistência de outros grupos contra a apartação social que o grupo de educadores, pais e outros agentes locais de Águeda, encontraram, indo de lugar em lugar e quase porta a porta, como é o caso de crianças cujas características físicas ou desenvolvimentais pareciam comprometer a integração social também das suas famílias.
Um grande número das crianças, jovens e adultos destas zonas em transformação eram invisíveis na comunidade. As famílias viviam isoladas e na sua maioria tinham rompido com as redes de apoio social tradicionais da comunidade. Na ausência de redes sociais formais elas tinham que atender e por vezes esconder, os seus dependentes com deficiência, vistos como diferentes pela comunidade.
A acção do grupo foi desencadeada pelo contacto directo com situações de total marginalidade em que se encontravam as crianças e jovens portadoras de deficiência e outras que a comunidade sinalizava por diferenças comportamentais. Mobilizado pela preocupação com o impacto da relação negativa das comunidades e das famílias com as diferenças destas crianças, o grupo se organizou contra as condições desumanizadas e desumanizantes geradas pelo grau de restrição e abandono social em que elas vivam, sob a responsabilidade exclusiva de pais, também isolados e estigmatizados pelo meio.
A construção de espaços de inclusão dos excluídos, no interior das Comunidades
Na luta por encontrar respostas para a realidade de que tinha tomado consciência, o grupo obteve uma casa emprestada como sede da sua intervenção, mas rapidamente esta foi transformada num Jardim-de-infância1 que pudesse integrar parte das crianças que estavam reclusas no espaço doméstico ou ainda no espaço da fábrica e/ou do trabalho agrícola de subsistência. Neste novo lugar, criado para as crianças da comunidade, 20% das vagas pertencia a crianças portadoras de deficiência, independentemente do tipo e do grau das suas dificuldades de movimento, de comunicação ou de autonomia em actividades de vida diária, decisão que foi facilitada por já haver alguma experiência acumulada por uma educadora e por dois pais que integravam o grupo base.
Durante quase duas décadas, este Centro de Educação Integrada foi a sede do grupo que animava o Movimento pela inclusão no Município, apesar da inevitável dispersão dos profissionais pelos novos serviços de educação, saúde e apoio social que foram sendo criados para reforçar e diversificar os recursos locais de apoio às crianças, suas famílias e educadores de infância.
Durante duas décadas este serviço reuniu pessoas em torno de ideias, mas sobretudo de problemas sociais concretos de crianças excluídas ou em desvantagem, que resultaram em processos e projectos de ações, que foram sendo formalizadas como serviços de apoio à infância na comunidade. Nestes novos serviços, a inclusão das crianças e de grupos em risco de exclusão social se instituiu como um princípio de toda a acção social.
A partir de Outubro de 1975, um grupo de crianças identificadas como portadoras de autismo, síndrome de Down, surdez profunda, paralisia cerebral e atrasos graves de desenvolvimento, começou a fazer parte dos vários grupos de crianças deste Jardim de Infância. O processo de integração de cada uma e de todas as crianças na confluência da vida do Centro, foi pensado a partir de uma outra lógica ou racionalidade que permitia ver as vantagens dos grupos heterogéneos, como forma de promover relações de interdependência entre crianças com diferentes idades, níveis de desenvolvimento, interesses e recursos de autonomia e de comunicação.
Na perspectiva do grupo e dos profissionais que foram sendo integrados, a finalidade seria prestar a todas as crianças os mesmos cuidados e a mesma atenção educativa de que cada uma necessitasse para lidar com estas novas circunstâncias e regras de convivência entre elas e delas com os adultos. O que importava ao grupo era explorar situações de interação social, de comunicação, de descoberta e de aprendizagem entre crianças diferentes (porque únicas) dentro e fora das salas de actividades, com a participação dos pais, irmãos e de outras pessoas da comunidade envolvente.
O desafio era facilitar e manter a interação entre as crianças, entre os educadores e os pais, ou seja, entre conjuntos de relações interpessoais e entre grupos que se fossem constituindo a partir de interesses comuns. Era nestes grupos que se procurava enriquecer as oportunidades de comunicação e de aprendizagem entre todas as crianças com atenção a cada uma.
As crianças com maiores recursos de participação estavam envolvidas nas mesmas situações em que os seus companheiros com dificuldades de locomoção, comunicação, compreensão e adaptação social, havendo momentos em que as diferenças de modos e níveis de desempenho exigiam muita criatividade dos educadores que tiveram que redefinir com os pais o que se passaria a entender como uma “ boa educação” para todos.
O que teve que ser constantemente revisitado foram os objetivos e os conteúdos das experiências das crianças, com que se ia dando forma e consistência ao currículo e aos diversos contextos criados. O que em nenhum momento era posto em causa era a integração como direito social inalienável de cada criança.
O foco passou a ser a intencionalização das interações sociais com e entre as crianças e dos adultos entre si, porque esta era considerada a actividade principal dos educadores, partilhada com outros adultos envolvidos no processo. A capacidade de comunicação e a imaginação de contextos que pudessem prevenir e tirar proveito das tensões e dos problemas práticos através do o uso dos espaços, do tempo, dos objetos e dos acontecimentos, eram colectivamente transformados em materiais de formação. O próprio papel dos educadores e dos pais foi sendo redefinido em função dos contextos, pretextos, formas e conteúdos de comunicação que emergiam com e entre as crianças e que, devido à novidade e risco da situação criada, requeriam ser escutadas com mais atenção.
O reconhecimento das diferenças, radicado na preocupação com a igualdade de oportunidades, criou um outro sentido para a educação, na sua dimensão comunitária.
Em 1978, muitas das crianças com deficiência eram reconhecidas e investidas como agentes de sensibilização dos seus vizinhos e familiares que começavam a focar o olhar sobre as potencialidades de desenvolvimento que estavam ocultadas pela condição anterior. O levantamento de novas situações e a formulação de problemas concretos decorrentes da integração ou do isolamento de outras crianças desencadeava mais e mais respostas positivas de comunidades.
A invenção do lugar para a diferença na Escola enquanto lugar de normalização
Em 1979 as primeiras crianças começaram a atingir a idade de ingresso na escolaridade obrigatória e algumas escolas públicas da comunidade da sua residência, abriram as suas portas aos grupos de Jardim-de-infância que incluíam as crianças com mais necessidades de atenção individualizada.
As crianças foram recebidas voluntariamente por professoras experientes que aceitaram o desafio de pensar como e o que ensinar na escola, além da leitura, da escrita e do cálculo, tendo em conta que o grupo incluía crianças com disposições e recursos cognitivos e sociais muito diferentes.
Para apoiar estas professoras na sua experiência, alguns elementos do grupo base se organizaram - interdisciplinar e interprofissionalmente - como Grupo de Apoio ao Desenvolvimento da Criança. A partir deste espaço foi desenvolvendo modos próprios de abordagem dos problemas emergentes na comunidade, procurando suporte científico e técnico junto de especialistas de serviços diferenciados, inexistentes na comunidade.
Este grupo constituiu a base da criação de vários momentos e contextos locais de comunicação e tomada de decisão entre profissionais, pais e outros agentes da comunidade; criavam o “lugar” necessário para a reconstrução de respostas antigas para problemas novos, com que as escolas passaram a conviver positivamente a partir do momento em que a integração das crianças portadoras de deficiência tornou mais visível e pronunciável a diversidade de níveis de desenvolvimento, experiências sociais e culturais vividas em diferentes contextos materiais e de socialização, presente nos grupos.
No Grupo de Apoio ao Desenvolvimento da Criança havia uma médica, uma educadora e uma assistente social responsável por estruturar e dinamizar estes espaços/momentos de comunicação, em que participavam professores das turmas e professores de apoio, bem como pais e, em alguns casos, as próprias crianças envolvidas nas situações em causa. A reunião destes elementos, acontecia em resposta a pedidos de ajuda na resolução de problemas emergentes de relacionamento das crianças entre si, ou relativamente às regras, aos conteúdos de ensino/aprendizagem ou com as actividades que, até aquele momento, regulavam as relações e a comunicação no contexto da sala de aula.
A reunião deste grupo era solicitada também em momentos de avaliação/planificação do que ensinar e aprender em salas de aula além da leitura, da escrita e do cálculo. Neste caso, as soluções eram procuradas nas respostas de perguntas tão simples quanto as seguintes:
que problemas “nos” preocupam?
o que a criança faz com o que, onde, quando e com quem?
o que mais a criança pode saber e fazer para participar mais vezes e durante mais tempo, em contextos de interação com um maior número de pessoas, potencialmente significativas para as suas vidas ?
quem, como, onde e quando pode ensinar o que ela precisa aprender ?
que recursos existem ou poderiam ser criados para facilitar esta aprendizagem e melhorar as condições de relacionamento entre todas as pessoas implicadas neste processo educativo e na vida da criança ?
A experiência e as memórias deste “trabalho social” local bastante delicado, foi sendo partilhado entre grupos locais e entre estes e outros grupos de professores de fora da comunidade, que estavam a tentar também a integração das crianças que eles consideravam especiais. No final de cada ano o conhecimento social e pedagógico, que era assim reconstruído e enriquecido no face a face, era comunicado em Seminários anuais em que participavam outros profissionais da comunidade, alguns pais e especialistas convidados das áreas da saúde, da educação e formação, da segurança social e/ou intervenção comunitária. Nestes seminários surgiam a cada ano diversas “agendas” de formação e de intervenção local
Em todo este processo houve preocupação de envolver os meios de comunicação social, designadamente na divulgação dos encontros anuais que decorreram entre 1978 e 1986. A projecção social destes encontros de professores em torno da experiência de integração das crianças com deficiência mental em Jardins de Infância e nas Escolas, tornou a Experiência de Águeda conhecida de especialistas de serviços oficiais, de Universidades e, através deles, de peritos da OCDE e UNESCO e de investigadores estrangeiros ( Genéve, Parma, Nebraska ).
A visibilidade pública e externa da Experiência foi, sem dúvida, um dos factores que validou e acreditou localmente as experiências pedagógicas que se construíam contra a discriminação e segregação das crianças e jovens com deficiência da comunidade. Outro factor foi a produção e divulgação continuada de “imagens humanas” da intervenção, devidamente informadas por dados actualizados de avaliação que fundamentavam as decisões e as práticas em curso.
Esta divulgação não visava apenas os profissionais dos serviços de saúde, educação ou de protecção social, mas também outros atores locais sem formação específica, investidos da responsabilidade na promoção de bem estar de toda a população. A intervenção social foi sendo assim traduzida em diversas linguagens conforme as disposições políticas, sociais ou religiosas ou a escala de acção ( lugar, Freguesia, Município, Distrito, País ...) de quem lia e interpretava a experiência narrada, como construção de soluções éticas para problemas práticos de inclusão de todas as crianças e respectivas famílias na comunidade.
Construindo a oficialidade das práticas no interior do Estado Providência
A consolidação de todo este processo não teria sido viável se não tivesse havido a preocupação de o situar numa esfera pública mais ampla do que a Comunidade ou da acção dos profissionais e da própria Bela Vista Centro de Educação Integrada enquanto sede do grupo que animava o movimento. Não teria bastado o cuidado de reflectir sobre as experiências em curso, com os pais e profissionais directamente envolvidos na acção para validar ou acreditar uma experiência pedagógica investida como intervenção para a transformação da realidade social que excluía as crianças que pretendíamos incluir. Isto foi realmente possível entre meados dos anos 70 e 80, no período a seguir à Revolução que reclamava a democratização de toda a sociedade, pela sociedade.
A medida em que os anos 80 avançavam, a responsabilidade emancipatória do Estado nos diversos âmbitos da sua acção, começou a ser formalizada e regulada não só internamente mas também pelo exterior e por instâncias internacionais. Este foi o chamado ”período de normalização” das políticas sociais públicas em Portugal ( cf. Rodrigues,F; 2000)
A experiência de integração na escola pública de crianças portadoras de deficiência, até aí dinamizada na e pela comunidade, exigia agora ser formalizada e sistematizada como política educativa, orientando-se por critérios tendencialmente universais, portanto menos particulares e locais. Esta oficialização da acção do grupo abriu espaço para o diálogo com Serviços do Estado dos quais dependia também o provimento de recursos humanos e financeiros para manter respostas criadas na relação directa com novas situações-problema, cujas soluções tinham sido “inventadas” com os recursos existentes.
Até 1981 o argumento do combate à segregação das crianças e suas famílias tinha sido suficiente para que a Divisão do Ensino Especial do Ministério da Educação tivesse podido vincular quatro professoras à Bela vista, para desenvolver as experiências de integração de crianças com problemas graves de desenvolvimento/comunicação/comportamento no espaço de sala de aula. Neste segundo momento esta acção pedagógica no interior da escola pública, passou a constituir um problema legal que era preciso resolver.
O Estado e a Comunidade precisaram combinar esforços para instalar localmente uma estrutura jurídico administrativa e pedagógica pública que enquadrasse esta acção e outras desencadeadas e apoiadas pela Bela Vista e pelo Grupo de Apoio ao Desenvolvimento da Criança. A criação de uma Equipa (Municipal) de Educação Integrada, veio enquadrar, além do apoio na sala de aula, o apoio domiciliário a crianças com alto risco de consolidarem atrasos de desenvolvimento, sem acesso a Jardins de infância e o apoio itinerante às crianças com deficiências, sensorial e motora, que era prestado por professores especializados que faziam parte da Equipa (Regional) de Educação Especial, cuja acção era facilitada com transporte, salas e algum material da Bela Vista.
O Estado cumpria assim o que era prometido pelo artigo 71º da nova Constituição da República: “realizar uma Política Nacional de prevenção, de reabilitação e de integração dos deficientes, a desenvolver por uma pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e de solidariedade para com eles e assumir o encargo da efetiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais e tutores”.
Foi neste contexto em que a Comunidade e o Estado assumiam a responsabilidade de garantir a educação como direito das crianças enquanto cidadãs e membros da comunidade, que a política de Educação Especial em Portugal passou a desenvolver-se para além do apoio financeiro, destacamento de professores e acompanhamento técnico pedagógico a alguns Centros de Educação Especial que existiam “residualmente” antes da Revolução.
Nos anos 80, a política de Educação Especial criou algumas Equipas de Educação Especial, com professores especializados que deveriam garantir apoio à integração de crianças com deficiências sensoriais e motoras em grandes áreas geográficas e passou a integrar muitas acções promovidas por pais e por profissionais generalistas comprometidos com a mudança social. Um pouco por todo o país surgiam grupos que, em nome da luta contra a segregação social ou a favor da educação especial, criavam respostas sócio-educativas para as crianças discriminadas por diferenças de desenvolvimento e/ou comportamento. Entre estas respostas estavam o Movimento/Experiência de Águeda, as Cooperativas de Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas,(CERCI’s) e os Centros de Paralisia Cerebral. Pouco a pouco, estas respostas foram integradas oficialmente numa rede ou conjunto de serviços que deveriam responder, em nome do Estado, pela integração daquela população.
A tomada de consciência coletiva da diversidade de respostas emergentes, reconhecidas no campo das políticas educativas designadas como “Educação Especial”, teve dois momentos fortes: o Congresso de Educação Especial, em Lisboa em 1979 e o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência.
O reconhecimento mútuo de propostas diferentes e por vezes antagónicas para esta problemática social, abriu espaço para um debate alargado de ideias sobre a integração, entendida por uns como meio e por outros como objectivo de práticas de educação especial apoiados em sistemas de categorização de “incapacidades” e/ou “inadaptações”, entendidas como barreiras à integração social.
Este debate aberto de ideias sobre as diversas formas de promover o direito à educação das crianças e jovens com deficiência foi bastante facilitado pela acção de alguns Atores-Chave na análise de necessidades e provisão do atendimento a crianças e jovens portadores de deficiência. De entre estes destacamos a Chefe de Divisão do Ensino Especial e o Director do Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra que representavam para os pais e profissionais a criação pelo Estado de oportunidades educativas e o acesso ao diagnóstico, encaminhamento e apoio às crianças e famílias nas Comunidades.
O papel de ambos foi fundamental para alimentar o diálogo entre actores locais que estavam igualmente comprometidos na reinvenção de espaços de inclusão das crianças, excluídas como “diferentes” no interior das suas comunidades. A grande proximidade que cada um mantinha com os atores que dinamizaram cada tipo de resposta local, permitiu que o enquadramento jurídico-administrativo e a dotação de recursos humanos, logísticos e financeiros não pusesse em causa nenhuma das acções em curso, assegurando antes a organização local de respostas diferentes que deveriam ser pensadas em conjunto, em grupos ou equipas locais constituídas como co-responsáveis por desenvolverem recursos e redes de suporte comunitário às famílias e escolas.
A tradução da mudança social na língua e cultura da Educação Especial oficializada
Para compreender como, em Portugal, a Educação Especial foi sendo construída como Educação Integrada até poder reclamar a Escola Inclusiva, nos parece fundamental considerar que na sua raiz está o drama e o empenho de pais que foram capazes de sensibilizar e comprometer profissionais da sua comunidade na “causa” dos seus filhos privados do direito à educação, protecção e inserção social. Não se pode ignorar também que estes mesmos profissionais eram, na sua maioria, generalistas mas também militantes na mudança das condições de vida das populações e como tal estavam predispostos a considerar perspectivas de acção alternativa àquelas em que e para que foram formados no regime político deposto.
Por outro lado, parece importante considerar também que, principalmente os especialistas que estiveram envolvidos desde o início na mobilização dos pais e das comunidades locais, partilhavam com os seus parceiros generalistas o pressuposto de que “o que” estava em causa, nos casos que analisavam, não eram apenas barreiras - físicas, afectivas, cognitivas - colocadas pela deficiência. O ambiente social que se vivia naquele momento dava muita visibilidade e voz à questão da igualdade de direitos sociais. A questão das barreiras não era entendida como construção unilateral mas como construção histórica e social da desigualdade e da separação entre indivíduos e grupos sociais.
Deste ponto de vista, as barreiras eram vistas como problema não apenas individual mas social, que incluía o modo como as famílias, as escolas e as comunidades se relacionavam com as pessoas portadoras de deficiência. O olhar e o discurso que mediava o diálogo dos especialistas com os pais e com outros agentes da comunidade, era influenciado no sentido de relativizar o que seria o alvo da sua atenção e actuação - a anormalidade de características ou funções ou o desvio de padrões convencionados de desenvolvimento, funcionamento, etc.. Como o neuropediatra que atrás referimos como actor-chave destas mudanças:
“ Nessa altura os técnicos eram menos, havia poucos e nós suprimíamos um pouco todo protocolo. A maior parte das crianças que observávamos precisavam era de apoio educacional. Passada a fase de diagnóstico, precisavam era de intervenção educativa de modo que o papel do técnico diferenciado era na fase do diagnóstico, depois a intervenção era local. Os planos individuais eram realizados pelos pais em casa; eram feitos em caderninhos que os pais levavam para casa para registar o que a criança fazia e que levavam algumas indicações para o que fazer para atingir a etapa seguinte. Não era pelo técnico, era pelos pais, eles os traziam escritos e as dúvidas apareciam. Com isto minimizávamos a deficiência, o problema e dávamos poder. Valorizar o que é bom, era uma filosofia social. Nós tínhamos que estar disponíveis para os pais poderem estar a vontade e haver a possibilidade de fazerem a sua proposta. Havia respeito pelas famílias e pelas Comunidades.
“No pós 25 de Abril, havia um certo poder local; havia Comunidades que estavam a organizar-se e a responder às suas necessidades e preocupações e uma dessas era a criança deficiente…As pessoas estavam mais livres, muito mais conscientes do seu valor pessoal e da sua capacidade…construíam escolas, fizeram estradas, centros de dia e essas coisas tinham, na verdade um cunho diferente. Não se estava a espera do Estado e o próprio Estado achava que as pessoas tinham capacidade de fazer. As soluções eram encontradas localmente” ( Luís Borges; 2001)
Era na confluência deste processo de mudança social que se encontravam também os analistas e decisores de políticas sociais e educativas, e neste caso, da Educação Especial. Era este conjunto de atores e de relações sociais que, embora desigualmente posicionados no interior do Estado e relativamente às comunidades, partilhavam entre si a aspiração de prestar serviços no quadro de um projecto de sociedade que prometia a emancipação colectiva, contra a regulação hierárquica de práticas e discursos que se desejavam novos e reconhecíveis como políticas públicas.
Em 1981 afirmava-se a partir do centro de decisão das políticas de educação especial que em Portugal :
“ existem elementos (de ordem sociológica e cultural) muito positivos que interessa a todo custo preservar…(designadamente) as imensas possibilidades de integração familiar e social que são dadas a tantas crianças e jovens com deficiência, especialmente nos meios rurais e em alguns bairros urbanos, em que a vida Comunitária e a entreajuda constituem realidades quotidianas …e em que escolas e professoras com ajuda pedagógica, ou sem ela, aceitam integram alunos com deficiência …coma intensa participação dos pais na organização das estruturas educativas para os seus filhos” ( Bernard da Costa; 1981).
A seguir aos dois primeiros anos dos anos 80, período que como atrás referimos é reconhecido como fase da normalização, todo este processo de reconstrução social baseada na tomada de consciência dos direitos das pessoas portadoras de deficiência, dos profissionais da base e das comunidades passou a ser traduzido em outras linguagens, que serviam outros modelos de educação e de integração deste grupo social.
Para assumir-se como parceiro de diálogo internacional, Portugal recorreu a peritos de instâncias internacionais como observadores externos num momento em que a Educação Especial estava na agenda de países centrais, como os Estados Unidos e a Inglaterra, com a publicação da PL 94-142 em 1977 e a Educational Act em 1981.
Embora Gulliford (1988) considere que as mudanças no campo da educação especial fossem resultado da acumulação de conhecimentos sobre práticas de diferenciação de métodos de ensino e de aprendizagem segundo diferentes tipos de deficiência, da descoberta da natureza das deficiências, das estratégias de ensino, do currículo e da implicação dos educadores de ensino especial em acções destinadas a crianças de idade pré-escolar e de jovens em idade pós escolar, outros autores analisam estas mudanças como resultado de tensões e contradições sociais que tornaram problemático o encaminhamento das crianças e jovens para meios restritivos.
Os argumentos que põem a tónica na mudança de filosofia social, referem que foram os estudos do comportamento e da aprendizagem que puseram em causa o investimento social que se restringia a manter as condições adaptativas de sujeitos que poderiam valorizar atingir um funcionamento social autónomo ( Smith e Weisworth;1975). Outros chamam a atenção para os aspectos emocionais, políticos e humanos do “handicapismo” ou seja, a disposição de rotulagem e classificação das pessoas por categorias de deficiência sem qualquer ligação com interesses científicos, educacionais ou administrativos (Heward e Orlansky;1984). Lembram estes autores que já em 1972, afirmava que “ a educação especial muitas vezes foi um processo de exclusão mascarado em processo de recuperação de crianças que causavam dificuldades ao sistema educativo e que eram encaminhadas para uma cadeia de serviços de ensino especial onde permaneciam o resto das suas vidas”.
Embora Portugal reconheça muitas das suas razões e motivos de mudança nesta discussão sobre os efeitos da categorização e encaminhamento das crianças, o certo é que as raízes e trajectória históricas, as condições materiais e o contexto social que configurava este debate eram bastante diferentes.
“ a Educação Especial não chegou, entre nós, a ser afetada por determinados problemas que se puseram ou podem encontrar em países mais desenvolvidos e que consistem no exagerado tecnicismo com que a criança com deficiência foi encarada, levando a uma excessiva discriminação por categorias e a interferência de inúmeros profissionais no seu processo educativo..” ( Bernard da Costa; 1981)
Um elemento importante a considerar é que naqueles países, o problema da educação em regime de integração ou segregação, era debatido em torno do currículo e aos meios de acesso ao mesmo. Em Portugal este debate sobre o “que” educativo era muito precoce se não mesmo ausente ainda, porque os educadores tinham sido socializados no interior de um sistema educativo altamente centralizado, em que a reprodução social e ideológica era assegurada exactamente através da uniformização do currículo oficial e da regulação da sua aplicação local.
A orientação pedagógica que propunha a elaboração e contratualização de Planos e Programas Educativos individuais, estruturados por áreas desenvolvimentais e de competências avaliadas individualmente, parecia tão difícil de implementar como a organização das práticas e dos recursos educativos segundo o modelo conceptual desenvolvido no Warnock Report. Os recursos disponibilizados para o ensino especial não permitiam responder ao número crescente de alunos encaminhados para o ensino especial, por dificuldades de aprendizagem ou de comportamento.
Naquele mesmo período, em outros pontos do sistema educativo a manutenção das taxas de repetência e abandono escolar justificava a afirmação de que “a Escola portuguesa se dirige ao aluno médio idealizado, ignorando deliberadamente os antecedentes, hostilizando se não mesmo punindo as crianças diferentes”( Rau;1981).
Enquanto que num ponto do sistema educativo se discutia a legitimidade dos processos de encaminhamento das crianças para meios que manteriam as crianças separadas da comunidade e com acesso mais ou menos condicionado à confluência da vida comunitária, no outro discutia-se como manter as crianças na escola, cumprindo a obrigação pública de democratização das oportunidades sociais através da educação a todas as crianças.
Esta tensão contraditória foi vivida pelo grupo base do Movimento de Águeda que participou activamente na discussão sobre as implicações do “rótulo” na integração social das crianças como problema moral prático. Defrontava-se também com a situação de marginalidade de algumas crianças que eram mantidas fora escola, até que o atestado de deficiência pudesse requalificá-la como aluno com necessidades educativas especiais.
Em muitos momentos, os profissionais se sentiram pressionados e constrangidos pela exigência de utilização de linguagens, procedimentos e instrumentos pedagógicos e administrativos que obedeciam a um modelo externo que, para mais, dificultava o diálogo com os pais e com outros parceiros habituais da comunidade.
Para manter a dinâmica integrada e integradora de actores e acções que respondiam aos problemas das crianças, das suas famílias e das escolas, o grupo base teve que resolver muitas contradições resultantes da sua inserção no subsistema de educação especial, enquanto parte de um sistema educativo que se ia definindo por pareceres e políticas internacionais.
A Construção de espaços de reconhecimento entre grupos subordinados
Em 1985 o grupo confrontou-se com a necessidade de suportar algumas contradições com a sua própria filosofia de intervenção para poder responder a mais de 200 crianças que, estavam sinalizadas para apoio da Educação Especial. As dificuldades de ensino da maioria destas crianças eram atribuídas a possíveis disfunções psicológicas das mesmas. O que era pedido ao grupo do movimento era que traduzisse como problema individual o que reflectia a dificuldade que os professores sentiam em manter todas as crianças implicadas em aprendizagens que deveriam ocorrer ao mesmo ritmo e com os mesmos conteúdos e que se impunham pela exigência de cumprimento estrito de regras por todo o grupo e por todos os grupos da escola. Caso contraries, estas crianças, que pertenciam maioritariamente a famílias que ocupavam as piores posições sociais na comunidade e que tinham menores condições de vida e de acesso às oportunidades que a escola se propunha a oferecer a todos, seriam privadas do direito à educação pelo grupo havia lutado na década anterior.
Em 1986, um estudo desenvolvido pelo grupo sobre as causas da mortalidade infantil em Águeda, denunciava o isolamento e o abandono em que viviam as famílias destas crianças, que sustentavam as taxas de mortalidade, de morbilidade infantil e de risco social a descoberto dos serviços da Comunidade.
Assim, entre 1982 e 1989 o grupo arriscou construir uma relação diferente com as cerca de 500 crianças que viviam situações difíceis e prolongadas de insucesso e absentismo escolar. Para evitar atestar como deficiências o que eram dificuldades dos professores e da escola e necessidades de atenção e de ensino das crianças, os educadores mais implicados com o movimento começaram a trabalhar com estas crianças fora do tempo da escola.
Estes educadores usavam o seu tempo e recursos de intervenção para reunir e descobrir com estas crianças, como ajudar outras que ficavam sozinhas a trabalhar e a cuidar dos irmãos mais novos em casa ou na rua. A ideia de criação de grupos de amigos e de soluções para as barreiras que os impediam de aprender na escola o que queriam saber para participar na comunidade, foi sendo comunicada, criança a criança, através do diálogo ocasional com as que eram reconhecidas na escola, por dificuldades em fazer amigos ou em aprender.
Os educadores da Equipa de Educação Especial passaram a marcar encontros e a desenvolver actividades cada vez mais sistemáticas, mas procurando apreender o que para elas era mais significativo do ponto de vista dos grupos que se iam constituindo a cada semana. Ocupando lugares descobertos por elas ou com elas, nas suas comunidades, os educadores foram ajustando as suas estratégias às condições de casas velhas abandonadas, de coretos das festas e também de átrios das escolas, de salas de espera dos centros de saúde ou de salões das Juntas de Freguesia.
A actividade de muitos destes grupos consistia na preparação conjunta de refeições para as crianças que ficavam sozinhas com os irmãos menores, na organização de festas e encontros com outros grupos. Alguns aproveitavam o material de desperdício das fábricas onde os pais trabalhavam e transformavam este material em recursos para a angariação de fundos para fazer melhorias na sala onde reuniam ou ainda para concretizar algumas actividades. A dinâmica e a inserção destes grupos na confluência da vida comunitária, criou condições para o envolvimento dos pais e de outros actores locais que não faziam parte dos notáveis do lugar.
Mais uma vez foi importante a visibilidade deste trabalho, construída por estudos universitários e por seminários e encontros locais.. Criou-se, assim, uma outra base social que abriu espaço para o reconhecimento social local dos grupos e para a negociação de recursos e de possibilidades de enquadramento jurídico, administrativo e social da acção que se ia consolidando como trabalho social. Em 1993 estes grupos deram origem a nove novas associações que passaram a garantir atendimento à infância, com prioridade a crianças e famílias em desvantagem e às zonas mais desfavorecidas do Concelho. Os educadores destas instituições estão hoje organizados numa rede que inclui muitos outros Centros sociais infantis e profissionais de serviços de Saúde preocupados com assegurar a atenção e apoio a todas as crianças do Município.
Quando analisamos o percurso e a narrativa da intervenção do Grupo de Águeda, podemos apreender o quanto foi importante a oficialização da sua acção pela criação da Equipa de Educação Especial. No entanto, esta inserção teve custos. À medida em que se integraram como agentes do sistema educativo, que nos anos 80 entrou no período de normalização, a sua acção se foi tornando permeável a discursos que sugeriam práticas que, por sua vez , requeriam um modo de pensamento e também recursos que o Estado Providência não podia prover em Portugal.
A recusa de situar as causas das dificuldades escolares adentro de crianças, tornou-se um problema difícil de resolver entre subsistemas que dividiam entre si a responsabilidade pela educação de crianças portadoras de deficiência, crianças portadoras de necessidades educativas especiais e de “todas as crianças”. Por outro lado, a própria linguagem e os procedimentos de que dependia a possibilidade de mobilização de cada tipo de serviço ou dos recursos de apoio sócio-educativo, tornavam ainda mais visíveis e pronunciáveis as “diferenças” das crianças que a comunidade, as escolas e por vezes as próprias famílias, rejeitavam e sancionavam negativamente, como obstáculos a integração. À medida em que os programas educativos individuais passaram a ser construídos segundo a lógica de uniformização de procedimentos e de critérios de avaliação, o Grupo foi sendo confrontado com uma série de contradições por si resolvidas e foi mantendo a consciência de que corria alguns riscos.
O que a narrativa do Grupo de Águeda nos dá conta é de que, estando embora consciente dos riscos inerentes à criação de espaços de inclusão para os grupos que a comunidade designa como excluídos para os integrar como seus, esta foi a solução encontrada para fazer face ao efeito de muitas outras relações que se definiam em outros espaços estruturais relativamente dependentes do sistema económico e das relações inter-Estados.
Num momento em que a retórica social se socorre do conceito de Escola Inclusiva para ocultar a desigualdade estrutural que se traduz em desigualdades de oportunidades entre crianças na escola e em que se encaminham as crianças para serviços sociais e educativos periféricos ao sistema educativo, enquanto se investe na “excelência acadêmica” ou no ensino de competências que visam a concorrência no mundo laboral, importa tomar aqui as palavras de uma pessoa cuja trajectória incorpora toda a luta entre progressos e retrocessos no modo como a sociedade portuguesa investe a educação das pessoas portadoras de deficiência:
“ o que não é possível é aceitar uma educação inclusiva que não contemple as características fundamentais que a caracterizam: a escola para todos; que não rejeite nenhuma criança da sua área de intervenção; que não se assuma como primeiro passo para a inclusão social; que não olhe a diversidade de barreiras que se podem opor à participação na aprendizagem e sobre as formas de as poder superar; sem o enquadramento de todas as crianças num grupo heterogéneo e, em simultâneo, um atendimento à especificidade de cada uma; sem o reconhecimento de que o centro da intervenção pedagógica se situa na escola e nas estratégias de sala de aula e que não é possível relegar alunos para outros sectores tal como o sector social” ( Bernard da Costa; 2004).
O que este grupo encontrou, através da exploração das margens de liberdade e de autonomia procuradas no entendimento das contradições assumidas, partilhadas e enfrentadas na relação com múltiplos atores sociais, posicionados em diferentes escalas de ação social da Comunidade e do Estado, foi a possibilidade de transformar, crítica e efectivamente, os recursos que eram providos para a Educação Especial, em contextos sociais animados por subjectividades individuais e colectivas que tornaram a Educação Especialmente Inclusiva. Inclusiva das inúmeras diferenças que enriquecem a possibilidade de nos construirmos como Comunidade humana, contra o risco de mercadorização da vida!
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Entrevista a Luís Melo Borges de Castro realizada por Maria José Tovar; 2001
Carta de Ana Maria Bernard da Costa, em resposta a entrevista à Secretária de “Estado da Educação ao Jornal de Letras ; 2003.
1 Bela Vista era o nome deste Jardim-de-infância, que foi sendo desenvolvido como Centro de Educação Integrada, um pouco na continuidade da integração de algumas crianças com atrasos graves iniciada num pequeno espaço para a infância numa das localidades do Município.
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